O crescimento econômico tornou-se uma das principais prioridades políticas nas últimas décadas. Líderes de países desenvolvidos e emergentes adotaram a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) como um indicador central de sucesso. No entanto, Daniel Susskind, autor do artigo “Temos de mudar a natureza do crescimento”, alerta para os riscos desse foco excessivo. Embora o crescimento tenha libertado bilhões da pobreza e melhorado a qualidade de vida em várias partes do mundo, também trouxe consigo desafios ambientais, sociais e tecnológicos que precisam ser enfrentados com urgência.
Segundo Susskind, o crescimento econômico, tal como o conhecemos, contribuiu para crises ambientais, o avanço de desigualdades e a criação de tecnologias poderosas que ameaçam desestabilizar mercados de trabalho e instituições políticas. Diante disso, ele argumenta que é preciso reavaliar a obsessão por crescimento constante e refletir sobre suas consequências mais amplas.
A ascensão da obsessão com o crescimento
A ideia de buscar o crescimento econômico como prioridade política é relativamente recente. Durante a maior parte da história humana, a vida era caracterizada pela estagnação econômica, com sociedades presas a uma luta constante pela sobrevivência. Economistas clássicos, como Adam Smith e David Ricardo, previam que qualquer período de prosperidade seria inevitavelmente seguido por um “estado estacionário” de estagnação.
Essa visão mudou radicalmente no século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial. A Guerra Fria, em particular, acelerou a busca pelo crescimento, com as economias dos EUA e da União Soviética competindo entre si. O crescimento econômico tornou-se uma medida central de poder e sucesso nacional, especialmente na comparação entre os sistemas capitalista e comunista.
Os benefícios do crescimento e o surgimento de novas desigualdades
Apesar de seus impactos adversos, o crescimento econômico trouxe benefícios inegáveis à humanidade. Desde 1820, a pobreza extrema caiu drasticamente, a expectativa de vida aumentou e o analfabetismo foi praticamente erradicado em muitas regiões. A era do crescimento permitiu a criação de Estados de bem-estar social robustos, proporcionando serviços essenciais como saúde e educação a milhões de pessoas.
Contudo, essa prosperidade não foi distribuída igualmente. O progresso tecnológico, um dos principais impulsionadores do crescimento, também gerou novas desigualdades. Indústrias inteiras foram destruídas ou modificadas drasticamente por novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA), que, por sua vez, também ameaça o emprego e aumenta a disparidade de renda entre diferentes grupos.
O dilema do crescimento e o movimento pelo decrescimento
Diante dos problemas decorrentes do crescimento descontrolado, surgiu o movimento do “decrescimento”, que defende a redução do crescimento econômico como uma solução para evitar uma catástrofe ambiental e social. Susskind reconhece que os defensores do decrescimento têm razão em alertar para os danos causados pela busca incessante por crescimento. No entanto, ele discorda da ideia de abandonar o crescimento por completo, afirmando que tal medida seria catastrófica para bilhões de pessoas em todo o mundo.
O crescimento pode ser feito de maneira mais sustentável, argumenta o autor. Em vez de cessar o desenvolvimento econômico, devemos focar em mudar a natureza do crescimento para torná-lo menos destrutivo e mais justo. Tecnologias verdes, como energia solar, já demonstram ser possíveis alternativas para crescer sem impactar negativamente o meio ambiente.
O papel da inovação tecnológica no futuro do crescimento
Susskind propõe que a inovação tecnológica é a chave para reformular o crescimento. Tecnologias como a inteligência artificial podem desempenhar um papel crucial na descoberta de novas ideias e soluções. Um exemplo citado no artigo é o AlphaFold da DeepMind, que revolucionou a compreensão das proteínas e abriu novas portas para o tratamento de doenças.
Além disso, Susskind defende mudanças no regime de propriedade intelectual para permitir que mais pessoas tenham acesso a ideias e possam contribuir com inovações. A desigualdade, segundo ele, também é um obstáculo para o progresso. Se as minorias e grupos marginalizados tivessem as mesmas oportunidades de inventar e contribuir para o desenvolvimento tecnológico, o crescimento seria muito mais inclusivo e benéfico para todos.
Reformulando o crescimento para um futuro mais sustentável
O autor conclui seu artigo com uma proposta de ação: usar a tecnologia não apenas para crescer economicamente, mas para criar um mundo mais justo e sustentável. Assim como os esforços bem-sucedidos de redução de emissões de carbono nos últimos anos mostraram que o crescimento verde é possível, Susskind acredita que podemos redirecionar o progresso tecnológico para atender às demandas sociais e ambientais. Essa, segundo ele, é a tarefa mais urgente de nossa época.
Vivemos em um momento crítico, em que o crescimento econômico pode ser repensado para garantir não apenas prosperidade material, mas também justiça social e sustentabilidade ecológica. O autor sugere que, ao adotar novas tecnologias e reformular incentivos, podemos transformar o crescimento em uma força para o bem, permitindo que a humanidade prospere sem destruir o planeta.
Principais abordados na pesquisa de Daniel Susskind
- Período de estagnação econômica: Durante a maior parte da história humana, a vida era caracterizada pela estagnação econômica.
- Aceleração do crescimento: O crescimento econômico tornou-se central no século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria.
- Impactos do crescimento: O crescimento econômico tirou bilhões de pessoas da pobreza extrema, aumentou a expectativa de vida e reduziu o analfabetismo, mas também gerou desigualdades e problemas ambientais.
- Desigualdades: Tecnologias como a IA criaram novas desigualdades e ameaças ao mercado de trabalho.
- Decrescimento: O movimento do decrescimento propõe uma redução do crescimento econômico como resposta aos problemas ambientais, mas Susskind alerta para os riscos de uma desaceleração total.
- Tecnologia como solução: A inovação tecnológica, como o AlphaFold, é vista como a chave para reformular o crescimento e torná-lo mais sustentável e inclusivo.
Perfil biográfico
Daniel Susskind é um economista e acadêmico britânico, especializado no estudo das implicações da tecnologia para o futuro do trabalho, a economia e a sociedade. Atualmente, ele é professor pesquisador no King’s College London e membro associado do departamento de economia da Universidade de Oxford, onde também atua como pesquisador sênior no Instituto de Ética em Inteligência Artificial (IA). Susskind é conhecido por suas análises sobre o impacto das tecnologias emergentes, como a IA, na economia global e nas condições de trabalho.
Além de seu trabalho acadêmico, Susskind também é autor de livros influentes que discutem o futuro do crescimento econômico e as mudanças nas dinâmicas de trabalho devido ao avanço tecnológico. Entre suas principais obras está Growth: A History and a Reckoning, onde explora a relação entre crescimento econômico, progresso tecnológico e os desafios éticos que surgem com a IA. Susskind tem defendido a necessidade de uma abordagem equilibrada para o desenvolvimento tecnológico, que leve em consideração tanto os benefícios quanto os desafios éticos e sociais.
Ele é frequentemente convidado a falar em conferências internacionais e é consultado por instituições públicas e privadas para discutir estratégias e políticas relacionadas ao futuro do trabalho e da economia em um mundo cada vez mais digitalizado.
Fonte bibliográfica
O artigo “Temos de mudar a natureza do crescimento”, de autoria de Daniel Susskind, aborda como a busca pelo crescimento econômico é uma de nossas ideias mais preciosas, mas também uma das mais perigosas.
A reportagem “O dilema do crescimento e uma redefinição sobre o futuro econômico e tecnológico são abordados pelo pesquisador Daniel Susskind“, é parte da série de publicações do Jornal Grande Bahia com o tema ‘Fundamental Para Quem Pensa’.
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