O Brasil é o país das superstições, onde se acredita em tudo, inclusive em fantasma. Na política, então, esses fantasmas atuam em todos os poderes, com predominância do Executivo, principalmente no Alvorada, residência do presidente da República e de sua família. Cada um em seu setor, os fantasmas assombram pessoas e lugares. Um desses fantasmas é conhecido como O Fantasma do Alvorada, muito comentado nos bastidores de Brasília.
Os ex-presidentes Itamar Franco e Michel Temer já sentiram a presença do fantasma. Temer chegou a mudar de residência por esse motivo. Itamar temia viver no Alvorada porque, segundo os empregados que o serviam, o piano do palácio tocava sozinho à noite. O próprio Itamar, dez anos depois que deixou o governo, afirmou que o Alvorada estava “povoado de fantasmas”. Temer só dormia com tranquilizantes. Teve que voltar para o Jaburu (residência do vice-presidente) para poder dormir em paz.
Agora o fantasma é outro. È econômico, principalmente o desemprego, que atinge milhões de brasileiros e preocupa todos os poderes. Nos últimos dez anos o Brasil ganhou mais de 3 milhões de desempregados só nas duas pontas mais sensíveis do mercado de trabalho: os profissionais acima de 50 anos. Entre os jovens, há um total de mais de dez milhões nas faixas de 14 a 29 anos sem perspectiva de emprego. Muitos vão para o empreendedorismo. Juntas, essas duas gerações são as que mais têm dificuldade para conseguir emprego. O que sobra para uma falta para a outra.
Entre os jovens, que são mais entendidos em tecnologia, as empresas alegam falta experiência. Os mais velhos, mesmo com experiência, sofrem com o preconceito em relação ao potencial para acompanhar as inovações do mercado. Segundo estatísticas oficiais, entre os jovens de 18 a 24 anos as taxas caem um pouco, para 22,8%. Entre os mais velhos, esse porcentual é bem menor, em torno de 7%, mas dobrou nos últimos dez anos.
Em 2012, segundo o IDados, o número de desempregados acima de 50 anos era de 508,9 mil pessoas. Hoje, estão na casa de 2,4 milhão. A expectativa é de que esse grupo continue subindo nos próximos anos por causa das mudanças nas regras da Previdência Social. Com o aumento da faixa etária para se aposentar (62 anos para mulheres e 65 para homens), ficar mais tempo no mercado impede mais emprego.
Sem oportunidades, muitos desses trabalhadores vivem na informalidade ou tentam o empreendedorismo. Há também os chamados “nem nem nem”, aqueles que não trabalham, não buscam emprego e não são aposentados. Esses, então, são outros fantasmas. Vai ser difícil solucionar esse problema, principalmente diante de outros fantasmas como os robôs, que sempre tomam os empregos dos mortais. O Brasil está cheio de fantasmas. Daí acharem que somos o país das assombrações.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.
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