Publicado por Nicholas Eberstadt na Foreign Affairs em 10 de outubro de 2024, o artigo “A Era do Despovoamento: Sobrevivendo a um Mundo que se Tornou Cinza” apresenta uma análise detalhada sobre o iminente declínio populacional global. Este fenômeno, impulsionado pela queda nas taxas de natalidade, coloca a humanidade diante de desafios sociais, econômicos e geopolíticos significativos.
A Queda Global da Fertilidade
Nas últimas décadas, as taxas de natalidade em várias regiões do mundo caíram drasticamente. Países que antes apresentavam altos índices de fertilidade agora registram taxas bem abaixo do nível de reposição. Este padrão é particularmente evidente no Leste Asiático, Europa e América Latina, onde a “mortalidade líquida” – mais mortes do que nascimentos – já é uma realidade. Em regiões como o Japão, Coreia do Sul, China e Taiwan, os níveis de fertilidade estão até 65% abaixo do necessário para manter a população estável.
O Contexto da Mortalidade Líquida
A mortalidade líquida é um dos marcos dessa nova era demográfica. Ela já está presente em várias nações e deve se expandir para outros países nas próximas décadas. De acordo com Eberstadt, essa dinâmica mudará a estrutura social e econômica das sociedades, impondo desafios complexos, especialmente em relação à força de trabalho e à sustentabilidade dos sistemas de seguridade social. Com menos nascimentos e um número crescente de idosos, os governos precisam se preparar para uma redistribuição de recursos, focando na manutenção de serviços essenciais para uma população envelhecida.
O Envelhecimento da População
O envelhecimento populacional é outra característica marcante do despovoamento global. Países com uma estrutura demográfica envelhecida, como os da Europa e do Leste Asiático, já enfrentam uma inversão das pirâmides populacionais, com mais idosos do que jovens. O impacto desse processo será sentido no mercado de trabalho, com a redução do número de trabalhadores disponíveis, e nos sistemas de saúde, que precisarão lidar com uma demanda crescente por cuidados prolongados e especializados.
Consequências para a Força de Trabalho
A redução da força de trabalho é uma das principais consequências do envelhecimento populacional. Sem uma reposição adequada de jovens, as economias enfrentarão dificuldades para sustentar o crescimento e a inovação. A falta de mão de obra qualificada se tornará um obstáculo para o desenvolvimento econômico, afetando especialmente os setores de tecnologia e serviços, que dependem fortemente de jovens profissionais.
Políticas de Adaptação ao Despovoamento
Governos ao redor do mundo têm tentado reverter a queda da natalidade com políticas pró-natalidade, mas essas iniciativas, até agora, têm sido ineficazes. Eberstadt argumenta que a solução para o despovoamento não está na simples tentativa de aumentar as taxas de natalidade, mas sim na adaptação das sociedades a essa nova realidade. Isso inclui a implementação de políticas que incentivem a permanência de idosos no mercado de trabalho e a criação de sistemas de apoio mais eficientes para uma população envelhecida.
A Importância da Imigração
Nos Estados Unidos, apesar da queda nas taxas de fertilidade, a imigração tem desempenhado um papel crucial na manutenção de uma força de trabalho ativa e jovem. Países com políticas migratórias mais abertas terão vantagens em um mundo despovoado, onde a competição por talentos e mão de obra se tornará mais acirrada. A imigração será essencial para compensar a perda de trabalhadores e manter o dinamismo econômico.
Impactos Geopolíticos do Despovoamento
O declínio populacional também terá consequências geopolíticas importantes. Países como China, Rússia e Japão, com populações em envelhecimento e força de trabalho em declínio, verão sua capacidade de influência global enfraquecida. A longo prazo, a redistribuição de poder entre as nações pode ser afetada por essas tendências demográficas, alterando o equilíbrio global.
Um Novo Papel para a África Subsaariana
Enquanto o restante do mundo enfrenta uma diminuição populacional, a África Subsaariana é a única região que ainda apresenta altas taxas de natalidade. No entanto, mesmo lá, a queda na fertilidade já começou, embora de forma mais lenta. A capacidade da região de capitalizar seu potencial demográfico dependerá de investimentos em educação, infraestrutura e políticas de saúde.
