Fundação do Parque de Exposições João Martins da Silva: um marco no agronegócio de Feira de Santana e da Bahia

Em 19 de fevereiro de 1967, em Feira de Santana, foi inaugurado o Parque de Exposições João Martins da Silva pelo prefeito João Durval Carneiro Em Feira de Santana.
A história de criação e fundação do Parque de Exposições João Martins da Silva em Feira de Santana é um exemplo de cooperação entre o setores privado e público da Bahia.

Iniciadas durante a gestão do prefeito biônico Joselito Falcão de Amorim (UDN, de 8 de maio de 1964 a 30 de janeiro de 1967) e inauguradas em 19 de fevereiro de 1967, na administração do prefeito João Durval Carneiro (Arena, de 31 de janeiro de 1967 a 30 de janeiro de 1971), as obras do Parque de Exposições Agropecuária João Martins da Silva marcaram um momento significativo na história de Feira de Santana e do agronegócio da Bahia. A narrativa do Jornal Grande Bahia (JGB) sobre o parque municipal objetiva registrar a trajetória histórica de constituição da infraestrutura e das atividades desenvolvidas ao longo das décadas, cuja contribuição está vinculada à consolidação do agronegócio na Bahia e no país.

A fundação do Parque de Exposições João Martins representou um esforço conjunto de cooperação entre o setor privado, liderado pela Associação Rural de Feira de Santana e pecuaristas locais, e o setor público, sob a liderança da Prefeitura Municipal, com o objetivo de estabelecer um espaço estratégico para o desenvolvimento do setor agropecuário. Com a expansão da cidade em direção à Rodovia Federal BR-324, no trecho Feira de Santana – Salvador, foi escolhido um terreno às margens da rodovia, parte do qual foi doado pelo pecuarista João Martins da Silva, cuja generosidade foi reconhecida ao se atribuir seu nome ao parque.

Além dos rituais tradicionais de inauguração, como a bênção do padre e o corte da fita, a programação incluiu uma exposição de animais, que marcou o início da Feira de Animais, evento precursor da Exposição Agropecuária de Feira de Santana (EXPOFEIRA), que se tornaria um dos mais importantes do calendário anual da cidade e referência para o agronegócio do País. O parque foi pensado para ser mais do que uma simples área de exposição; ele foi planejado como um polo de negócios, atraindo pecuaristas, empresários e investidores do Brasil e de outros países.

Estrutura e Crescimento do Parque

Desde sua criação, o Parque passou por constantes ampliações. Nos primeiros anos, foram construídos modernos pavilhões, além de espaços específicos como currais, baias, boxes e banheiras, todos fundamentais para as atividades pecuárias.

“Para garantir a qualidade da construção, a comunidade empresarial local doou materiais, enquanto a Prefeitura assumiu os custos da mão de obra. A supervisão das obras ficou a cargo de uma comissão formada por pecuaristas de destaque, como Gil Marques Porto, Vicente Leite e Francisco Moreira Teixeira”, explica jornalista Adilson Simas em artigo.

Com o tempo, o Parque ganhou importância regional e nacional. Durante as décadas de 1970 e 1980, a Expofeira já se firmava como um evento de grande magnitude, atraindo não apenas pecuaristas, mas também expositores de máquinas agrícolas, ferramentas e outros produtos relacionados ao agronegócio. A presença de instituições financeiras como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste nas feiras reforçava a dimensão comercial do evento, oferecendo suporte financeiro para os negócios gerados.

Tentativas de Estadualização e Expansão Nacional

Diante do sucesso crescente, Feira de Santana buscou transformar o Parque em uma referência estadual. Durante a década de 1970, houve tentativas de estadualização do espaço, com pedidos encaminhados ao governador Antonio Carlos Magalhães, sem sucesso.

No governo seguinte, o movimento foi renovado, mas, novamente, sem êxito. Ao invés disso, o governo construiu o Parque Estadual de Exposições da Bahia, em Salvador, o que gerou frustração entre os líderes locais. Mesmo assim, o Parque de Exposições de Feira de Santana continuou a crescer, mantendo relevância no cenário nacional.

