Grandes concentrações urbanas brasileiras | Por Fernando Nogueira da Costa

Tabela apresenta dados de 2010 a 2022 do IBGE sobre população de 14 municípios brasileiros.
Tabela apresenta dados de 2010 a 2022 do IBGE sobre população de 14 municípios brasileiros.

O fenômeno da redução da população, antes restrito aos municípios pequenos, passou a ser mais observado entre os municípios maiores. Entre os 319 maiores municípios do Brasil, acima de 100 mil habitantes, 39 municípios apresentaram diminuição populacional na comparação entre os Censos de 2022 e 2010. Entres os Censos de 2010 e 2000, somente 4 municípios (Ilhéus, Foz do Iguaçu, Lages e Uruguaiana) do grupo dos maiores de 100 mil habitantes apresentaram diminuição populacional.

Dentro os 39 municípios, destaque para algumas capitais de Estado com redução de população, algo inédito dentro dos censos demográficos recentes. Entre elas, o destaque foi a taxa média geométrica de crescimento anual da população residente de 2010 a 2022 em Salvador (-0,84%), só ficando abaixo da queda de São Gonçalo (-0,90%) entre os Municípios de mais de 100 mil habitantes. Entre as capitais diminuíram também, expressivamente, os habitantes de Belém (-0,55%) e Porto Alegre (-0,47%).

Quanto a isso, é necessário analisar o fenômeno de 61,1% da população total residir em Concentrações Urbanas. Foram 124,1 milhões de pessoas em 2022, correspondente a um aumento populacional bruto de 9,2 milhões em relação a 2010, quando nelas residiam quase 115 milhões de habitantes.

O aumento populacional nas Concentrações Urbanas foi equivalente a 74,5% do incremento de população residente do país entre 2010 e 2022. Logo, foi o maior fator explicativo da mudança populacional, absorvendo contingentes populacionais e expandindo-se, numericamente (185), no território.

As concentrações de grande porte, na faixa de população, acima de 750 mil habitantes, são em menor número (28). A maior presença das Concentrações Urbanas ocorre ao longo do litoral, sendo resultado do povoamento desde o passado colonial.

As 11 maiores Concentrações Urbanas detêm uma participação relativa da população de 51,1% da população residente nestes recortes geográficos. Destacam-se São Paulo com 16,7% (20,7 milhões), Rio de Janeiro com 9,5% (11,8 milhões), Belo Horizonte com 4% (5 milhões). Nesta listagem, a concentração em torno de Salvador possui 3,3 milhões pessoas e, além das três citadas, há outras cinco maiores: Brasília (3,9 milhões), Recife (3,8 milhões), Porto Alegre (3,7 milhões), Fortaleza (3,4 milhões) e Curitiba (3,4 milhões).

Abaixo, na ordem, a 10ª concentração encontra-se em Goiânia (2,5 milhões) e a 11ª na Grande Campinas (2,1 milhões). No Sudeste, adensam-se bem mais as Concentrações Urbanas, quando comparadas às do restante do país: Rio de Janeiro/RJ corresponde a 73,3% da população do Estado (16 milhões habitantes), São Paulo/SP representa 46,6% da população do Estado (44,4 milhões), e Belo Horizonte/MG participa com 24,2% do total de Minas Gerais (20,5 milhões).

A dinâmica espacial da população do Brasil no período 2010-2022 indica um padrão nacional generalizado de perdas e ganhos de população. Revela, por exemplo, a geografia de grandes manchas de crescimento da população constituídas pelos Municípios em torno da capital paulista, da capital catarinense e do litoral desse Estado, além daquelas em torno das capitais nordestinas.

Quanto ao maior crescimento absoluto da população no período intercensitário de 2010-2022, os resultados do Censo Demográfico 2022 revelam a interiorização da população brasileira nesse período. Destacaram-se, numericamente, Municípios localizados tanto no Norte, como no Centro-Oeste, em seguida àqueles situados no Sudeste e na faixa contínua entre o litoral catarinense e o entorno de Curitiba no Sul.

Em Estados de grande dimensão espacial, as perdas ocorridas na população municipal ficam muito evidentes quando contrastadas com o crescimento populacional ocorrido nos Municípios componentes das Concentrações Urbanas das capitais estaduais.

