A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) divulgou nesta terça-feira (13/08/2024) um estudo que coloca em evidência o persistente desafio do baixo crescimento econômico na região. Segundo o relatório, os países da América Latina e Caribe estão presos em uma “armadilha de baixo crescimento”, com uma taxa média de apenas 0,9% no período de 2015 a 2024. A Cepal destaca que essa situação reflete não apenas um histórico de crescimento insuficiente, mas também um cenário atual marcado por restrições econômicas, sociais e ambientais que limitam as perspectivas de desenvolvimento da região.
A secretária-executiva da Cepal, José Manuel Salazar-Xirinachs, afirmou durante a apresentação do estudo que “a América Latina e o Caribe enfrentam um momento crítico. Precisamos de políticas públicas robustas e coordenadas que estimulem o investimento, a inovação e a criação de empregos de qualidade”. Ele enfatizou a necessidade de romper o ciclo de baixo crescimento, alertando que sem uma resposta eficaz, a região corre o risco de aprofundar suas desigualdades e enfrentar dificuldades crescentes para atender às demandas sociais.
O relatório da Cepal indica que a falta de dinamismo econômico afeta diretamente a capacidade da região de lidar com desafios complexos, como a transição para uma economia verde e a inclusão social.
“O baixo crescimento limita a margem de manobra dos governos para implementar políticas que possam mitigar os impactos das mudanças climáticas e reduzir as desigualdades sociais”, disse Salazar-Xirinachs.
No Brasil, o relatório da Cepal destaca que o crescimento econômico em 2023 superou as expectativas, com o Produto Interno Bruto (PIB) registrando uma alta de 2,9%. Esse desempenho foi impulsionado por uma expansão significativa das exportações, especialmente no setor agrícola, que registrou um crescimento de 15,1%. A safra recorde de soja, favorecida por condições climáticas positivas, foi um dos principais motores desse crescimento.
“O Brasil conseguiu aproveitar um contexto favorável para a agricultura, mas o desafio agora é transformar esse crescimento em um ciclo sustentável de desenvolvimento”, observou o economista da Cepal, Daniel Titelman.
No entanto, o crescimento econômico do Brasil em 2023 não se traduziu em um aumento dos investimentos. Pelo contrário, o estudo aponta que houve uma contração de 3% na formação bruta de capital fixo, refletindo uma redução de 9,4% nos investimentos em máquinas e equipamentos. Esse cenário levanta preocupações sobre a sustentabilidade do crescimento a longo prazo, já que a falta de investimentos pode limitar a capacidade de modernização e inovação da economia.
“A ausência de investimentos é um sinal de alerta. O Brasil precisa atrair mais capital, tanto doméstico quanto estrangeiro, para garantir que o crescimento atual não seja efêmero”, afirmou Titelman.
Além disso, o estudo ressalta que o mercado de trabalho na América Latina continua a enfrentar desafios significativos. A taxa de criação de empregos formais tem diminuído, enquanto a informalidade continua sendo uma característica predominante em muitos países da região. Grupos vulneráveis, como jovens, mulheres, idosos, migrantes e pessoas que vivem em áreas rurais, são os mais afetados por essa realidade. A Cepal alerta que a intensificação dos efeitos das mudanças climáticas pode agravar ainda mais a situação, reduzindo o número de empregos gerados e aumentando a precariedade laboral.
“A informalidade e a falta de empregos de qualidade são barreiras ao desenvolvimento sustentável. Precisamos de políticas ativas de emprego que promovam a formalização e a proteção social para os trabalhadores mais vulneráveis”, destacou Alicia Bárcena, ex-secretária-executiva da Cepal e atualmente consultora da entidade.
Bárcena também sublinhou a importância de alinhar as políticas de emprego com os esforços de adaptação às mudanças climáticas, argumentando que a transição para uma economia mais verde pode ser uma oportunidade para gerar empregos de qualidade, desde que bem gerida.
Para enfrentar esses desafios, a Cepal defende a necessidade de reformas estruturais que promovam um crescimento econômico sustentável e equitativo. O relatório enfatiza que o desenvolvimento produtivo, o emprego e as políticas macroeconômicas devem ser articulados de forma integrada, com um foco especial na adaptação e mitigação das mudanças climáticas.
“O crescimento econômico não pode ser alcançado sem um aumento significativo do investimento público e privado”, afirmou Salazar-Xirinachs, acrescentando que “as reformas estruturais são essenciais para garantir que o crescimento seja inclusivo e sustentável.”
O Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2024 prevê que, a menos que sejam adotadas medidas corretivas, a região deverá continuar em uma trajetória de baixo crescimento, com uma taxa média de 1,8% em 2024. O relatório conclui que, para romper com essa tendência, é fundamental que os governos da região adotem políticas que estimulem o investimento, a inovação e a criação de empregos, ao mesmo tempo em que enfrentam os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela desigualdade social.
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Cepal mantém previsão de crescimento do Brasil em 2024 apesar de contexto internacional incerto
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