A Expofeira: Tradição, Economia e Cultura

A Expofeira, realizada anualmente no parque, tornou-se um dos eventos mais importantes da cidade e um dos principais motores da economia local. O evento atrai expositores de várias partes do Brasil e do exterior, sendo uma vitrine não apenas para a pecuária, mas também para o agronegócio em geral. O comércio de máquinas agrícolas, ferramentas e produtos de couro é intenso durante o evento, movimentando milhões em negócios.

Além disso, a Expofeira tem um papel cultural significativo para Feira de Santana. Enquanto no passado o evento era marcado por momentos simples, como os jovens casais apreciando a tradicional maçã do amor, atualmente a festa se expandiu, incorporando grandes shows musicais que reúnem milhares de pessoas de todas as idades. O parque, além de ser um espaço de negócios, tornou-se um lugar de celebração, onde a cultura e a economia da cidade se encontram.

Homenagens e Transformações

Ao longo dos anos, o Parque de Exposições passou por diversas melhorias promovidas pelos prefeitos que sucederam Joselito Amorim, responsável por sua inauguração. Os prefeitos João Durval,  José Falcão da Silva (★1930 — †1997) e Colbert Martins da Silva (★1932 — †1994), que se alternaram no poder por mais de duas décadas, foram fundamentais para o desenvolvimento contínuo do parque, deixando legados importantes. Em 1999, uma lei aprovada pela Câmara Municipal, por iniciativa do vereador Ildes Ferreira, homenageou os dois prefeitos, José Falcão e Colbert Martins, ao nominar as principais vias do parque.

Além disso, entidades e associações envolvidas com a Expofeira também receberam homenagens, reconhecendo suas contribuições para o fortalecimento do setor agropecuário da região. O parque, portanto, é mais do que um espaço físico; ele é uma parte viva da história e da identidade de Feira de Santana, representando o esforço coletivo da comunidade em promover o desenvolvimento econômico e cultural da cidade.

Paralisação e retomada das atividades da Expofeira

Suspensão das atividades

Em 16 de março de 2020, a Prefeitura de Feira de Santana, sob a gestão do médico e prefeito Colbert Martins Filho, decretou o estado de emergência sanitária em decorrência da pandemia de Covid-19. Este decreto resultou na suspensão de diversas atividades, incluindo as realizadas no Parque de Exposições João Martins da Silva, inclusiva a Expofeira. A iniciativa ocorreu como parte das ações para conter a disseminação do vírus, proteger a saúde pública e evitar aglomerações, em conformidade com as diretrizes de distanciamento social e prevenção recomendadas pelos órgãos de saúde.

Reinício das atividades com revitalização

O primeiro dia da 45ª Exposição Agropecuária de Feira de Santana marcou o retorno aguardado do evento, trazendo um impulso renovado ao setor rural após quatro anos de interrupção devido à pandemia de Covid-19. Realizada de 1 a 8 de setembro de 2024 no Parque de Exposições João Martins da Silva, a feira reuniu criadores de bovinos, equinos, caprinos e ovinos de várias regiões do país, oferecendo uma plataforma para leilões de animais de alta qualidade genética, julgamentos especializados, e oportunidades de networking e negócios entre os principais atores do setor agropecuário.

Com melhorias significativas na infraestrutura, como novos banheiros, telhas termoacústicas e ampliação das áreas de circulação, a gestão do prefeito Colbert Martins Filho investiu para proporcionar uma experiência mais confortável e segura para expositores e visitantes. Segundo Alexandre Monteiro, secretário de Agricultura, Recursos Hídricos e Desenvolvimento Rural, a renovação das instalações é fundamental para o sucesso do evento, que espera receber cerca de 1.200 animais distribuídos em pavilhões e baias móveis, adequados para a realização de leilões e julgamentos com conforto e qualidade.

