Pesquisador Michael Peters aborda a estagnação da produtividade nos EUA e seus impactos globais

A desaceleração da produtividade americana ameaça o crescimento econômico mundial e pode impactar diretamente o desenvolvimento de economias emergentes.
A desaceleração da produtividade nos Estados Unidos e na Europa reflete mudanças estruturais profundas na economia global, com impactos sobre a inovação, o crescimento econômico e o dinamismo empresarial.

Nas últimas duas décadas, os Estados Unidos enfrentaram uma desaceleração significativa no crescimento da produtividade, refletindo uma mudança estrutural na dinâmica de sua economia. Entre 1947 e 2005, a produtividade do trabalho crescia a uma média anual de 2,3%, mas, desde então, essa taxa caiu para 1,3%. Embora a diferença pareça modesta, as consequências são substanciais. Caso o ritmo anterior tivesse sido mantido, a economia americana teria gerado cerca de US$ 11 trilhões adicionais em bens e serviços até 2018, segundo dados do US Bureau of Labor Statistics.

Esse fenômeno não se restringe aos Estados Unidos. Na Europa, o crescimento da produtividade foi ainda mais lento, ampliando a diferença de Produto Interno Bruto (PIB) per capita entre os dois continentes. Essa desaceleração nas economias avançadas tem implicações que se estendem às economias emergentes, onde o crescimento é crucial para a redução da pobreza e o desenvolvimento sustentável.

Fatores por Trás da Estagnação

Michael Peters, professor de economia da Universidade de Yale, destaca dois fatores principais para explicar a estagnação da produtividade. O primeiro é a difusão desigual de novas tecnologias de informação, que beneficiou grandes corporações e dificultou a ascensão de pequenas empresas e startups. O segundo é o declínio no crescimento populacional, que reduziu a formação de novos negócios e enfraqueceu o dinamismo empresarial.

Esses fatores diminuíram o processo de “destruição criativa”, conceito formulado pelo economista Joseph Schumpeter, que descreve a substituição de empresas obsoletas por novas e inovadoras. A estagnação da destruição criativa contribuiu para a redução do dinamismo econômico nos EUA e na Europa, limitando a capacidade de adaptação e inovação das economias.

Impactos no Mercado de Trabalho e na Economia

A produtividade pode ser medida por meio da produtividade do trabalho — produção por hora trabalhada — e pela produtividade total dos fatores (PTF), que avalia também o uso de capital e outros insumos. Ambas as métricas, após crescimento robusto nas décadas de 1960 e 1970, passaram por uma desaceleração a partir de 2003, com a produtividade do trabalho crescendo abaixo de 1,5% ao ano.

Paralelamente, a criação de novos negócios nos EUA diminuiu de 13% em 1980 para 8% em 2018, enquanto as grandes empresas aumentaram sua participação no mercado. O tamanho médio das empresas cresceu, o que indica um aumento na concentração econômica. Esse ambiente menos competitivo reduz o estímulo à inovação e contribui para a estagnação da produtividade.

As grandes empresas, que consolidaram seu domínio em setores estratégicos como tecnologia e varejo, aumentaram suas margens de lucro, triplicando seus ganhos médios desde 1980. Entretanto, o aumento do poder de mercado dessas corporações não resultou em benefícios proporcionais para os trabalhadores. A participação dos salários na economia americana caiu cinco pontos percentuais desde 1980, enfraquecendo o poder de barganha dos trabalhadores e agravando as desigualdades econômicas.

Relação entre Demografia e Produtividade

A desaceleração do crescimento populacional nos EUA também está diretamente ligada ao declínio da produtividade. A menor taxa de crescimento da população reduz a formação de novos negócios e a inovação, fatores essenciais para o crescimento econômico. Com menos empreendedores no mercado, a destruição criativa, que impulsionou o dinamismo empresarial no século XX, perdeu força, limitando a capacidade de adaptação das economias avançadas.

