Brasil expulsa embaixadora da Nicarágua em retaliação diplomática

Em resposta à expulsão do embaixador brasileiro, governo brasileiro decide pela retirada da embaixadora nicaraguense, marcando nova etapa na deterioração das relações entre os dois países.
Em resposta à expulsão do embaixador brasileiro, governo brasileiro decide pela retirada da embaixadora nicaraguense, marcando nova etapa na deterioração das relações entre os dois países.

O governo brasileiro anunciou nesta quinta-feira (08/08/2024) a expulsão da embaixadora da Nicarágua no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus, em uma medida de reciprocidade diplomática após a decisão do regime nicaraguense de expulsar o embaixador brasileiro em Manágua, Breno de Souza da Costa. A ação, que foi confirmada por meio de nota oficial do Itamaraty, representa um novo capítulo na escalada de tensões entre os dois países, cujas relações diplomáticas têm se deteriorado progressivamente ao longo dos últimos meses.

Em comunicado, o Itamaraty explicou que a decisão foi tomada em conformidade com o princípio da reciprocidade, que rege as relações diplomáticas internacionais.

“O governo brasileiro decidiu pela retirada da Embaixadora da Nicarágua em Brasília como resultado da aplicação do princípio da reciprocidade à medida adotada pelo governo nicaraguense em relação ao Embaixador brasileiro em Manágua”, afirmou a nota.

A expulsão do embaixador brasileiro havia sido oficializada pelo governo nicaraguense na quarta-feira, quando o regime de Daniel Ortega comunicou que Breno de Souza da Costa deveria deixar o país.

Fulvia Patricia Castro Matus, que ocupava o posto de embaixadora no Brasil desde maio deste ano, já havia deixado Brasília na quarta-feira, logo após o anúncio da expulsão do embaixador brasileiro. A saída de ambos os diplomatas simboliza um afastamento ainda maior entre Brasil e Nicarágua, que já vinha sendo sinalizado por uma série de desentendimentos e divergências políticas.

Deterioração das relações

O histórico de proximidade entre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o líder nicaraguense, Daniel Ortega, remonta aos anos 1980, quando Lula visitou Manágua para o primeiro aniversário da Revolução Sandinista. No entanto, as relações entre os dois países começaram a se enfraquecer em 2023, quando Lula tentou intermediar, a pedido do papa Francisco, a libertação de um bispo católico encarcerado pelo regime de Ortega. A tentativa de mediação foi frustrada quando Ortega se recusou a atender uma ligação telefônica de Lula, gesto que foi interpretado como um sinal de distanciamento entre os líderes.

Desde então, as relações diplomáticas entre Brasil e Nicarágua foram marcadas por atritos. Em junho de 2023, o Brasil apoiou uma declaração da Organização dos Estados Americanos (OEA) que exigia o respeito à democracia na Nicarágua. A situação se agravou ainda mais em julho, quando o embaixador brasileiro em Manágua evitou participar das celebrações dos 45 anos da Revolução Sandinista, evento de grande importância para o governo de Ortega. Em resposta, o regime nicaraguense determinou a expulsão do embaixador brasileiro, alegando falta de respeito à soberania nacional.

Contexto regional e internacional

A crise diplomática entre Brasil e Nicarágua ocorre em um contexto mais amplo de tensão na América Latina, onde regimes autoritários vêm enfrentando críticas crescentes por parte da comunidade internacional. Desde 2018, o regime de Ortega intensificou a repressão a opositores e críticos, resultando na morte de mais de 300 manifestantes e na prisão de diversos líderes políticos e religiosos. A guinada autoritária também provocou uma fuga em massa de nicaraguenses, com mais de 700 mil pessoas deixando o país desde 2018, segundo estimativas de grupos de direitos humanos.

A expulsão dos embaixadores brasileiro e nicaraguense também coincide com os esforços do presidente Lula, juntamente com os líderes da Colômbia e do México, para mediar uma solução para a crise na Venezuela. A Nicarágua, que reconheceu Nicolás Maduro como presidente legítimo da Venezuela após as controversas eleições de 2021, tem se alinhado com outros regimes autoritários na região, complicando ainda mais as relações diplomáticas com países que buscam promover a democracia e o respeito aos direitos humanos na América Latina.

*Com informações da DW.


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