Nesta terça-feira (07/01/2025), o cantor e compositor Carlos Pitta faleceu aos 69 anos, vítima de complicações decorrentes do diabetes. Internado no Hospital Roberto Santos, em Salvador, sua morte representa uma significativa perda para a música popular brasileira. O prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo de Carvalho, expressou profundo pesar, destacando a relevância de Pitta para a cultura nacional.
Início da Carreira e Primeiros Trabalhos
Natural de Feira de Santana, Bahia, Carlos Pitta nasceu em 3 de março de 1955 e iniciou sua trajetória musical em 1979 com o álbum “Águas do São Francisco – Lendas”, lançado pelo selo Chantecler. Este trabalho, influenciado pela literatura de cordel, evidenciou seu compromisso com as tradições nordestinas. Em 1982, lançou “Coração de Índio” pela gravadora Continental, iniciando uma parceria com o poeta tropicalista José Carlos Capinan. Este álbum contou com composições de renomados artistas como Gilberto Gil e Edu Lobo.
Ascensão e Reconhecimento Nacional
Em 1984, Pitta lançou “Brisa” pelo selo independente Estúdio de Invenções, com a participação de músicos como Antônio Adolfo e João Donato. Dois anos depois, em colaboração com a poetisa Myriam Fraga e o artista plástico Calazans Neto, apresentou “A Lenda do Pássaro que Roubou o Fogo”, com arranjos do maestro Lindenberg Cardoso e prefácio de Jorge Amado. O sucesso nacional veio em 1988 com o álbum “Feliz”, da RCA Victor, que trouxe a música “Cometa Mambembe” (Carlos Pitta / Edmundo Carôso), consolidando sua presença na MPB.
Contribuições e Parcerias Musicais
Ao longo de sua carreira, Pitta lançou mais de 15 discos, incluindo “Tapete Mágico” (1990), “Sete Luas” (1992) e “Dias de Luz” (1994). Além de intérprete, teve composições gravadas por artistas como Elba Ramalho, Alcione, Daniela Mercury e Margareth Menezes. Sua atuação como produtor musical também foi significativa, colaborando com nomes como Walter Smetak e Elomar.
Atuação Internacional e Festivais
Pitta levou a música brasileira a palcos internacionais, apresentando-se em países como Estados Unidos, Suíça, Alemanha, Itália e Bélgica. Sua participação no Montreux Jazz Festival, na Suíça, foi marcante, resultando na inclusão da faixa “Forró no Mangue Beat” no CD “Montreux Jazz Off”. Essas performances contribuíram para a disseminação da cultura nordestina no exterior.
Projetos Culturais e Preservação da Tradição
Comprometido com a preservação da cultura regional, Pitta idealizou o “Bando Anunciador” em 1999, inspirado nas bandas de sopro e percussão que anunciavam as festas de Nossa Senhora Santana em Feira de Santana. Esse projeto revitalizou tradições locais, reforçando a identidade cultural da região.
Formação Acadêmica e Influências Musicais
Formado em Composição e Regência pela Universidade Federal da Bahia, Pitta foi influenciado por mestres como Ernst Widmer. Sua música refletia uma fusão de ritmos nordestinos com elementos do pop internacional, evidenciando sua versatilidade e criatividade.
Artistas comentam sobre 40 anos de carreira e 15 discos lançados
Com mais de 40 anos de carreira e 15 discos lançados, o cantor-compositor natural de Feira de Santana (BA) foi um dos maiores representantes dos ritmos regionais da Bahia, como o forró e o xote. Ele trabalhou com nomes icônicos da música brasileira, incluindo Elba Ramalho, Alcione, Dominguinhos e Caetano Veloso.
A trajetória profissional começou em 1979, com o disco Águas do São Francisco: Lendas, inspirado na literatura de Cordel. Três anos depois, lançou O Coração de Índio, com músicas de Gilberto Gil e Edu Lobo, em parceria com o poeta José Carlos Capinan, que relembrou a parceria com o amigo:
“Maravilhoso, antenado com as coisas do mundo. É uma grande perda, Carlos Pitta é uma grande perda”.
O primeiro sucesso nacional foi Cometa Mambembe, registrado no álbum Feliz, de 1988. A canção, presente em todos os carnavais do cantor e compositor Paulinho Boca, marcou uma parceria de longa data entre os dois artistas.
“Tenho cantado em todos os carnavais o Cometa Mambembe, que é um grande sucesso dele, uma música fantástica. E é uma pena que agora este ano, comemorando os 40 anos de Axé, e essa música tem a ver com o Axé Music, o Pitta nos deixa”, ressaltou Paulinho Boca.
Pitta também se apresentou em países como Alemanha, Bélgica, Itália, Estados Unidos e Suíça. Ricardo Marques, diretor musical que trabalhou com Pitta por 27 anos nos carnavais e 20 anos em turnês juninas, relembra momentos marcantes que tiveram o mundo afora.
