Inteligência Artificial como motor do crescimento econômico global e os desafios e perspectivas são abordados pelo pesquisador Michael Spence

O impacto da inteligência artificial (IA) na produtividade global poderá influenciar a recuperação econômica pós-pandemia, com ênfase na sustentabilidade e na transição energética.
O impacto da inteligência artificial (IA) na produtividade global poderá influenciar a recuperação econômica pós-pandemia, com ênfase na sustentabilidade e na transição energética.

A economia global enfrenta diversos desafios desde a pandemia, incluindo a desaceleração do crescimento econômico, a inflação persistente, os altos custos de empréstimos e a estagnação da produtividade. Nesse contexto, a inteligência artificial (IA) surge como uma ferramenta crucial para impulsionar a produtividade e superar essas barreiras. O artigo de Michael Spence, “A promessa da IA para a economia global”, publicado em setembro de 2024, discute as potencialidades da IA e os seus impactos em várias áreas da economia, como as cadeias de suprimentos, as taxas de juros e o mercado de trabalho.

O crescimento econômico global pós-pandemia

Nos anos que se seguiram à pandemia, a economia global foi marcada por uma série de dificuldades: o crescimento econômico mais lento em décadas, a inflação elevada, a pressão sobre as metas de sustentabilidade e o aumento dos custos de empréstimos, dificultando o investimento. Esses problemas foram exacerbados pelo fraco crescimento da produtividade, particularmente desde a crise financeira global de 2008. A produtividade, que é um dos motores essenciais do crescimento econômico, tem sido um dos maiores desafios para as economias desenvolvidas.

Nesse cenário, a IA apresenta-se como uma das melhores soluções para relaxar as restrições do lado da oferta que agravam as dificuldades econômicas globais. Ao reverter a tendência de queda da produtividade, a IA pode gerar um aumento significativo e sustentado na eficiência econômica.

Forças que moldam a economia global

Michael Spence aponta três forças principais que estão moldando a economia global e que se entrelaçam com o desenvolvimento da IA: os choques globais, as tendências seculares e as revoluções tecnológicas.

  1. Choques globais
    O primeiro conjunto de forças consiste em choques como guerras, mudanças climáticas, tensões geopolíticas e a pandemia. Esses fatores têm causado disrupções nas cadeias de suprimentos globais, forçando empresas e governos a priorizarem a resiliência e a segurança, em detrimento da eficiência econômica. A diversificação das cadeias de suprimentos, bem como a relocalização de parte da produção para países amigos, tem contribuído para o aumento dos custos e a pressão inflacionária.
  2. Tendências seculares
    O segundo conjunto de forças está relacionado às tendências seculares que reduzem a elasticidade da oferta econômica e aumentam os custos. Entre essas tendências, destacam-se o declínio da produtividade nas economias avançadas, o envelhecimento da população e o aumento da dívida soberana global. Esses fatores têm restringido o crescimento econômico e aumentado as pressões inflacionárias, particularmente nos Estados Unidos e na Europa.
  3. Revoluções tecnológicas
    O terceiro conjunto de forças é composto pelas transformações tecnológicas em curso, especialmente em três áreas: a transformação digital, acelerada pela IA; as ciências biomédicas e da vida; e as tecnologias que sustentam a transição para a energia sustentável. Essas revoluções estão impulsionando investimentos significativos e criando novas oportunidades de crescimento e produtividade, mas também trazem desafios relacionados à adoção e à regulamentação dessas inovações.

O impacto da IA na produtividade global

A inteligência artificial é uma tecnologia de propósito geral, com potencial para impactar todos os setores da economia e aumentar a produtividade de forma ampla. Aplicações de IA já estão sendo incorporadas em dispositivos e setores diversos, desde a manufatura até os serviços. No entanto, Spence argumenta que o maior impacto da IA será sentido em áreas como a pesquisa científica, a transição energética e a ciência dos materiais.

Um dos desafios para que a IA realize seu pleno potencial é a necessidade de regulamentação para evitar o uso indevido da tecnologia e dos dados. Além disso, é preciso superar o viés da automação, que tende a ver a IA como uma substituta para os humanos, ao invés de uma ferramenta de colaboração.

