A investigação conduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) revelou informações alarmantes sobre uma possível tentativa de golpe de Estado, atribuída ao ex-presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. Depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas, documentos recolhidos pela Polícia Federal (PF) e declarações públicas compõem o robusto material que coloca Bolsonaro no centro de uma trama articulada, mas frustrada pela resistência de lideranças militares.
Depoimentos que expõem o plano
Os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes, do Exército, e Carlos de Almeida Baptista Júnior, da Aeronáutica, ofereceram relatos detalhados à Polícia Federal sobre reuniões no Palácio da Alvorada, realizadas após a derrota de Bolsonaro nas urnas. Durante esses encontros, o ex-presidente teria apresentado minutas de decretos que sugeriam a decretação de Estado de Defesa ou de Sítio como instrumentos jurídicos para justificar a suspensão do processo eleitoral e impedir a posse de Lula. Esses mecanismos seriam acompanhados por operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), tradicionalmente usadas para conter situações excepcionais de desordem pública.
Freire Gomes revelou que recebeu duas versões do documento: uma diretamente de Bolsonaro e outra por intermédio do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. As minutas indicavam os primeiros passos de um plano para centralizar o controle do Executivo e neutralizar os demais poderes. Gomes afirmou ter rechaçado as propostas e, em seu depoimento, destacou que advertiu Bolsonaro sobre as implicações legais e institucionais de uma eventual tentativa de golpe.
Carlos Baptista Júnior confirmou ter tido acesso a documentos similares e acrescentou que as reuniões foram marcadas por discussões acaloradas. Ele enfatizou que a Aeronáutica não se envolveria em nenhuma ação que comprometeria o processo democrático, deixando claro sua oposição ao plano.
Lideranças militares e resistência ao golpe
Os comandantes que se opuseram ao plano foram fundamentais para evitar a concretização do suposto golpe. Freire Gomes, que iniciou sua carreira militar nos anos 1980 e chegou ao posto máximo do Exército em 2022, deixou evidente que o uso das Forças Armadas para fins políticos era inaceitável. Ele chegou a alertar Bolsonaro de que, caso o plano fosse adiante, poderia resultar na prisão do próprio ex-presidente. Essa postura firme, contudo, não o isentou de ataques pessoais, promovidos por aliados de Bolsonaro, que o acusaram de traição e fragilidade diante da pressão pública.
Baptista Júnior, por sua vez, destacou que, ao perceber a gravidade da proposta, retirou-se de uma das reuniões e informou seus subordinados de que não havia respaldo para ações contrárias ao processo democrático. Natural de Fortaleza e com uma carreira militar marcada por mais de 4.000 horas de voo, sendo 2.200 em aeronaves de caça, Baptista Júnior era visto como uma figura respeitada nas Forças Armadas. Apesar disso, ele também foi alvo de pressões políticas e ataques virtuais, sendo acusado de deslealdade por figuras ligadas ao governo Bolsonaro.
O papel de outros atores no plano
Além dos ex-comandantes, outros militares e figuras políticas foram citados no inquérito. O general Estevam Theophilo, comandante do Comando de Operações Terrestres (Coter), teria sido chamado a participar de reuniões no Alvorada. Em depoimento, Theophilo afirmou que foi convidado por Freire Gomes, mas este negou qualquer envolvimento direto. O general relatou que, mesmo sob pressão, posicionou-se contra qualquer tentativa de subversão da ordem democrática.
Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, foi apontado como uma figura central no diálogo entre Bolsonaro e os comandos militares. Ele teria atuado como intermediário na apresentação das propostas, embora seu papel exato ainda esteja sob análise. Aliados políticos do ex-presidente, como a deputada Carla Zambelli, também são investigados por pressões para que as lideranças militares apoiassem a trama.
Alexandre de Moraes e a retirada do sigilo
A investigação ganhou maior transparência quando o ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo do inquérito, permitindo que detalhes da suposta tentativa de golpe viessem à tona. Segundo a PF, os documentos e depoimentos revelam não apenas a intenção de Bolsonaro de permanecer no poder, mas também a busca por apoio de setores estratégicos das Forças Armadas. A análise do material indica que, caso a resistência dos comandantes não tivesse prevalecido, o plano poderia ter avançado.
Ataques e desinformação
Os militares que resistiram ao plano enfrentaram uma campanha de ataques coordenados nas redes sociais. Freire Gomes e Baptista Júnior foram chamados de “traidores” por apoiadores de Bolsonaro, e suas famílias foram alvo de ameaças. As tentativas de deslegitimar suas posições incluíram a disseminação de desinformação e pressões políticas, com discursos inflamados por parte de figuras do governo anterior.
Desdobramentos e implicações
O inquérito continua em andamento, mas já traz impactos profundos para o cenário político e militar brasileiro. Além de apontar Bolsonaro como pivô de uma trama golpista, a investigação ressalta a importância da neutralidade das Forças Armadas em um regime democrático. A resistência de Freire Gomes e Baptista Júnior serviu como barreira essencial para evitar uma ruptura institucional, reforçando o compromisso das instituições com a Constituição.

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