Em um editorial publicado nesta segunda-feira (28/10/2024) no The Washington Post, Jeff Bezos, proprietário do jornal, analisa a crise de confiança que afeta a imprensa americana. Em sua visão, as pesquisas anuais, incluindo o levantamento Gallup deste ano, mostram que o jornalismo ocupa agora o último lugar entre as profissões mais confiáveis dos Estados Unidos da América, abaixo do Congresso. Segundo Bezos, essa desconfiança crescente sugere que a mídia falha em transmitir precisão e isenção, pilares essenciais à sua missão informativa.
Bezos introduz uma analogia para ilustrar a questão da confiança: máquinas de votação não só precisam contar os votos com precisão, mas também precisam ser percebidas como confiáveis. Com os jornais, ocorre algo similar: a precisão factual é crucial, mas igualmente importante é a percepção pública de que essa precisão existe. No entanto, afirma Bezos, muitos leitores consideram a mídia parcial, o que revela uma desconexão entre a imagem pública do jornalismo e seu compromisso com a objetividade.
Reformas e Decisões de Princípio
Um dos pontos centrais de Bezos é a decisão do The Washington Post de interromper os endossos de candidatos presidenciais. Em sua análise, esse tipo de endosso, em vez de influenciar o voto, cria uma percepção de parcialidade e enfraquece a ideia de independência jornalística. Segundo ele, a decisão de não mais endossar candidatos presidenciais é uma medida importante para recuperar a confiança do público. Essa posição, defendida anteriormente pelo ex-editor Eugene Meyer, representa um passo na direção de uma imprensa mais isenta, ainda que não seja uma solução completa para os problemas de credibilidade.
Bezos destaca que a decisão foi tomada de forma independente, sem consulta a candidatos ou campanhas políticas. Em um incidente que ele considera lamentável, Dave Limp, diretor executivo da Blue Origin, uma de suas empresas, encontrou-se com o ex-presidente Donald Trump no mesmo dia em que o anúncio foi feito. A coincidência, segundo Bezos, foi explorada por críticos, embora não houvesse qualquer conexão entre os fatos. Bezos explica que, ao longo de seus onze anos como proprietário do The Washington Post, jamais interferiu editorialmente em prol de interesses pessoais ou comerciais.
Conflitos de Interesse e a Imparcialidade da Mídia
Bezos reconhece que, como proprietário de uma ampla gama de negócios, é alvo frequente de críticas sobre potenciais conflitos de interesse. Ele descreve o The Washington Post como uma fonte de desafios complexos para ele, mas ressalta que essa complexidade não deve impedir que o jornal mantenha sua independência. Para ele, sua posição econômica pode ser interpretada tanto como uma barreira contra pressões externas quanto como um possível fator de conflito, e apenas seus princípios éticos podem garantir que o jornal continue a agir de forma independente.
A falta de credibilidade, afirma Bezos, não é exclusiva do The Washington Post, mas afeta grande parte da mídia tradicional americana, incluindo jornais de grande circulação e prestígio. A desconfiança popular na imprensa, aliada ao aumento de fontes alternativas, como podcasts e redes sociais, tem contribuído para a disseminação de desinformação, exacerbando divisões na sociedade americana. Bezos observa que, embora The Washington Post e The New York Times continuem a receber prêmios por seu trabalho, seus leitores representam uma elite cada vez mais restrita, evidenciando o distanciamento em relação ao público em geral.
Desafios Futuros e o Papel da Mídia na Democracia
Bezos expressa preocupação com a relevância da imprensa frente ao avanço de mídias não tradicionais. Ele considera inaceitável que veículos de prestígio como The Washington Post sejam superados por plataformas de notícias sem pesquisa e verificações rigorosas. Em sua opinião, a independência e a credibilidade são essenciais para a sobrevivência do jornalismo e para a saúde democrática dos Estados Unidos. Bezos argumenta que é preciso fortalecer o compromisso com a verdade e a precisão, resgatando a confiança pública na imprensa.
Para enfrentar esses desafios, ele sugere que o The Washington Post adote práticas que fortaleçam o vínculo com o público. Algumas mudanças implicam o retorno a práticas tradicionais, enquanto outras exigirão inovação. Embora reconheça que toda transformação está sujeita a críticas, ele acredita que a busca pela credibilidade é uma tarefa árdua, mas essencial para garantir que a imprensa continue a desempenhar um papel crucial na democracia americana.
Bezos conclui expressando gratidão pelo trabalho dos jornalistas do The Washington Post, que, segundo ele, continuam comprometidos em informar com precisão e transparência. Para ele, esses profissionais são a base do jornal, e seus esforços merecem a confiança do público.
Fonte bibliográfica
A reportagem “A crise de credibilidade da mídia e o impacto na democracia dos EUA são abordados pelo empresário Jeff Bezos” é parte da série de publicações do Jornal Grande Bahia com o tema ‘Fundamental Para Quem Pensa’.
O artigo “The hard truth: Americans don’t trust the news media”, de autoria de Jeff Bezos, publicado em 28 de outubro de 2024 no Jornal The Washington Post, aborda a perda de credibilidade da mídia americana e a importância de restaurar a confiança pública no The Washington Post. A decisão de cessar endossos presidenciais visa fortalecer a independência do jornal, em meio a uma crescente desconfiança no setor e à disseminação de informações não verificadas.
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