Transferência de inquérito ao STF e mensagens de lobista indicam possível envolvimento de ministros do STJ em venda de sentenças; Investigação revela conexão com o Caso Faroeste

Dispositivo celular apreendido pela Polícia Federal pode conter informações cruciais sobre esquema de venda de sentenças judiciais envonendo desembargadores do TJMS, STJ e conexões com a Operação Faroeste.
Dispositivo celular apreendido pela Polícia Federal pode conter informações cruciais sobre esquema de venda de sentenças judiciais envonendo desembargadores do TJMS, STJ e conexões com a Operação Faroeste.

O empresário e lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que atua no setor de transportes e sem formação jurídica, encontra-se como investigado no centro de suposto esquema de venda de sentenças judiciais. Gonçalves, conhecido por sua relação com desembargadores e servidores de tribunais em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, afirma ter acesso a magistrados e “amizades” em gabinetes estratégicos do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A rede de influência o levou a participar de eventos importantes, como a posse de três magistrados do STJ e encontros com figuras do meio artístico e político.

As investigações da Polícia Federal (PF) ganharam novo fôlego após a apreensão do celular de Gonçalves, considerado fundamental para o caso. O aparelho, registrado no nome de sua esposa, a advogada Miriam Ribeiro Rodrigues de Mello Gonçalves, foi encontrado em uma operação realizada no dia 24 de outubro de 2020, quando a PF executou mandados de busca e apreensão em endereços vinculados ao lobista. Gonçalves recusou-se a fornecer a senha do dispositivo, que permanece bloqueado. As autoridades esperam que o conteúdo do celular revele mais detalhes sobre a rede de contatos e o funcionamento do esquema, complementando dados obtidos anteriormente a partir do telefone do advogado Roberto Zampieri, assassinado no final de 2023, que já havia trazido indícios de negociações ilícitas no STJ.

O celular de Gonçalves é apontado como peça-chave para esclarecer ligações do lobista com autoridades e integrantes da estrutura judicial. Em mensagens trocadas com Zampieri, o lobista cita nominalmente chefes de gabinete e servidores de gabinetes de ministros do STJ, que supostamente seriam recompensados para redigir minutas de votos em processos no tribunal. Há registros de pedidos de pagamento e encontros com assessores, incluindo uma servidora que estaria envolvida na comercialização de decisões. As investigações preliminares da PF ainda não encontraram provas de que os ministros tivessem conhecimento do esquema, mas a análise do conteúdo do celular e a geolocalização das conversas em datas específicas poderão aprofundar as evidências.

Logo após as revelações iniciais, a então presidente do STJ, ministra Maria Thereza de Assis Moura, convocou uma reunião emergencial com os quatro ministros mencionados nos diálogos: Paulo Moura Ribeiro, Og Fernandes, Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. A presidência anunciou a abertura de uma investigação interna para apurar os relatos de envolvimento dos assessores e esclarecer a prática de utilização de minutas para a produção de votos. Embora ministros como Og Fernandes e Isabel Gallotti tenham expressado confiança em suas equipes, o avanço das investigações pressiona o STJ a enfrentar um contexto de cautela e de apuração rigorosa das acusações, à medida que mais elementos emergem sobre o suposto esquema.

O andamento das investigações pode estabelecer novos parâmetros para o controle interno do tribunal e para as práticas de integridade nos processos judiciais, refletindo o compromisso das autoridades com a proteção da independência e da lisura das decisões judiciais no país.

Nota à imprensa do STJ

Em nota divulgada na sexta-feira (25/10), o STJ destacou que segue comprometido com a ética e a transparência, reafirmando o objetivo de concluir a apuração disciplinar, ao lado do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, e aplicar os parâmetros legais.

“O Superior Tribunal de Justiça (STJ) informa que instaurou um segundo procedimento administrativo disciplinar nesta sexta-feira (25) e afastou cautelarmente mais um servidor citado nas investigações a respeito da atuação ilícita de agentes em gabinetes. Até o momento, não há qualquer indício de envolvimento de ministros. O prazo de conclusão do processo seguirá as regras do artigo 152 da Lei 8.112/90.

Com essa medida, o tribunal expande as investigações que podem resultar em novos procedimentos internos. Os processos estão sendo complementados por dados compartilhados pela Polícia Federal e pela Corregedoria Nacional de Justiça. Ressalte-se que, no âmbito disciplinar, o procedimento seguirá as fases de instrução, defesa e relatório, garantindo-se, a um só tempo, os esclarecimentos necessários e a possibilidade do contraditório.

O tribunal, respeitando seu compromisso com a ética e a transparência na relação com a sociedade, divulgará oportunamente a conclusão da apuração administrativa”.

Conexões com o Caso Faroeste

A investigação da Polícia Federal também explora conexões entre o esquema de venda de sentenças no STJ e a Operação Faroeste, que investiga suposta corrupção praticadas por membros do Ministério Público da Bahia (MPBA), ex-chefe e servidores da Secretária de Segurança Pública da Bahia (SSP), juízes e desembargadores do Poder Judiciário Estadual da Bahia (PJBA). Segundo as apurações, duas sentenças do ministro Og Fernandes, relacionadas à Operação Faroeste, foram supostamente vazadas. A operação já havia exposto uma rede de influências que incluía magistrados e agentes públicos, e o novo inquérito busca aprofundar o entendimento de como decisões judiciais poderiam estar sendo negociadas para beneficiar interesses específicos, ampliando a suspeita de envolvimento de autoridades de alta patente no Judiciário.

O relator do Caso Venditio Sententiae no STF

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), foi sorteado como relator da investigação sigilosa da Polícia Federal sobre a suposta venda de sentenças envolvendo gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O inquérito, que inicialmente focava em servidores, apontou indícios de participação de ministros do STJ com foro privilegiado no STF. Entre os mencionados estão os ministros Og Fernandes, Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Paulo Dias Moura. As investigações indicam a participação de servidores como intermediários, com apoio do lobista Andreson Oliveira Gonçalves e da advogada Caroline Azeredo.

O Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu a investigação contra cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, investigados na Operação Ultima Ratio por supostos crimes de corrupção, como venda de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, organização criminosa, extorsão e falsificação de documentos. O caso foi transferido ao STF a pedido do ministro Francisco Falcão, do Superior Tribunal de Justiça, sendo agora conduzido pelo ministro Cristiano Zanin, com envolvimento do Ministério Público Federal e da Polícia Federal.

Segundo site Gazeta Brasil, um dos servidores investigados, identificado como Márcio, trabalhou nos gabinetes de Gallotti e Andrighi, onde teria participado de negociações para a venda de decisões judiciais. Segundo as apurações, Márcio atuava no STJ há 20 anos, tendo passado por 8 gabinetes diferentes.

*Com informações da Revista Veja.


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