Ponto de vista: É imperioso que dê certo (Parte 3, final) | Por Joaci Góes 

Infográfico com dados do Censo Escolar 2019.
Infográfico com dados do Censo Escolar 2019.

Aos amigos e sobrinhos Cláudia e Cláudio Melo Filho!

A criança destituída de berço promotor do seu desenvolvimento não pode perder a oportunidade de ter uma escola de qualidade, última possibilidade de salvar do naufrágio sua cidadania. É por isso que apenas um quarto dos alunos pobres que ingressam no ensino fundamental chega ao curso médio. Os demais, 75%, ficam no meio do caminho. E do total do alunado pobre, apenas 1% conclui o ensino universitário público, o que significa que, do modo como as coisas vão, será cada vez maior o já iníquo quadro das desigualdades interpessoais.

O salto de qualidade obtido pelo município de Sobral, no Ceará, é consequência direta dos cuidados dispensados ao alunado das primeiras séries, entre eles os piores alunos a quem foram destinados bons professores, com prêmios de performance, tão estigmatizados pelo sindicalismo do atraso. Os alunos do município, submetidos pelo governo federal à Prova Brasil, avançaram em matemática de 170 para 270, alcançando um crescimento de 59% em seis anos, enquanto os alunos do município de São Paulo, que custam quase o dobro dos cearenses, chegaram a 197 pontos, quase 40% abaixo deles. Observe-se que enquanto os alunos de Sobral custaram, em média, R$3.100,00 ao ano, os de São Paulo chegaram a R$6.000,00!

O ensino privado brasileiro é melhor do que o público, apesar do mais baixo ganho do magistério privado, contrariamente ao que se imagina. O fato que mascara o reconhecimento da superioridade do ensino universitário privado sobre o público reside na maior qualidade dos alunos que conseguem ingressar na concorrida rede pública. É o rigor no cumprimento dos deveres escolares que faz a diferença na qualidade do ensino, em todos os lugares do mundo.

Nossa educação elitista criou o ensino superior antes mesmo de termos uma rede pública de ensino fundamental. Priorizamos os andares superiores do edifício educacional brasileiro, descuidando das fundações e da estrutura, receita certa para o trágico desmoronamento traduzido nas ingentes desigualdades nacionais.

Para que o anunciado propósito do Governo Federal, de melhorar a educação brasileira, dê certo, é indispensável corrigir os males que afetam o nosso ensino público, entre os quais avultam:

  • Despreparo dos professores para a realidade da sala de aula;
  • Baixa remuneração paga aos professores do ensino público básico, além da falta de um sistema meritocrático que beneficie os profissionais mais eficientes;
  • Ausência de um sistema de aperfeiçoamento continuado do magistério;
  • Baixa participação dos pais na atividade acadêmica dos filhos;
  • Professores sem formação adequada, sobretudo nas regiões mais pobres;
  • Métodos de ensino ultrapassados;
  • Inadequação entre os diferentes níveis de ensino, infantil, fundamental e médio;
  • Grade escolar destituída de atrativos ou desvinculada da realidade;
  • Altos índices de repetência e de abandono da sala de aula, sobretudo, por problemas financeiros;
  • Baixa permanência, quatro horas diárias, dos alunos na escola;
  • Excessiva burocratização do sistema escolar;
  • Insuficiente investimento para atender, com qualidade, as demandas do ensino; e
  • Estrutura física deficiente, sobretudo nas regiões mais carentes, onde milhares de escolas não dispõem, sequer, de água encanada.

Enquanto o Brasil tem menos de 10% dos jovens no ensino profissionalizante, nos países desenvolvidos esse percentual, oscilante entre 30 e 70%, é, em média, de 42%, chegando a 52% na Alemanha e a 55% no Japão. Um dos nossos males maiores é destinar o ensino médio ao preparo para o ingresso na universidade, quando melhor seria prepararmos o alunado para o trabalho. Os verdadeiramente dotados de interesse sabem encontrar os caminhos para ingressar no ensino superior.

A legislação brasileira representa lamentável entrave ao encaminhamento, na vida profissional, de jovens egressos das classes humildes. É o populismo aprofundando e perpetuando desigualdades. Em lugar da segurança do ambiente de trabalho, a demagogia hipócrita prefere manter nossa juventude exposta ao desemprego e ao múltiplo risco de nossas ruas.

Só educação de qualidade pode salvar o Brasil do naufrágio.

*Joaci Góes, advogado, jornalista, empresário, ex-deputado federal constituinte e presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IGHB).


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