“Acho que a Bahia perde muito sem a presença, sem a opinião, sem a personalidade de Pitta, que teve músicas gravadas por artistas nacionais e fizemos bastante coisa, televisão, rádio. Tocamos em trem, tocamos, enfim, na Suíça, na Alemanha, nos Estados Unidos, todo o interior da Bahia. Jamais vou esquecer essa experiência toda. O legado é o que vai ficar e a memória de tudo que ele construiu aqui e tenho certeza que a Bahia hoje está de luto, mas a sua obra vai resplandecer para a eternidade. Muito obrigado, Carlos Pitta”, agradeceu Marques.
O sanfoneiro Géo Barbosa, que tocou com Pitta desde 2013, destacou a generosidade do parceiro de palco.
“Viajamos muito por aí, gravei muito com Carlos Pitta, ele me deu um apoio artístico muito grande, pois, nos shows dele, ele me convidava ali para frente do palco e me botava para tocar, para cantar, toquei muitos festivais com ele. Que Deus te receba de braços abertos, Pitta”, desejou Géo Barbosa.
Generosidade lembrada também por Ivete Sangalo. Carlos Pitta foi um dos primeiros a reconhecer o talento da cantora baiana, que divulgou um vídeo de agradecimento nas redes sociais.
“Esse cara é muito especial na minha vida. Ele me deu a mão, me deu carinho, me deu um abraço e me deu também muita confiança. Ele foi muito importante no meu começo e em toda a minha vida. Eu aprendi muitas coisas lindas com ele. Um cara da música, apaixonado por música, música boa. O primeiro violão que eu toquei emprestado na vida foi de Carlos Pitta. Querido amigo, afetuoso, muito talentoso. Uma figura que eu vou guardar muito pra sempre no meu coração”, disse a cantora.
Natural de Feira de Santana, segunda maior cidade baiana, Pitta levava para as canções o orgulho da terra natal em composições como Princesa Sertaneja e Todos os Caminhos Levam à Feira de Santana.
A cantora Juliana Ribeiro, também parceira de Pitta em canções, reverencia essa capacidade do artista de levar o sertão da Bahia para dentro do mar de Salvador.
“Para além do compositor, Carlos Pitta é um ser humano ímpar, único. Carlos Pitta tinha a capacidade de ler a alma das coisas. Isso me chamava muito a atenção dele. Ele não dialogava com você aqui agora, ele dialogava com sua alma. E isso era fantástico. É por isso que ele compunha tão bem. Uma vez ele me chamou para gravar uma canção dele, que se chama Rodei, Rodei. Essa canção de tão boa, mas de tão boa, virou jingle da TV Subaé. E acho que como compositor, ele teve a capacidade de inserir o sertão dentro do mar de Salvador. Ele abriu essa baía plural. Em geral, quando a gente fala de música baiana, a gente fala de Salvador e ele não. Ele foi esse cara que conseguiu ampliar essa música baiana inserindo o sertão dentro do mar. É um gênio”, declarou Juliana Ribeiro.
Em 2014, Pitta integrou a comissão julgadora do Festival de Música Educadora FM. O artista baiano Carlos Barros recorda bem desse momento em que esteve ao lado dele.
“Eu conheci Carlos Pitta para além da figura pública que todo mundo da Bahia conhece em 2014, fizemos um trabalho juntos na Rádio Educadora. Fomos da mesma comissão do Festival da Educadora daquele ano. E passamos algum tempo juntos trabalhando em função do festival e a doçura, a educação, a gentileza da pessoa, para além do grande artista, me saltaram aos olhos”, relembrou Carlos Barros.
Além do talento musical, Pitta é lembrado pela amizade. Laurinha Arantes, primeira mulher a comandar um bloco de trio elétrico no Carnaval de Salvador e amiga a 40 anos, lembrou, emocionada que ele nunca deixou de estar ao seu lado.
“É muito mais do que um compositor que eu gravei. É muito mais do que um grande músico, cantor, intérprete, compositor. É muito mais do que um colega de trabalho. Pitta era meu irmão. Ou melhor, Pitta é meu irmão. Esteve comigo em todos os momentos da minha vida, principalmente, nas dificuldades e sem que eu lhe pedisse nada. Ele com a sua sensibilidade percebia o momento exato de se aproximar e de me oferecer ajuda. Pitta era aquela pessoa que eu sabia que estava ali, a qualquer momento que eu precisasse, ele estava ali. Carlos Pitta para sempre.”
Legado e Impacto na Música Brasileira
Carlos Pitta deixa um legado inestimável para a música brasileira. Suas composições, interpretações e projetos culturais continuam a influenciar artistas e a enriquecer o panorama musical do país. Sua dedicação à cultura nordestina e sua capacidade de inovar permanecem como inspiração para futuras gerações.
Discografia Selecionada
- “Águas do São Francisco – Lendas” (1979)
- “Coração de Índio” (1982)
- “Brisa” (1984)
- “A Lenda do Pássaro que Roubou o Fogo” (1986)
- “Feliz” (1988)
- “Tapete Mágico” (1990)
- “Sete Luas” (1992)
- “Dias de Luz” (1994)
- “Dançando Forró” (1996)
- “Manguepérola” (2000)
- “Fotos, Baladas e Recordações” (2009)
Principais Composições
- “Cometa Mambembe“
- “Coração Saltimbanco”
- “Todos os Caminhos Levam a Feira de Santana”
- “Forró no Mangue Beat”
- “Adeus Mariana”
Leia +
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.
