O surpreendente crescimento dos estabelecimentos religiosos no Brasil com domínio Pentecostal e Neopentecostal

Estudo do Ipea revela que mais da metade dos estabelecimentos religiosos no Brasil são de vertentes evangélicas pentecostais e neopentecostais, apontando para uma expansão notável nas últimas duas décadas.
Estudo do Ipea revela que mais da metade dos estabelecimentos religiosos no Brasil são de vertentes evangélicas pentecostais e neopentecostais, apontando para uma expansão notável nas últimas duas décadas.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela panorama surpreendente do crescimento dos estabelecimentos religiosos no Brasil ao longo das últimas duas décadas. Publicado no dia 7 de dezembro de 2023 (quinta-feira), a levantamento destaca que, dos 124.529 estabelecimentos existentes no país em 2021, 52% são de natureza evangélica pentecostal ou neopentecostal, liderando as estatísticas. Em contraste, 19% são evangélicos tradicionais, e 11% são de fé católica. A Assembleia de Deus, entre os evangélicos pentecostais, é a que detém o maior número de estabelecimentos, totalizando 14%.

O estudo, intitulado “Crescimento dos Estabelecimentos Evangélicos no Brasil nas Últimas Décadas”, é de autoria de Fernanda De Negri, diretora de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação e Infraestrutura (Diset) do IPEA, Weverthon Machado, pesquisador de pós-doutorado na Utrecht University, e Eric Jardim Cavalcante, pesquisador bolsista na Diset.

Ampliação nos grandes centros urbanos e interiorização do protestantismo 

A nota técnica, intitulada “Crescimento dos Estabelecimentos Evangélicos no Brasil nas Últimas Décadas”, revela não apenas um aumento em números absolutos, mas também uma expansão geográfica significativa em todo o território nacional. Os pesquisadores, Fernanda De Negri, Weverthon Machado e Eric Jardim Cavalcante, ressaltam que esse avanço é particularmente notável no interior do país, representando uma mudança marcante em relação ao crescimento anterior concentrado nas grandes cidades.

O estudo mostra que o crescimento dos estabelecimentos evangélicos no Brasil acompanha uma tendência mundial de expansão do protestantismo, especialmente nas regiões mais pobres e desfavorecidas do planeta. Segundo o estudo, as igrejas evangélicas oferecem uma mensagem de esperança, de salvação e de transformação social, que atrai as pessoas que sofrem com as desigualdades, as injustiças e as violências. Além disso, as igrejas evangélicas se adaptam às demandas e às necessidades das comunidades locais, oferecendo serviços sociais, educacionais, culturais e de lazer, que muitas vezes são escassos ou inexistentes.

A pesquisa revela uma notável disseminação geográfica dos estabelecimentos evangélicos pelo território brasileiro, indicando uma interiorização das instituições religiosas. Segundo o estudo, as regiões mais populosas e urbanizadas, como o Sudeste e o Sul, apresentaram um crescimento menor dos estabelecimentos evangélicos do que as regiões menos populosas e urbanizadas, como o Norte e o Nordeste. Isso se deve ao fato de que as regiões mais desenvolvidas já possuem uma estrutura religiosa mais consolidada e diversificada, enquanto as regiões menos desenvolvidas ainda apresentam um potencial de crescimento maior.

“Houve um processo muito intenso de interiorização desses estabelecimentos no país ao longo dos últimos anos”, conclui Fernanda De Negri.

Os principais dados do estudo sobre “Crescimento dos Estabelecimentos Evangélicos no Brasil nas Últimas Décadas”

O estudo informa que em 2000, aproximadamente 15,4% da população brasileira se identificava como evangélica, um número que subiu para cerca de 22,2% em 2010, conforme dados do IBGE. A pesquisa atribui esse aumento à migração para áreas urbanas, onde a oferta de igrejas e eventos religiosos é mais ampla, além de mudanças sociais e econômicas como a urbanização acelerada e as desigualdades socioeconômicas.

O Brasil registrou aumento de 124.529 estabelecimentos religiosos entre 2000 e 2021. Desse total, 52% são igrejas evangélicas pentecostais ou neopentecostais, que se caracterizam por uma ênfase na experiência pessoal com Deus, na manifestação de dons espirituais e na prosperidade material.

Os evangélicos tradicionais, que seguem uma linha mais histórica e doutrinária, representam 19% dos estabelecimentos religiosos, enquanto os católicos, que ainda são a maioria da população brasileira, representam apenas 11%.

Entre as igrejas evangélicas pentecostais, a Assembleia de Deus é a que possui o maior número de estabelecimentos, com 14% do total, seguida pela Igreja Universal do Reino de Deus, com 6%, e pela Igreja do Evangelho Quadrangular, com 4%.

Entre as igrejas evangélicas neopentecostais, que surgiram a partir da década de 1980 e incorporaram elementos da cultura brasileira, como a música, a dança e a teologia da libertação, destacam-se a Igreja Mundial do Poder de Deus, com 3%, e a Igreja Internacional da Graça de Deus, com 2%.

Apenas 8% dos estabelecimentos religiosos não puderam ser identificados, pois se tratam de associações comunitárias, beneficentes ou educacionais, que não têm uma denominação específica.

Mudança qualitativa, que afeta a cultura, a política, a economia e a sociedade brasileiras

O estudo conclui que o fenômeno evangélico no Brasil não é apenas um crescimento numérico, mas também uma mudança qualitativa, que afeta a cultura, a política, a economia e a sociedade brasileiras. O estudo ressalta a importância de se compreender e respeitar a diversidade religiosa no país, bem como de se promover o diálogo e a cooperação entre as diferentes expressões de fé.

Em síntese, a pesquisa sugere que o fenômeno evangélico no Brasil não é apenas um crescimento exponencial, mas também uma notável disseminação geográfica. O levantamento é baseado nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério da Economia, que registra os estabelecimentos que possuem pelo menos um empregado formal, e os classificou de acordo com a sua atividade econômica principal.

*Com informações do IPEA.


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