O pecuarista Miguel Pinto destacou a importância da exposição para o desenvolvimento e visibilidade do setor, especialmente após a paralisação causada pela pandemia. Ele trouxe para o evento animais da raça Nelore, de alta qualidade genética, enfatizando o rigor na seleção para a reprodução de matrizes e embriões. Esse cuidado visa melhorar o aprimoramento genético da raça no Brasil, contribuindo para o aumento da produtividade e qualidade da carne.

Além dos leilões, como o Leilão Jacuricy, que abriu oficialmente a feira com bovinos da raça Nelore, o evento celebra a cultura sertaneja e promove uma vasta programação cultural e educacional. Os visitantes podem participar de cursos gratuitos sobre práticas inovadoras no agronegócio, como fermentação de alimentos e manejo sustentável, além de explorar espaços temáticos como a Vila Gourmet e o Caminho da Roça, que oferecem uma experiência imersiva nos sabores e tradições locais, promovendo o turismo rural.

O Caminho da Roça passou por uma reestruturação e sua localização foi movida para um ambiente mais arborizado, com características do interior, incluindo uma pequena igreja e um coreto para apresentações. A programação foi ampliada para incluir atrações infantis e musicais, valorizando artistas regionais e celebrando a cultura sertaneja local. Monteiro destacou o compromisso de promover os artistas de Feira de Santana, reforçando a importância de valorizar integralmente a cultura e o talento locais.

Para facilitar o acesso dos visitantes, a Prefeitura implementou um esquema especial de transporte público com vinte ônibus adicionais nos finais de semana e terminais de transbordo operando até as 23 horas em datas específicas. Além disso, foi lançado o aplicativo KIM, que permite pagamentos digitais de tarifas de transporte e recargas, proporcionando uma experiência mais fluida e conveniente para os usuários.

Inauguração de Monumento

Na abertura oficial da 45ª Exposição Agropecuária de Feira de Santana (Expofeira 2024), realizada no domingo (01/09/2024), foi inaugurado um monumento em homenagem aos precursores do Parque de Exposição João Martins da Silva, um dos principais marcos do agronegócio na Bahia. A cerimônia contou com a presença de diversas autoridades, incluindo o prefeito Colbert Martins Filho, João Martins da Silva Júnior, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), que destacaram a importância histórica do parque para a comunidade local e o desenvolvimento agropecuário da região. A Expofeira, que é um dos eventos mais tradicionais do setor rural no estado, marca a retomada de atividades econômicas e sociais no parque, temporariamente desativado durante a pandemia de Covid-19.

O monumento, localizado no centro do parque, presta tributo a seis personalidades fundamentais para a fundação e o crescimento do espaço: João Martins da Silva, Vicente Quezado Leite, Joselito Falcão de Amorim, Gil Marques Porto, João Martins da Silva Júnior e Coriolano Carvalho de Pacheco, conhecido como Cori Neto. Cada um desses pioneiros teve um papel crucial na consolidação do parque como um dos principais centros de eventos agropecuários do estado. João Martins da Silva, por exemplo, foi o responsável pela doação da área de sua fazenda em 1967, o que possibilitou a criação do parque. Vicente Quezado Leite e Gil Marques Porto lideraram o sindicato rural e foram fundamentais na transformação da associação de pecuaristas em um sindicato, facilitando a transferência do terreno ao município.

Além de celebrar a herança dos pioneiros, a Expofeira 2024 simboliza a resiliência e a renovação do setor agropecuário em Feira de Santana. A realização do evento, após a paralisação devido à pandemia, representa um marco de retomada para a cidade, destacando-se como um ponto de encontro para inovação, sustentabilidade e crescimento econômico no agronegócio.

Expectativas de negócios

A 45ª Expofeira celebra a retomada do protagonismo de Feira de Santana nos negócios rurais da Bahia e estabelece um modelo de inovação, sustentabilidade e inclusão, reforçando o agronegócio como um setor vital para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

A Expofeira 2024, que acontece até este domingo (08/09/2024), celebra a retomada do protagonismo de Feira de Santana nos negócios rurais da Bahia e estabelece um modelo de inovação, sustentabilidade e inclusão, reforçando o agronegócio como um setor vital para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

O evento inclui exposições de animais, competições de marcha, provas de team penning, shows musicais, e palestras técnicas voltadas ao desenvolvimento do setor. A feira atrai visitantes de toda a Bahia, promovendo a integração entre o meio rural e a comunidade urbana, além de ser uma oportunidade para pequenos e grandes produtores compartilharem experiências, estabelecerem parcerias e ampliarem seus conhecimentos.

