Desafios na gestão de resíduos persistem em municípios brasileiros na data-limite para extinção dos lixões

A Política Nacional de Resíduos Sólidos previa o fim dos lixões no Brasil até 2 de agosto de 2024, mas milhares desses depósitos ainda operam, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelos municípios na gestão dos resíduos.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos previa o fim dos lixões no Brasil até 2 de agosto de 2024, mas milhares desses depósitos ainda operam, evidenciando as dificuldades enfrentadas pelos municípios na gestão dos resíduos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305 em 2010, estabeleceu 2 de agosto de 2024 como a data-limite para a extinção dos lixões em todo o Brasil. A norma previa a substituição desses depósitos a céu aberto por aterros sanitários, que garantem uma destinação final adequada aos resíduos sólidos. Contudo, mesmo com o prazo final atingido, o país ainda conta com milhares de lixões em operação, desafiando a capacidade dos municípios em cumprir a legislação.

Segundo levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, realizado pelo Ministério das Cidades, 1,5 mil lixões continuavam ativos em 2022, evidenciando o descompasso entre a legislação e a realidade local. De acordo com as diretrizes da PNRS, os rejeitos – resíduos que não podem ser reciclados ou reaproveitados – deveriam ter uma destinação ambientalmente correta até o final de 2014. Entretanto, esse prazo foi prorrogado várias vezes, com uma última extensão até 2024 para os municípios menores, com menos de 50 mil habitantes em 2010.

O Senado Federal, por meio da Comissão de Meio Ambiente (CMA), tem acompanhado o tema com atenção, promovendo audiências públicas para debater os desafios na implementação da PNRS. O senador Confúcio Moura (MDB-RO) apontou que, apesar dos esforços, a meta de eliminação dos lixões não seria cumprida dentro do prazo, citando a falta de capacidade financeira e técnica dos municípios como os principais obstáculos. Moura ressaltou que muitos municípios não possuem recursos suficientes para a disposição adequada dos resíduos e que, em grande parte dos casos, a cobrança pelo serviço é inadequada ou inexistente.

A legislação atribui aos municípios a responsabilidade pela gestão dos resíduos sólidos, em cooperação com a União e os estados. Aterros sanitários, considerados a forma adequada de destinação dos rejeitos, são caros, exigindo infraestrutura de engenharia, impermeabilização do solo, tratamento de chorume e monitoramento ambiental constante. Além disso, debates recentes no Senado sugeriram o reaproveitamento do lixo para a geração de energia elétrica, por meio da captura do biogás e do biometano gerados nos aterros, embora essa prática envolva questões técnicas e ambientais complexas.

Pequenos municípios, especialmente os localizados nas regiões Norte e Nordeste, enfrentam as maiores dificuldades para implementar as políticas previstas na PNRS. Segundo dados da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), em 2022, a destinação correta dos resíduos nesses municípios foi realizada em apenas 11,2% dos casos no Norte e 20,3% no Nordeste, em contraste com 83,4% na região Sul. A Abrema também destacou que a construção de aterros sanitários pode ser inviável em alguns contextos, sugerindo a adoção de soluções alternativas, conforme permitido pela legislação.

Para apoiar as prefeituras na gestão dos resíduos sólidos, o governo federal anunciou um investimento de R$ 1,7 bilhão até 2026, como parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Esses recursos serão direcionados à gestão de resíduos, tanto por meio de orçamento público quanto através de parcerias público-privadas. Adicionalmente, o Orçamento de 2024 autoriza a transferência de R$ 102 milhões para ações específicas no setor, além de R$ 1,8 milhões provenientes de emendas parlamentares.

Apesar desses esforços, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) afirma que a falta de recursos federais e o prazo exíguo comprometeram o cumprimento da PNRS, especialmente em municípios menores. A CNM critica ainda o veto presidencial ao apoio técnico e financeiro da União e dos estados, previsto no Marco do Saneamento Básico (Lei 14.026/2020), que visava facilitar a implantação de aterros sanitários e a disposição adequada dos rejeitos.

Diante da impossibilidade de cumprir integralmente a extinção dos lixões no prazo estabelecido, diversos projetos de lei estão em tramitação no Senado, buscando melhorar a gestão dos resíduos sólidos no país. Um exemplo é o Projeto de Lei 775/2020, que institui a Semana do Lixo Zero, aprovada pelo Senado em março e agora em análise na Câmara dos Deputados. A proposta visa promover ações educativas sobre o descarte correto dos resíduos, incentivando a conscientização e a participação da sociedade na solução desse problema.

*Com informações da Agência Senado.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.