A Queda: Depoimentos de militares revelam que encontros no Palácio do Planalto com o então presidente Jair Bolsonaro foram marcados por Trama Golpista

Ex-comandantes militares confirmam leitura de minuta de golpe de Estado em reunião com o então presidente Jair Bolsonaro.
Ex-comandantes militares confirmam leitura de minuta de golpe de Estado em reunião com o então presidente Jair Bolsonaro.

Recentes depoimentos à Polícia Federal (PF) em 22 de fevereiro de 2024 ratificam a existência de uma trama golpista no governo anterior, com ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica colocando o ex-presidente Jair Bolsonaro no epicentro das conspirações. O sigilo sobre esses depoimentos foi levantado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito que investiga uma suposta trama golpista envolvendo o ex-presidente e seus próximos colaboradores, incluindo militares de alto escalão do governo.

Segundo os depoimentos, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica afirmaram ter participado de reuniões no Palácio da Alvorada com Bolsonaro, onde foram apresentadas minutas de decreto presidencial visando a manutenção do ex-presidente no poder após a derrota no segundo turno das eleições presidenciais de 2022. O general Marco Antonio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, relatou ter sido informado pelo presidente sobre o estudo do documento e que o andamento seria posteriormente comunicado aos comandantes. Outras revelações incluem uma segunda reunião na qual foi apresentada uma revisão da minuta, agora incluindo a decretação de um Estado de Defesa no país.

O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, também afirmou ter participado de encontros nos quais Bolsonaro discutia a possibilidade de utilizar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e outros mecanismos jurídicos complexos para lidar com uma possível crise institucional. Além disso, houve relatos de que o general Freire Gomes teria ameaçado prender Bolsonaro caso ele avançasse com a tentativa de golpe de Estado.

Outro ponto destacado nos depoimentos é a confirmação do ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, sobre a ideia de contratar o Instituto Voto Livre (IVL) para fiscalizar as urnas após o segundo turno de 2022, por R$ 1 milhão. Costa Neto afirmou ter sido pressionado pelo ex-presidente e outros membros do partido a entrar com uma ação contra o resultado das urnas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), embora tenha ressaltado que não viu evidências concretas de fraude nas urnas.

Dentre os depoentes, o general da reserva do Exército Laercio Vergilio destacou-se ao sugerir que a prisão do ministro Alexandre de Moraes seria necessária para restaurar a normalidade no país. Embora tenha negado envolvimento em planos de prisão ou golpe de Estado, Vergilio confirmou ter mencionado uma “operação especial”, visando implementar a GLO temporariamente para restabelecer a normalidade constitucional.

No entanto, a maioria dos convocados para depor preferiu ficar em silêncio, invocando o direito constitucional de não produzir provas contra si mesmos ou alegando falta de acesso a todos os elementos de prova.

O que dizem os depoimentos na PF

  • Data: 22 de fevereiro de 2024
  • Número total de depoentes: 27

Reuniões no Palácio da Alvorada:

  • Data da primeira reunião: 7 de dezembro de 2022
  • Participantes: Ex-presidente Jair Bolsonaro, ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica
  • Local: Biblioteca do Alvorada

Minutas de decreto presidencial:

  • Teor: Manter Bolsonaro no poder após derrota no segundo turno das eleições presidenciais de 2022
  • Conteúdo: Decretação de um Estado de Defesa no país

Contratação do Instituto Voto Livre (IVL):

  • Valor do contrato: R$ 1 milhão
  • Objetivo: Fiscalização nas urnas após o segundo turno de 2022
  • Resultado: Multa de R$ 22 milhões ao Partido Liberal (PL) por litigância de má-fé

Mensagens sobre “operação especial”:

  • Data: 18 de dezembro de 2022
  • Enviadas por: General da reserva do Exército Laercio Vergilio ao major reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros
  • Objetivo: Prisão do ministro Alexandre de Moraes
  • Fundamento jurídico: “Garantia da lei e da ordem” conforme a Constituição

Negativas de envolvimento em golpe de Estado:

  • Número de depoentes que negaram: Não especificado
  • Justificativa: Direito constitucional de não produzir provas contra si mesmos ou alegação de falta de acesso a todos os elementos de prova

Silêncio, Direito Constitucional

Diversos investigados depuseram, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Eles optaram por ficar em silêncio, invocando o direito constitucional de não produzirem provas contra si mesmos.

Ficaram em silêncio:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República
  • Walter Souza Braga Netto, general do Exército e ex-ministro da Casa Civil
  • Augusto Heleno Ribeiro Pereira, general e ex-ministro do GSI
  • Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa
  • Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha
  • Ailton Barros, advogado acusado de intermediar inserção de dados falsos sobre vacina no sistema do SUS
  • Amauri feres Saad, advogado acusado de ser autor intelectual da minuta do golpe
  • Angelo Martins Denicolli, major acusado de participar de gabinete de desinformação
  • Hélio Ferreira Lima, tenente-coronel acusado de fazer parte de gabinete de desinformação
  • José Eduardo de Oliveira, padre acusado de participar de reunião sobre golpe
  • Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva e ex-assessor de Bolsonaro
  • Rafael Martins, major acusado de organizar manifestações golpistas
  • Mário Fernandes, ex-chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência da República
  • Ronald Ferreira de Araújo Junior, acusado de participar de reunião golpista
  • O relato de Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, continua em sigilo, pois ele fez um acordo de delação premiada.

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