Estranho país surrealista | Por Luiz Holanda

Perfil dos eleitores brasileiros entre direita esquerda e centro.

Segundo pesquisa Datafolha, 34% do eleitorado brasileiro se define como sendo de direita, 17% de centro e 49% de esquerda. Mesmo assim, poucos são os que sabem o significado de cada uma delas. Para alguns, ser contra o PT significa ser de direita. Os que não são contra nem a favor são do centro. Ser de direita significa ter um posicionamento mais conservador em relação aos aspectos políticos e sociais, atuar de acordo com os valores religiosos e viver segundo os costumes tradicionais. Em outras palavras, é dizer não ao modismo da sociedade moderna.

Quanto ao poder do Estado, o centro defende que este não deve invadir a área de responsabilidade dos cidadãos e das empresas, devendo estas atuarem dentro de um mercado livre e sem intervenção estatal. Já a esquerda, (também conhecida como jacobina), defende uma economia estatal e constante mudanças na sociedade, com predominância dos interesses coletivos.

Os posicionamentos políticos intermediários são organizados em uma escala que abrange a extrema-esquerda, centro-esquerda, centro-direita e extrema-direita. Numa democracia esses setores são representados pelos partidos políticos, que se classificam como conservadores, democratas, liberais, socialistas, comunistas, social-democratas e ambientalistas. Existe ainda uma vertente chamada de esquerda liberal, que defende os posicionamentos da esquerda e alguns princípios do liberalismo, que é um ideal visto como de direta.

Outros elementos determinantes para a classificação dos partidos como de esquerda, de direita, do centro, centro-esquerda e centro-direita é que os integrantes da direita condenam o aborto, negam a causa gay, defendem o porte generalizado de arma, a pena de morte e a castração química. São contra as políticas assistenciais (cotas) e têm Deus como o centro de tudo. Levam sempre em conta a ideologia. Os da esquerda defendem o aborto, a causa gay, a política de gênero e são contra o porte generalizado de arma e a pena de morte. São a favor das cotas e não têm a religião como um valor fundamental. O problema é que, no Brasil, os partidos políticos não representam nem defendem os posicionamentos de cada setor, mas sim estratégias e interesses visando o poder e a manutenção da gorda fatura do Fundo Partidário.

Somos o único país do mundo onde há carreata em plena crise de saúde mundial; onde se nomeia para ocupar o cargo de Ministra do Trabalho uma pessoa condenada a pagar uma indenização de R$ 60 mil por desobedecer às leis trabalhistas e manter um empregado com jornada de até 12 horas diárias, sem carteira assinada. Como é que se pode exigir o cumprimento das leis trabalhistas para essa ministra se ela própria jamais as cumpriu?

Dizem que o filósofo Jean Paul Sartre, quando aqui esteve, na década de 1960, expressou a seguinte impressão sobre o Brasil:  “estranho país surrealista”. O interessante é que essa percepção permanece até hoje.

*Luiz Holanda é advogado e professor universitário.


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