A dinâmica espacial da população brasileira no período 2010-2022 aponta para uma tendência de um padrão geográfico de maior crescimento de médias Concentrações Urbanas e de perda de dinâmica demográfica das grandes Concentrações. Pela primeira vez, quatro destas grandes Concentrações tiveram crescimento demográfico negativo: Rio de Janeiro, Salvador, Belém e Porto Alegre. Cada qual pertence a distintas Grandes Regiões.

Um indicador da gravitação em torno das grandes Concentrações Urbanas brasileiras encontra-se na tabela, onde se registra o percentual da população da cidade central diante da região metropolitana. A ordem de grandeza da população residente dos 14 maiores Municípios brasileiros não corresponde exatamente à ordem das 14 maiores Concentrações Urbanas, ou seja, os processos de conurbação são distintos.

Exceto os dois primeiros (São Paulo e Rio de Janeiro), os demais se deslocam. Belo Horizonte é o sexto município e seu entorno o coloca como centro da terceira maior região metropolitana. Respectivamente, Recife sai do 9º município para 5ª concentração urbana, Porto Alegre de 11º para 6ª, Campinas de 14º para 11ª. Curitiba se mantém na posição (8ª) nos dois rankings, assim como Goiânia (10ª).

Os demais perdem posição no ranking de Concentrações Urbanas:  Brasília (de 3º para 4º), Fortaleza (de 4º para 7º), Salvador (de 5º para 9º), Manaus (de 7º para 12º), Belém (de 12º para 14º).

Outro destaque é Belo Horizonte (47%), Recife (39%) e Porto Alegre (36%) terem menos da metade da população residente em toda a região metropolitana.

As conurbações e as megalópoles são termos utilizados para descrever regiões urbanas altamente desenvolvidas e densamente povoadas. Embora haja alguma sobreposição entre os conceitos, eles têm diferenças sutis em termos de escala e características.

Uma conurbação refere-se a um fenômeno de crescimento urbano no qual cidades adjacentes crescem tanto a ponto de suas áreas urbanas se unirem, formando uma única área contínua de desenvolvimento urbano. As cidades individuais ainda podem ser identificadas, embora compartilhem uma fronteira comum ou apresentem áreas urbanas sobrepostas.

As cidades dentro de uma conurbação geralmente mantêm alguma independência administrativa e identidade local. Um exemplo de conurbação é a região metropolitana do Rio de Janeiro, a qual inclui várias cidades, como Rio de Janeiro, Niterói, São Gonçalo e Duque de Caxias, todas localizadas na mesma área geográfica. A Grande BH reúne 23 municípios em torno de Belo Horizonte.

Uma megalópole é uma vasta área urbana consistente em várias cidades e seus subúrbios próximos, fundidas e formando uma única área metropolitana contínua. Geralmente, uma megalópole é formada pela união de várias cidades de grande porte e centros urbanos menores expandidos e se conectados ao longo do tempo.

Por exemplo, São Paulo não formará uma área urbana contínua com a Baixada Santista por razão geográfica (Serra do Mar), mas possivelmente com um trem-bala formaria uma com Campinas a 100 km.

Em resumo, a principal diferença entre conurbações e megalópoles é a natureza e o grau de fusão das cidades e áreas urbanas envolvidas. Enquanto as conurbações são marcadas por uma sobreposição e interligação de áreas urbanas adjacentes, mas com cidades ainda distintas e identificáveis, as megalópoles são caracterizadas por uma fusão completa e contínua de cidades em uma única área metropolitana. Quem viver, verá

*Professor Titular do IE-UNICAMP. Obras (Quase) Completas em livros digitais para download gratuito em http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/). E-mail: fernandonogueiracosta@gmail.com.

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Sobre Juarez Duarte Bomfim 726 artigos
Baiano de Salvador, Juarez Duarte Bomfim é sociólogo e mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em Geografia Humana pela Universidade de Salamanca, Espanha; e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Tem trabalhos publicados no campo da Sociologia, Ciência Política, Teoria das Organizações e Geografia Humana. Diversas outras publicações também sobre religiosidade e espiritualidade. Suas aventuras poético-literárias são divulgadas no Blog abrigado no Jornal Grande Bahia. E-mail para contato: juarezbomfim@uol.com.br.

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