O Papel da Tecnologia

A difusão de tecnologias de informação favoreceu as grandes empresas, que ganharam economias de escala e aumentaram sua competitividade em mercados globais. No entanto, isso dificultou a entrada de novas empresas, que enfrentam barreiras tecnológicas e financeiras significativas para competir com as corporações estabelecidas. A falta de concorrência enfraquece o processo de inovação, exacerbando a estagnação da produtividade.

Políticas para Reverter o Cenário

A reversão da desaceleração da produtividade exige a implementação de políticas que incentivem a inovação e a competitividade. Reformas no ambiente regulatório, políticas de imigração para compensar o declínio populacional e ações antitruste para limitar o poder de mercado das grandes corporações são medidas essenciais. Além disso, é necessário fortalecer a destruição criativa por meio de estímulos à formação de novos negócios.

A desaceleração da produtividade nos Estados Unidos tem implicações globais, especialmente para as economias emergentes, que dependem do crescimento das grandes economias para impulsionar seu próprio desenvolvimento. O futuro do crescimento econômico global está diretamente relacionado à capacidade das economias desenvolvidas de restaurar seu dinamismo e competitividade.

Quem é Michael Peters

Michael Peters é professor associado de economia na Universidade de Yale, uma das instituições de ensino mais prestigiadas do mundo, onde se destaca como um dos principais estudiosos nas áreas de crescimento econômico, desenvolvimento e produtividade. Sua pesquisa explora questões centrais sobre as dinâmicas que impulsionam o progresso econômico, com foco em como a inovação, as mudanças tecnológicas e as políticas públicas podem impactar o crescimento de longo prazo.

Além de sua atuação em Yale, Peters é também pesquisador no National Bureau of Economic Research (NBER), uma das mais respeitadas instituições de pesquisa econômica dos Estados Unidos. O NBER é conhecido por suas contribuições fundamentais à análise econômica e às políticas públicas, e Peters tem sido uma figura chave no estudo da produtividade, concentração de mercado e mudanças estruturais na economia global.

Peters também mantém afiliação como pesquisador no Centre for Economic Policy Research (CEPR), um dos maiores centros de pesquisa de economia da Europa. O CEPR é conhecido por reunir acadêmicos de renome para a discussão de políticas econômicas que promovam o crescimento sustentável e o bem-estar global, e Peters contribui ativamente com análises sobre as forças que moldam a inovação e o crescimento nos mercados globais.

Sua produção acadêmica é extensa, incluindo estudos sobre o declínio do dinamismo econômico nos Estados Unidos, a desigualdade na difusão de novas tecnologias e a evolução das estruturas de mercado. Peters combina uma sólida base teórica com análises empíricas robustas, buscando fornecer respostas para alguns dos maiores desafios econômicos contemporâneos.

Ele é frequentemente convidado para participar de conferências internacionais e workshops acadêmicos, onde apresenta suas pesquisas sobre a relação entre concentração de mercado, inovação tecnológica e produtividade. Sua expertise faz dele uma referência importante tanto para o meio acadêmico quanto para formuladores de políticas econômicas que buscam entender os fatores por trás da estagnação econômica e as melhores estratégias para restaurar o crescimento sustentável.

A pesquisa de Michael Peters não se restringe ao contexto americano, uma vez que ele explora como as transformações econômicas nos Estados Unidos podem impactar outras economias ao redor do mundo. Ele defende a necessidade de políticas que incentivem a inovação, maior concorrência e a adoção de novas tecnologias, sempre destacando a importância de equilibrar crescimento econômico com justiça social.

Com um profundo entendimento dos mecanismos que regulam a produtividade e o desenvolvimento, Michael Peters desempenha um papel crucial no debate sobre o futuro da economia global, sendo uma voz respeitada na busca de soluções para promover o dinamismo econômico e enfrentar os desafios do século XXI.

Fonte bibliográfica 

O artigo “A América deve redescobrir seu dinamismo”, de autoria de Michael Peters, argumenta que o crescimento mais lento da produtividade na maior economia do mundo tem repercussões globais.

A reportagem ‘Pesquisador Michael Peters aborda a estagnação da produtividade nos EUA e seus impactos globais‘ , é parte da série de publicações do Jornal Grande Bahia com o tema ‘Fundamental Para Quem Pensa’.

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