Professores de universidades e institutos federais retomam atividades após 70 dias de greve; Paralisação das aulas é evidência de descompromisso com o país e patrimonialização

Helton Saragor, 2° Vice-presidente regional SP do Andes, Jennifer Webb, 1° Tesoureira do Andes, Mario Mariano Cardoso, 1° vice-presidente da Regional Leste do Andes, durante reunião do Comando Nacional de Greve (CNG), no sede do Andes em Brasília.
Assinatura de acordo de fim de greve é adiada para amanhã a pedido de federação sindical. Atividades acadêmicas serão normalizadas até 3 de julho de 2024, conforme informações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior.
Professores de universidades e de institutos federais de educação retomam, a partir desta quarta-feira (26/06/2024), as atividades acadêmicas, encerrando cerca de 70 dias de greve. De acordo com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), a normalização completa das atividades está prevista para ocorrer até 3 de julho.

O acordo de fim do movimento, cuja assinatura estava inicialmente marcada para hoje, foi adiada para amanhã (27) a pedido da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas (Fasubra). A solicitação visa permitir a realização de uma assembleia que confirmará a saída dos técnicos administrativos da greve.

A presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb), Eliene Novaes, informou que as aulas foram retomadas com um debate sobre o calendário acadêmico e os resultados do movimento grevista. Segundo Novaes, o movimento trouxe ganhos significativos para os professores, incluindo avanços na reposição salarial.

“O governo apresentou uma proposta de reposição salarial de 9% a partir de janeiro de 2026 e de 3,5% a partir de abril de 2026, além da reposição dos níveis da carreira. Além desses pontos, temos outros ganhos que são resultados dessa greve, como a reestruturação da carreira, direitos dos aposentados e a progressão e promoção docente”, afirmou Eliene Novaes.

A definição do cronograma para o retorno pleno das atividades será discutida durante a reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UnB, prevista para quinta-feira (27) à tarde. “Vamos reestruturar toda a programação de compensação de aulas durante o período de greve. Esse calendário é fundamental para assegurarmos a estudantes e professores o direito ao ensino e às ações desenvolvidas”, explicou Novaes.

A proposta apresentada pelo governo, aceita pelo comando nacional de greve, prevê reajuste zero em 2024 devido às limitações orçamentárias. Em compensação, foi oferecida uma elevação do reajuste linear de 9,2% para 12,8% até 2026, sendo 9% em janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026.

A Adunb destacou que a recomposição orçamentária das universidades federais é apenas uma das demandas do movimento grevista. A entidade tem criticado a defasagem nos orçamentos e a intervenção no pleno funcionamento das universidades.

Estado Disfuncional: Patrimonialização e descompromisso social

A paralisação das atividades acadêmicas em instituições federais de ensino superior tem um impacto direto e imediato na formação dos estudantes, que são os futuros profissionais e líderes do país. A interrupção das aulas durante 70 dias implica em perda de conteúdo programático, atrasos na conclusão de cursos e, consequentemente, na entrada desses jovens no mercado de trabalho. Este cenário não contribui para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, que necessita de uma educação de qualidade e contínua para formar cidadãos preparados para enfrentar os desafios do presente e do futuro.

Além do impacto educacional, a greve prolongada evidencia um descompromisso com o país. Em um contexto onde a educação é um dos pilares para o progresso e a redução das desigualdades, a decisão de interromper as atividades acadêmicas por um período tão extenso sugere uma priorização de interesses particulares sobre o bem-estar coletivo. A educação pública, financiada pelo contribuinte, deve ter como prioridade máxima o atendimento eficiente e ininterrupto às necessidades educacionais da população.

A questão da patrimonialização do serviço público também emerge como uma crítica pertinente. A greve de 70 dias sugere que, em certos casos, servidores públicos podem agir como se o serviço prestado fosse uma extensão de seus interesses pessoais, em detrimento do interesse público. A patrimonialização ocorre quando os recursos e estruturas do Estado são utilizados de forma a beneficiar um grupo específico, em vez de servirem ao bem comum. No caso das universidades e institutos federais, essa prática pode ser observada quando demandas salariais e condições de trabalho, ainda que legítimas, resultam em prejuízo direto para milhares de estudantes e, por extensão, para a sociedade como um todo.

A negociação entre os professores e o governo federal que levou ao fim da greve, incluindo propostas de reposição salarial e outras reivindicações, é uma demonstração de que o diálogo e a busca por soluções negociadas são sempre preferíveis à interrupção das atividades. No entanto, é fundamental que tais negociações ocorram de maneira a minimizar os impactos negativos sobre os estudantes e a sociedade, garantindo que o direito à educação seja sempre preservado.

A retomada das atividades acadêmicas é, portanto, uma oportunidade para refletir sobre o papel e a responsabilidade dos professores e das instituições de ensino superior no Brasil. É essencial que o compromisso com a educação e o desenvolvimento do país esteja sempre à frente de interesses corporativos ou pessoais. Somente assim será possível construir um sistema educacional que verdadeiramente contribua para o progresso e a justiça social no Brasil.


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