Desafios políticos e econômicos da IA

A acessibilidade e a difusão da IA são questões centrais para garantir que seus benefícios sejam amplamente distribuídos. Para que a IA tenha um impacto econômico significativo, ela deve estar disponível para todos os setores da economia, incluindo pequenas e médias empresas, além de grandes corporações. Políticas de apoio à educação e ao treinamento de habilidades tecnológicas são essenciais para preparar a força de trabalho para as mudanças que a IA trará.

Além disso, Spence alerta para o risco de divergências entre países na adoção de IA. A União Europeia, por exemplo, corre o risco de ficar atrás dos Estados Unidos e da China no desenvolvimento de IA devido ao subfinanciamento da pesquisa, à falta de poder computacional e à fragmentação do mercado interno. A China e a Índia, por outro lado, estão bem posicionadas para se tornarem líderes nesse campo, enquanto outras economias emergentes provavelmente permanecerão consumidoras de IA avançada.

Perspectivas futuras para a economia global com a IA

O uso da IA poderá acelerar o crescimento econômico global, recuperando o crescimento da produtividade. Além disso, a IA pode ajudar a aliviar as restrições do lado da oferta que têm contribuído para a inflação, reduzindo indiretamente as taxas de juros e o custo de capital a longo prazo. Isso será particularmente relevante em um cenário de investimentos trilionários necessários para a transição energética e a adaptação às mudanças climáticas.

Contudo, o sucesso dessa transformação depende de uma abordagem política equilibrada que promova a inovação tecnológica, ao mesmo tempo que mitiga os riscos relacionados ao uso indevido da IA e à exclusão de determinados setores da economia.

Principais dados 

  • Cadeias de suprimentos globais:
    • Reestruturação pós-pandemia para aumentar a resiliência e a segurança nacional.
    • Diversificação da produção (ex: Apple fabricando iPhones na Índia).
  • Produtividade e crescimento econômico:
    • Declínio da produtividade global desde a crise de 2008.
    • Potencial da IA para reverter a queda da produtividade.
  • Dívida soberana e taxa de juros:
    • Crescimento da dívida global, especialmente nos EUA e na Europa.
    • Expectativas de taxas de juros elevadas no médio prazo.
  • Transformações tecnológicas:
    • Três revoluções principais: digital, biomédica e energética.
    • Necessidade de regulamentação da IA e políticas de acessibilidade.
  • Mercado de trabalho:
    • Automação e IA impactarão principalmente os trabalhadores de setores intermediários.
    • Importância de políticas de treinamento e requalificação.

Perfil Biográfico

Michael Spence é uma figura destacada no campo da economia global, reconhecido por suas contribuições acadêmicas e pela atuação em diversas instituições de renome. Ele é membro sênior da Hoover Institution, onde dedica seu tempo à pesquisa e análise de questões econômicas. Além disso, ocupa o título de Philip H. Knight Professor e é reitor emérito da prestigiada Stanford Graduate School of Business.

Um dos principais marcos em sua carreira foi o reconhecimento internacional ao receber o Prêmio Nobel Memorial em Ciências Econômicas, em 2001, pelo seu trabalho pioneiro na teoria da sinalização nos mercados. Esse conceito econômico, que explora a forma como a informação assimétrica afeta as decisões e os resultados nos mercados, tem influenciado profundamente o pensamento econômico contemporâneo e práticas empresariais.

Além de sua trajetória acadêmica, Spence também tem uma carreira marcada pela participação ativa em conselhos e fóruns internacionais. Ele tem contribuído significativamente para o entendimento das forças que moldam a economia global, especialmente no que se refere às inovações tecnológicas, crescimento da produtividade e sustentabilidade econômica.

Fonte bibliográfica 

Publicado no site do Fundo Monetário Internacional (FMI), o artigo “Promessa de produtividade da IA”, de autoria de Michael Spence, defende que, se usada corretamente, a Inteligência Artificial pode acelerar significativamente a expansão econômica e auxiliar na recuperação do crescimento da produtividade.

A reportagem “Inteligência Artificial como motor do crescimento econômico global e os desafios e perspectivas são abordados pelo pesquisador Michael Spence“, é parte da série de publicações do Jornal Grande Bahia com o tema ‘Fundamental Para Quem Pensa’.

Leia +

Jornal Grande Bahia lança série de reportagens com o conceito Fundamental Para Quem Pensa; Carlos Augusto destaca novo projeto editorial


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.