Sonhos em meio às telas: crianças e adolescentes na busca por felicidade e propósito, segundo a professora e psicóloga Gilma Reis

Alunos do sexto ano em uma atividade escolar, refletindo sobre seus sonhos e a construção do futuro em um mundo digitalizado.
Alunos do sexto ano em uma atividade escolar, refletindo sobre seus sonhos e a construção do futuro em um mundo digitalizado.

Na quarta-feira (25/09/2024), alunos do sexto ano de escola de Araci, na Bahia, participaram de uma atividade proposta pela professora e psicóloga Gilma Reis. O exercício consistia em escrever uma breve redação sobre os sonhos e o conceito de felicidade, desafiando os jovens a refletirem sobre seus projetos de vida e propósitos. Dentre os sonhos mencionados, estavam formar uma família, conquistar um trabalho, fazer faculdade e participar de uma religião. Essas respostas evidenciam que, apesar do contexto marcado pela crescente influência das telas e do consumismo, crianças e adolescentes continuam desenvolvendo metas e expectativas para o futuro.

A atividade revelou uma contradição do cenário atual: mesmo vivendo em uma sociedade imersa no incentivo ao consumo, com fácil acesso a tecnologias que podem limitar a criatividade, os jovens ainda expressam desejos de realizar sonhos concretos e significativos. Embora se observe um ambiente pouco favorável ao desenvolvimento de atividades imaginativas, como brincadeiras e fantasias, ainda existe espaço para o planejamento e a construção de objetivos pessoais.

A professora Gilma Reis argumenta que vivemos em uma sociedade industrializada e globalizada, onde grande parte das experiências está pronta e pré-fabricada, deixando pouco espaço para o exercício criativo de crianças e adolescentes. A mentalidade predominante, segundo a docente, é a de que tudo pode ser obtido sem esforço, o que afeta o comportamento dos jovens, levando-os à apatia e à inércia diante dos desafios da vida. Isso, aliado ao bombardeio de estímulos consumistas, gera a falsa ideia de que o prazer imediato pode ser alcançado sem dedicação ou sacrifícios.

Os relatos colhidos durante a atividade também chamam a atenção para questões mais amplas. A influência da cultura midiática e a pressão por uma busca constante de bem-estar e prazer têm gerado consequências psicológicas graves entre os jovens. Gilma Reis afirma que, além da apatia e ansiedade, há um aumento nos casos de depressão e comportamentos suicidas entre crianças e adolescentes. Para ela, esse cenário reflete uma lacuna no papel da família, da escola e das instituições religiosas na orientação desses indivíduos quanto ao sentido da vida.

Outro ponto abordado pela professora é a falta de compromisso da sociedade pós-moderna com as crianças e adolescentes. Segundo ela, o sistema econômico prioriza o lucro e utiliza estratégias de propaganda para despertar desejos desnecessários. A busca pelo prazer imediato, alimentada pela mídia, acaba por alienar os jovens, afastando-os de valores fundamentais como compromisso, responsabilidade e caráter.

Gilma Reis questiona se é possível alcançar a felicidade e realizar sonhos sem esforço e mobilização. Para ela, a felicidade não está necessariamente ligada ao prazer, que é frequentemente associado a sensações momentâneas e externas, mas à capacidade de realizar projetos de vida. O conceito de felicidade, portanto, é construído por meio do engajamento em atividades que envolvem dedicação, frustração e crescimento pessoal.

A psicóloga argumenta que, para alcançar a felicidade, é necessário se conectar com propósitos, metas e objetivos de vida. Atividades triviais, como estudar ou trabalhar, também podem gerar felicidade, desde que realizadas com um sentido maior. Assim, a criatividade e o planejamento, por mais simples que sejam, desempenham um papel central no desenvolvimento pessoal.

Segundo Gilma, o ser humano possui uma dimensão infinita de possibilidades interiores, capaz de sonhar, planejar e projetar mesmo em meio a desafios sociais e econômicos. Esse processo de imaginação e criação pode ser uma força poderosa na superação das dificuldades e na construção de um futuro mais pleno para as crianças e adolescentes.

Por fim, a educadora reforça que o apoio da família, da escola e das instituições religiosas é essencial para que os jovens consigam desenvolver seus sonhos de forma saudável e alcançar a realização pessoal. A dedicação a esses projetos de vida, muitas vezes ignorada em uma sociedade voltada para o consumo imediato, deve ser incentivada desde cedo, para que a próxima geração não apenas sonhe, mas também realize seus propósitos com compromisso e esforço.


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