O encontro inusitado entre Abraham Lincoln e Karl Marx: cartas, ideias e indústria

Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos, e Karl Marx, filósofo e teórico político alemão, representam figuras históricas de grande influência no século XIX, cada um contribuindo para a história com suas ideias e ações distintas.
Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos, e Karl Marx, filósofo e teórico político alemão, representam figuras históricas de grande influência no século XIX, cada um contribuindo para a história com suas ideias e ações distintas.

A fascinante correspondência entre Abraham Lincoln e Karl Marx destaca um episódio notável na história do pensamento político e econômico do século XIX. Embora viessem de contextos diferentes e abordagens distintas, ambos compartilhavam uma visão sobre a importância do desenvolvimento tecnológico e industrial para o progresso das nações. Paulo Gala, economista e professor da FGV-SP, explora essa troca histórica em seu artigo intitulado “A incrível troca de cartas entre Lincoln e Marx e a convergência de suas ideias sobre a importância da indústria“.

Contexto Histórico

Durante a Guerra Civil Americana, Karl Marx, conhecido teórico revolucionário e crítico do capitalismo, acompanhava de perto os eventos nos Estados Unidos. Para Marx, a guerra não era apenas uma luta pela preservação da União, mas também pela abolição da escravidão. Ele acreditava que a vitória da União teria implicações significativas para a luta dos trabalhadores e o progresso social em todo o mundo.

Por outro lado, Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos durante esse período crucial, liderava a nação com o objetivo de manter a União e, a partir de 1863, com a Proclamação de Emancipação, tornou a abolição da escravidão um objetivo central da guerra.

A Troca de Cartas

A correspondência entre Lincoln e Marx teve início quando a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como a Primeira Internacional, enviou uma carta a Lincoln em 1864. Escrita por Marx em nome da AIT, a carta parabenizava Lincoln por sua reeleição e expressava apoio à sua causa. Marx escreveu:

“De tempos em tempos, as repúblicas emergem na história como exemplos brilhantes para a humanidade. O seu esforço para emancipar os trabalhadores é uma manifestação deste caráter elevado. Se a resistência ao poder escravocrata foi a nobreza dos escravos negros, a sua vitória foi a nobreza da sua causa e uma antecipação do futuro.”

Em resposta, Charles Francis Adams, embaixador dos Estados Unidos no Reino Unido, respondeu em nome de Lincoln, agradecendo à AIT pelo apoio e destacando a luta comum pela liberdade e pelo progresso humano. A carta de Adams, datada de 28 de janeiro de 1865, dizia:

“O governo dos Estados Unidos não tem hesitado em acreditar que a sua causa e a da humanidade são a mesma. Eles têm sentido que a sua batalha é a batalha da liberdade, e que seus sucessos estão conectados com a causa da emancipação dos trabalhadores em todo o mundo.”

Convergência de Ideias sobre Desenvolvimento Tecnológico e Industrial

Embora Lincoln e Marx tivessem perspectivas diferentes – Lincoln como político e Marx como teórico revolucionário – ambos reconheceram a importância do desenvolvimento tecnológico e industrial.

Abraham Lincoln

Lincoln acreditava que o progresso econômico e tecnológico era crucial para a prosperidade da nação. Ele defendia a construção de infraestrutura, como ferrovias e canais, e promovia a inovação tecnológica. Para Lincoln, o desenvolvimento industrial não apenas fortalecia a economia, mas também oferecia oportunidades para o crescimento social e econômico, promovendo a liberdade individual e a igualdade de oportunidades.

Karl Marx

Marx via o desenvolvimento tecnológico e industrial como uma força que moldava a estrutura social e econômica. Ele argumentava que a industrialização criava as condições materiais para o socialismo, pois aumentava a capacidade produtiva e preparava o terreno para a abolição das relações de produção capitalistas. Para Marx, o avanço tecnológico era uma faca de dois gumes: enquanto aumentava a exploração dos trabalhadores sob o capitalismo, também criava as bases para a emancipação e o progresso social.

Importância Histórica

A troca de cartas entre Lincoln e Marx simboliza um momento de reconhecimento mútuo entre dois homens que, embora operando em contextos muito diferentes, estavam envolvidos em lutas paralelas por liberdade e progresso. Ambos reconheceram que o desenvolvimento tecnológico e industrial era essencial para o avanço das nações, mesmo que tivessem visões diferentes sobre como esse progresso deveria ser alcançado e utilizado.

Legado

Essa correspondência reflete uma intersecção única na história do pensamento político e econômico. Ela ilustra como ideias sobre liberdade, progresso e desenvolvimento econômico podem encontrar terreno comum, mesmo entre pensadores com abordagens muito diferentes. A troca de cartas entre Lincoln e Marx permanece um testemunho da interconexão das lutas pela justiça social e econômica no mundo moderno.


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