No coração da Galeria do Museo Nacional de Belas Artes da Argentina, em Buenos Airies, entre as mais notáveis obras de arte, encontra-se uma escultura que evoca a essência da condição humana. “O primeiro funeral”, uma obra de 1883 do renomado escultor Luís Ernesto Barrias, é uma peça que transcende o tempo e a narrativa bíblica que a inspirou.
A escultura de mármore, que mede impressionantes 220 x 135 x 110 centímetros, apresenta uma cena que todos os seres humanos ao longo da história compartilham em comum: a perda de um ente querido. Adão e Eva, os primeiros seres humanos segundo a tradição judaico-cristã, carregam o corpo inerte de seu filho Abel, vítima do ciúme assassino de seu irmão Caim. A obra, que foi premiada com a Medalha de Honra no Salão de 1878, foi descrita na época como “a manifestação máxima dos sentimentos que a escultura pode expressar”.
A escultura, que carrega a assinatura do artista e o ano de criação, é uma verdadeira síntese das tendências artísticas da época. Luís Ernesto Barrias, embora tenha se inspirado em mestres do passado, como Michelangelo e Bernini, teceu uma narrativa que transcende o mero relato bíblico. A cena do luto é ambientada em uma Pré-história imaginária, sugerida por uma pederneira esculpida, que nos transporta a tempos antigos e míticos.
Barrias criou uma composição piramidal escalonada, que reforça as relações entre os corpos de Adão, Eva e Abel. Adão é retratado com um rosto feroz, traços gauleses e uma expressão de dor profunda, aludindo à brutalidade dos primeiros tempos da humanidade. Em contrapartida, os corpos de Eva e Abel são mais suaves, baseando-se em modelos antigos reinterpretados pelo Renascimento.
Essa escultura é uma representação da primeira experiência da humanidade com a morte, e Luís Ernesto Barrias foi capaz de capturar as complexas emoções do luto, da tristeza à raiva, do amor à perda, em uma obra de arte singular.
Com “O primeiro funeral”, o escultor realizou uma brilhante síntese das correntes neoclássica, romântica e realista, demonstrando sua genialidade artística.
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