União Europeia acelera pagamentos instantâneos, mas modelo como o PIX permanece distante

Desde 9 de janeiro, todos os estabelecimentos bancários da União Europeia passaram a ser obrigados a processar transferências instantâneas, como parte de um esforço para modernizar o sistema de pagamentos no bloco. Apesar dessa medida, a implementação de um modelo similar ao PIX brasileiro, com pagamentos via chaves de identificação, está longe de ser realidade na Europa. A resistência do sistema bancário e as regulamentações de privacidade são alguns dos fatores que dificultam a adoção de soluções como a do Brasil.
Desde janeiro, os bancos da União Europeia passaram a aceitar transferências instantâneas, embora modelos como o PIX ainda não estejam previstos para o futuro próximo.

A União Europeia iniciou em janeiro de 2024 a obrigatoriedade para todos os bancos da região de aceitarem e realizarem transferências instantâneas entre os usuários, em um movimento que busca modernizar o sistema financeiro do bloco. A medida faz parte da implementação de uma série de melhorias nos processos de pagamento, tornando-os mais rápidos e eficientes para os cidadãos europeus. No entanto, a adoção de um modelo semelhante ao PIX brasileiro, que permite transferências via chaves entre pessoas físicas e empresas, está longe de se concretizar na região.

Atualmente, na maioria dos países europeus, as transferências bancárias ainda são realizadas por meio de aplicativos bancários ou por sistemas tradicionais, como o SEPA (Single Euro Payments Area), que, embora eficaz para transferências entre contas bancárias, não contempla a possibilidade de pagamentos instantâneos diretamente entre pessoas físicas e comerciantes. Abdallah Hitti, administrador da Brapago Payments, destaca que o modelo de pagamento com chaves, como o PIX no Brasil, não encontra respaldo na estrutura financeira da União Europeia. “As transferências SEPA servem como plataforma de pagamentos entre contas, e não entre pessoas físicas e contas”, afirma Hitti.

A resistência dos bancos tradicionais à implementação de modelos de pagamentos instantâneos baseados em chaves é uma das barreiras para a adoção do sistema. Além disso, a proteção de dados pessoais e as regulamentações de privacidade na União Europeia dificultam a aceitação de modelos que envolvem o compartilhamento de informações sensíveis. Victor Warhem, macroeconomista especialista em finanças digitais, aponta que os consumidores europeus, na sua maioria, estão satisfeitos com os métodos de pagamento atuais, o que reduz a demanda por soluções como o PIX.

Apesar dessas limitações, alguns avanços estão sendo feitos no campo dos pagamentos instantâneos na Europa. Em 2024, 16 dos maiores bancos europeus aderiram ao Wero, um sistema que reúne serviços nacionais de pagamentos instantâneos e facilita transações entre diferentes países do bloco. No entanto, a integração plena do sistema ainda é um objetivo distante, segundo especialistas como Abdallah Hitti.

Por outro lado, a União Europeia está focada em outro projeto prioritário: a criação do euro digital, previsto para ser lançado até 2027. O Banco Central Europeu (BCE) está desenvolvendo três projetos em colaboração com o Bundesbank da Alemanha, a Banca d’Italia e a Banque de France, com o objetivo de implementar uma moeda digital que atenda às necessidades de compras correntes. Embora essa iniciativa tenha como objetivo impulsionar a modernização dos pagamentos, ela também tem o intuito de proteger a soberania do euro frente a moedas alternativas, como as stablecoins.

Victor Warhem lembra que a ameaça de moedas alternativas e a necessidade de proteção do euro são fatores que influenciam a postura da União Europeia. O BCE busca assegurar que o euro permaneça soberano e resistente a interferências externas, como a influência do dólar, um fator que tem motivado a priorização do euro digital sobre sistemas de pagamentos instantâneos como o PIX.

*Com informações da RFI.


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