Desde a posse de Donald Trump, em 20 de janeiro de 2025, uma série de ações do Governo dos Estados Unidos da América (EUA) têm gerado apreensão nas comunidades imigrantes, especialmente nas cidades chamadas “santuário”, que adotam políticas de proteção a migrantes sem documentos. O presidente, com sua promessa de deportar um milhão de imigrantes, enfrenta resistência em diversos estados e cidades, onde autoridades locais limitam a cooperação com a imigração federal. Enquanto isso, imigrantes, incluindo brasileiros, vivem sob crescente tensão, com o medo de serem detidos em operações de deportação, transformando seu cotidiano em uma rotina de insegurança e precaução.
Cidades-Santuários são alvo do Governo Trump
Nos Estados Unidos, várias cidades com grande presença de imigrantes sem documentos, como Los Angeles, Nova York, Houston, Chicago e Atlanta, se autodenominam “cidades-santuário”. Essas cidades adotam políticas locais que oferecem maior tolerância aos migrantes, limitando a colaboração com autoridades federais de imigração. Porém, com a chegada de Donald Trump à presidência, essas cidades enfrentam desafios, já que o presidente prometeu realizar deportações em massa, visando remover um milhão de imigrantes sem documentos.
O termo “cidade-santuário” remonta à Idade Média, quando mosteiros protegiam pessoas perseguidas. Nos Estados Unidos, o conceito ressurgiu nas décadas de 1980 e 1990, com ativistas religiosos ajudando imigrantes de El Salvador e Guatemala a escapar de regimes autoritários. Embora não exista uma definição legal federal para cidades-santuário, essas localidades adotam políticas que buscam limitar a cooperação com o governo federal, como, por exemplo, a não notificação de detidos sem documentos às autoridades de imigração, salvo em casos de crimes graves.
Apesar dessas políticas, as cidades-santuário não garantem total proteção contra deportações. O Immigration and Customs Enforcement (ICE) pode realizar operações de captura independentemente das autoridades locais, e as operações federais já foram vistas em cidades como Chicago, Atlanta, Denver, Miami e San Antonio. No entanto, a presença em uma cidade-santuário pode reduzir o número de deportações, já que as autoridades locais limitam a colaboração com os agentes federais.
As cidades-santuário enfrentam críticas de políticos republicanos, como Trump, que acusam essas localidades de proteger imigrantes irregulares e permitir o acesso indevido a benefícios públicos. Contudo, estudos indicam que os imigrantes sem documentos utilizam menos programas de assistência social do que outros grupos e ainda pagam impostos. Além disso, essas cidades, como Chicago, que já foi alvo de operações federais, vivem com a incerteza e o medo de novas ações do governo Trump, o que afeta a economia local e gera um ambiente de insegurança entre os imigrantes.
A mudança de rotina dos imigrantes brasileiros nos EUA
Desde a posse de Donald Trump em janeiro de 2025, as políticas de imigração têm gerado grande apreensão entre os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos. Com a promessa de endurecer as deportações, muitos têm alterado suas rotinas, evitando sair de casa e, em alguns casos, cogitando retornar ao Brasil. O clima de medo se espalhou rapidamente, afetando não apenas as redes sociais, mas também locais frequentados por imigrantes, como igrejas e mercados.
Junior Pena, influenciador digital com mais de um milhão de seguidores, relatou que muitos brasileiros têm demonstrado crescente insegurança e medo de serem capturados durante operações de deportação. Mesmo imigrantes com documentação regular estão sendo impactados, com alguns evitando frequentar igrejas e outros espaços de reunião devido à incerteza sobre a segurança. A tensão é perceptível, com muitos agora tomando precauções extras no dia a dia.
As medidas de Trump, incluindo a possibilidade de deportações em igrejas e escolas, têm aumentado a sensação de insegurança. Apesar do governo afirmar que o foco são os imigrantes considerados “criminosos”, há relatos de detenções de pessoas sem antecedentes criminais, o que intensifica o temor. Em cidades como Newark, até cidadãos americanos foram detidos sem mandados legais, ampliando a desconfiança entre os imigrantes.
A mudança de rotina entre os brasileiros é notável, com muitos adotando comportamentos preventivos, como evitar locais de grande concentração de imigrantes ou se esconder em áreas mais seguras. Embora haja quem considere que a situação não tenha mudado tanto, a retórica agressiva do governo tem gerado um aumento significativo do medo entre aqueles em situação irregular, refletindo um clima de incerteza e insegurança geral.
EUA têm quase 1,5 milhão sob ordem de deportação, com 38 mil brasileiros na lista
Nos Estados Unidos, quase 1,5 milhão de pessoas estão sob ordem de deportação, sendo 38 mil brasileiras, de acordo com dados do Serviço de Imigração (ICE) de novembro de 2024. Esses números envolvem imigrantes que violaram as leis de imigração e passaram por um processo judicial. Em 2022, cerca de 11 milhões de imigrantes estavam em situação irregular no país, com um aumento significativo no número de brasileiros, que passaram de 230 mil na década anterior para 2 milhões em 2024.
Em 2024, 1.859 brasileiros foram deportados, mas muitos podem tentar retornar. O advogado André Linhares destaca que os 38 mil brasileiros com ordem de deportação enfrentam a possibilidade de detenção e expulsão, uma vez que já passaram por um processo legal. No entanto, existem recursos disponíveis, como pedidos de asilo ou proteção pela Convenção Contra a Tortura, que podem impedir a deportação.
Recentemente, a deportação de 88 brasileiros gerou controvérsia, com vídeos mostrando deportados algemados e denunciando maus-tratos. A chancelaria brasileira busca atualizar o acordo de deportação para evitar abusos e exige investigações sobre as condições relatadas pelos deportados. O ICE também aponta dificuldades em remover imigrantes, mencionando a falta de cooperação de alguns países na confirmação de cidadania e emissão de documentos de viagem.
Trump prometeu realizar o maior processo de deportação em massa da história, mas especialistas duvidam da viabilidade de expulsar todos os imigrantes irregulares devido a desafios operacionais e os impactos econômicos significativos. Estima-se que o custo total para prender, deter e deportar todos os 13,3 milhões de imigrantes irregulares seria de US$ 315 bilhões. No primeiro mandato de Trump, 1,5 milhão de imigrantes foram deportados.
Reações Mistas
Apesar do clima de pânico gerado por algumas operações, há também quem considere que o medo é exagerado. Igor*, morador de Utah, acredita que muitos imigrantes estão exagerando em sua preocupação. “Para mim, não mudou nada desde a chegada de Trump. Acho até que estou trabalhando mais”, afirmou ele. Outros imigrantes, no entanto, destacam que a situação piorou devido às declarações públicas do presidente, que reforçam a ideia de que as deportações se intensificarão.
A divisão de opiniões também é observada entre os próprios imigrantes brasileiros, com alguns ressaltando que a situação de repressão à imigração sempre existiu, independentemente do governo em exercício. No entanto, a retórica mais agressiva do atual presidente tem gerado um aumento do medo, especialmente entre aqueles em situação irregular.
*Com informações de Darío M. Brooks, Vitor Tavares e Mariana Sanches, da BBC News.
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