Escritor Joaci Góes aborda o Brasil e o efeito Donald Trump

Presidente Donald Trump assume o segundo mandato no comando dos EUA.
Presidente Donald Trump assume o segundo mandato no comando dos EUA.

A conjuntura internacional contemporânea está marcada pela ascensão e consolidação de lideranças políticas que, por suas políticas externas e internas, exercem impacto em economias globais. Um exemplo emblemático é o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja influência ainda se faz sentir mesmo após sua saída do poder. No artigo publicado na Tribuna da Bahia em 23 de janeiro de 2025, o escritor e intelectual Joaci Góes analisa os reflexos potenciais da “ressurreição trumpiana” no Brasil, em especial no contexto político-econômico atual.

A desigualdade estrutural entre Brasil e Estados Unidos

Conforme destacado por Góes, o Brasil, devido à sua relevância global reduzida quando comparada aos Estados Unidos, encontra-se razoavelmente protegido de grandes impactos diretos advindos de eventuais mudanças promovidas por Trump. Ele menciona, por exemplo, o contraste entre os dois países em termos de indicadores populacionais e econômicos: enquanto os Estados Unidos possuem 337 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 28 trilhões, o Brasil, com 212 milhões de habitantes, gerou em 2024 um PIB de US$ 2,4 trilhões. Esse descompasso se reflete em uma disparidade na renda per capita, que é sete vezes superior nos Estados Unidos (US$ 83 mil anuais contra US$ 11 mil no Brasil).

O autor ainda explora a dinâmica comercial entre os dois países, apontando que, por importar mais do que exporta para os Estados Unidos, o Brasil não deve ser alvo de medidas protecionistas como elevação de tarifas. Ademais, ressalta que o superávit comercial brasileiro é impulsionado pela alta competitividade do setor agrícola, alavancada pela adoção de tecnologias desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Criada em 1973, durante o governo do presidente Garrastazu Médici, a Embrapa é creditada como um dos pilares do progresso tecnológico na agricultura nacional.

A mentalidade de escassez como entrave ao progresso

Góes defende que o verdadeiro desafio brasileiro não está apenas em suas relações externas, mas também em uma “mentalidade de escassez” predominante na sociedade. Segundo ele, essa mentalidade compromete o desenvolvimento ao fomentar divisões políticas e sociais, criando cenários em que o progresso coletivo é prejudicado pelo desejo de derrota do adversário. Ele cita a frase do estadista baiano Otávio Mangabeira, que resume bem essa postura: “O baiano gasta 100 para o vizinho perder 50”.

O autor argumenta que essa visão de mundo é uma das principais causas das desigualdades sociais no Brasil, que permanecem alarmantes apesar das vastas riquezas naturais do país. Ele traça um paralelo entre o Brasil e outros países que, mesmo com recursos naturais limitados, alcançaram níveis elevados de desenvolvimento, como Israel, Singapura e Japão. Esses países priorizaram o investimento em educação e em uma “mentalidade de abundância”.

Educação e desigualdades sociais: os desafios internos

Um dos pontos centrais do texto de Góes é a relação entre a deficiência educacional e a baixa produtividade no Brasil. Ele observa que a mão de obra brasileira carece de qualidade devido ao ensino precário em todos os níveis. Esse problema é agravado pela concentração de riqueza e pelo desequilíbrio social, que resultam em condições de vida insalubres para grande parte da população, marcada pela falta de saneamento básico e outras infraestruturas essenciais.

A reflexão do autor converge para a ideia de que, enquanto o Brasil não superar essas deficiências estruturais, não será capaz de atingir o patamar de desenvolvimento compatível com suas riquezas naturais. Ele menciona que, na sociedade do conhecimento, o saber e a inovação ocupam papel central no progresso econômico, relegando os recursos naturais a um papel secundário.

Uma sociedade refém de divisões internas

No plano político, Góes critica o que considera um “divisionismo odiento” que domina a experiência política brasileira atual. Ele aponta que lideranças políticas adversárias frequentemente se alimentam desse conflito para manter suas respectivas bases de apoio. Essa divisão, segundo ele, perpetua uma situação de estagnação e reforça a desigualdade social.

Para ilustrar a situação política brasileira, o autor faz referência ao pensamento do filósofo francês Joseph de Maistre (1753-1821), segundo o qual “cada povo tem o governo que merece”. Essa célebre frase sintetiza a relação entre a sociedade e suas lideranças, sugerindo que o estado atual do Brasil reflete as escolhas e os valores predominantes em sua população.


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