Despovoamento e Tecnologia
O avanço tecnológico pode ser uma solução para alguns dos problemas decorrentes do despovoamento. Inovações em inteligência artificial, robótica e automação podem ajudar a compensar a falta de trabalhadores, especialmente em setores críticos como o cuidado de idosos. Contudo, essas tecnologias ainda estão longe de substituir completamente a força de trabalho humana, e seus custos podem ser altos.
Principais dados da pesquisa sobre declínio populacional global
Queda da Fertilidade
- Japão: 40% abaixo da taxa de reposição.
- Coreia do Sul: 65% abaixo da taxa de reposição.
- China: 50% abaixo da taxa de reposição.
- Europa (União Europeia): 30% abaixo da taxa de reposição desde 2012.
Envelhecimento Populacional
- Coreia do Sul: Projeção de que 40% da população terá mais de 65 anos até 2050.
- Europa: Queda populacional projetada desde 2020, com aumento na proporção de idosos.
- Estados Unidos: Projeção de crescimento moderado da população até 2080, devido à imigração.
Políticas Pró-natalidade
- Falhas globais: Iniciativas governamentais para aumentar as taxas de natalidade não têm conseguido reverter a tendência de despovoamento.
Impactos Geopolíticos
- China e Rússia: Forças de trabalho em declínio, afetando a capacidade de influência global.
- África Subsaariana: Ainda possui alta taxa de fertilidade, mas o declínio populacional também está em curso.
Perfil biográfico do pesquisador
Nicholas Eberstadt é um renomado economista e demógrafo norte-americano, ocupando a Cátedra Henry Wendt de Economia Política no American Enterprise Institute (AEI), uma influente instituição de pesquisa com sede em Washington, D.C. Sua trajetória acadêmica e profissional destaca-se pela análise de questões populacionais, políticas públicas, desenvolvimento econômico e pobreza, com foco em tendências demográficas globais e o impacto dessas mudanças sobre a economia e a sociedade.
Eberstadt possui formação acadêmica sólida, com graduação em História pela Universidade de Harvard, mestrado em Ciências Políticas pela London School of Economics e doutorado em Economia Política pela Harvard Kennedy School. Seus estudos também englobam geopolítica e segurança nacional, especialmente em relação à Coreia do Norte, China e outros países em desenvolvimento.
Como autor prolífico, Eberstadt publicou diversos livros e artigos acadêmicos, muitos dos quais se tornaram referência no campo da demografia e economia política. Entre suas obras mais notáveis, destacam-se “The Tyranny of Numbers” e “Men Without Work”, que discutem os desafios impostos pela estagnação do crescimento populacional e o declínio da força de trabalho nos Estados Unidos.
Eberstadt é amplamente reconhecido por suas contribuições no estudo da pobreza e da desigualdade global. Seus trabalhos exploram a relação entre crescimento populacional, política econômica e desenvolvimento humano, sempre com uma perspectiva baseada em dados empíricos rigorosos. Além disso, sua análise sobre a Coreia do Norte ganhou destaque por fornecer uma visão detalhada sobre a economia e a política interna do país, desafiando percepções convencionais.
Ao longo de sua carreira, Eberstadt serviu como consultor para diversas organizações governamentais e internacionais, compartilhando sua expertise em demografia e políticas públicas. Sua influência estende-se além do mundo acadêmico, participando ativamente de debates políticos e econômicos sobre o futuro das sociedades no contexto de mudanças demográficas e tecnológicas.
Com uma carreira marcada pelo rigor analítico e pela capacidade de transformar dados em insights profundos, Nicholas Eberstadt continua a ser uma voz respeitada nas discussões sobre as interseções entre demografia, economia e política internacional.
Fonte bibliográfica
A reportagem “A era do despovoamento e os desafios e perspectivas para um mundo em declínio populacional são abordados pelo pesquisador Nicholas Eberstadt“, é parte da série de publicações do Jornal Grande Bahia com o tema ‘Fundamental Para Quem Pensa’.
O artigo “A Era do Despovoamento”, de autoria de Nicholas Eberstadt, publicado em outubro de 2024 na Foreign Affairs, aborda o despovoamento global iminente provocado pela queda nas taxas de natalidade. Com o envelhecimento populacional, as economias e estruturas sociais enfrentarão desafios profundos, exigindo adaptação tecnológica e políticas de imigração eficazes. Enquanto algumas nações conseguirão ajustar-se a essa nova realidade, outras poderão sofrer um declínio em sua influência global.
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