As projeções indicam que a 45ª Expofeira pode superar edições anteriores, destacando sua importância como motor econômico e cultural para Feira de Santana e região.

Implantação de Centro de Excelência em Zootecnia de Feira de Santana

Em 1º de junho de 2023, o legislativo feirense aprovou a cessão de 20 mil metros quadrados da área onde funciona o Parque de Exposições João Martins da Silva. No local, será construído o Centro de Excelência em Zootecnia de Feira de Santana. O Senar prevê investimento R$ 16 milhões para edificar a unidade. Com inauguração prevista para 2025, o Centro de Excelência em Zootecnia de Feira de Santana será uma unidade de capacitação nas áreas de zootecnia, agronegócio e agricultura. O equipamento, fruto da parceria entre a CNA e o Senar, terá capacidade para atender até mil alunos, com instalações modernas que incluem blocos modulares com salas de aula, laboratórios, biblioteca, pavilhão para aulas práticas e auditório.

Os governantes municipais da época

O prefeito biônico Joselito Falcão de Amorim

Joselito Falcão de Amorim foi uma figura política importante em Feira de Santana, no estado da Bahia, durante o turbulento período do Regime Militar no Brasil. Ele assumiu o cargo de prefeito da cidade em 8 de maio de 1964 e permaneceu no posto até 30 de janeiro de 1967. Sua ascensão à Prefeitura ocorreu de maneira atípica e polêmica: Joselito, que era vereador e presidente da Câmara Municipal, foi empossado prefeito após a deposição de Francisco José Pinto dos Santos (Chico Pinto ★1930 — †2008), removido do cargo pelo Regime Militar que tomou o poder em 1964.

Joselito era filiado à União Democrática Nacional (UDN), um partido político de tendência conservadora que apoiou o golpe militar de 1964. A UDN era conhecida por sua oposição ferrenha ao governo de João Goulart, presidente deposto pelo golpe, e por sua defesa de políticas mais alinhadas ao conservadorismo e ao liberalismo econômico.

A gestão de Joselito Falcão de Amorim, imposta em um contexto de intervenção militar, foi marcada pela implementação de diretrizes mais autoritárias, em consonância com a nova ordem política nacional. Seu governo em Feira de Santana focou na estabilização política local e na execução de ações administrativas de continuidade. Embora seu mandato tenha ocorrido em um cenário de controle militar, Joselito conseguiu manter a governabilidade da cidade e lidar com as tensões políticas da época.

O período de Joselito como prefeito, apesar das circunstâncias extraordinárias, foi fundamental para consolidar sua posição como uma figura importante no cenário político local.

João Durval Carneiro, prefeito eleito pelo sufrágio universal

João Durval Carneiro foi prefeito de Feira de Santana durante o período de 31 de janeiro de 1967 a 30 de janeiro de 1971. Ele foi eleito através de sufrágio universal, representando a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido que apoiava o Regime Militar brasileiro vigente na época.

Durante sua gestão, João Durval desempenhou um papel significativo no desenvolvimento de Feira de Santana, impulsionando obras de infraestrutura e modernização, com foco em áreas como urbanismo, educação e saúde. Sua atuação como prefeito contribuiu para o crescimento da cidade, que se consolidava como um dos principais centros comerciais e industriais do interior da Bahia.

A ARENA, partido pelo qual foi eleito, foi o principal apoio político do regime militar no Brasil, que governava o país desde o golpe de 1964. Mesmo sob um cenário político autoritário, João Durval conseguiu manter uma administração que atendia às demandas locais e reforçava sua popularidade na região.

Esse período de sua vida política foi um dos passos importantes em sua longa trajetória pública, que mais tarde incluiria outros cargos de destaque, como deputado estadual, secretário estadual e governador da Bahia.

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