Governo Lula assume gestão das rodovias BR-116 e BR-324 na Bahia, além das estaduais BA-526 e BA-528; Fim do contrato com a ViaBahia, indenização milionária e nova concessão são anunciados

Trecho da Rodovia BR-324 entre Salvador e Feira de Santana.
Trecho da Rodovia BR-324 entre Salvador e Feira de Santana.

O Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou, nesta quarta-feira (05/02/2025), o acordo que oficializa a saída da ViaBahia da concessão das rodovias BR-116, BR-324, BA-526 e BA-528. A decisão é resultado de um consenso entre a Secretaria de Controle Externo de Solução Consensual e Prevenção de Conflitos (Secex Consenso), o Ministério dos Transportes, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a concessionária, culminando no encerramento do contrato e no retorno das rodovias ao controle do Governo Federal.

A rescisão contratual se dá após anos de insatisfação com a gestão da ViaBahia, marcada por descumprimento de metas, paralisação de obras e precarização da infraestrutura rodoviária. Além das críticas recorrentes por parte de motoristas, transportadoras e lideranças políticas, a concessionária enfrentava processos judiciais e administrativos devido ao não cumprimento das obrigações previstas no contrato de concessão.

Com a decisão, a transição será concluída até as 23h59 do dia 31 de março de 2025. A partir dessa data, a gestão das rodovias será assumida pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Até lá, a ViaBahia continuará operando os trechos, incluindo a administração das praças de pedágio, sob supervisão da ANTT.

A saída da concessionária foi viabilizada pela Portaria 848/2023, do Ministério dos Transportes, que criou diretrizes para renegociação e rescisão de contratos considerados “estressados”, ou seja, com baixo índice de execução de obras e serviços.

Primeira Rescisão Consensual no Setor de Concessões Rodoviárias

A decisão marca um precedente na gestão de concessões no Brasil, pois é a primeira vez que uma rodovia concedida retorna ao governo por meio de uma solução consensual. O acordo evita a judicialização do processo e possibilita uma transição mais ordenada, com planejamento para a continuidade dos serviços e execução de obras essenciais.

Como parte do entendimento firmado, a ViaBahia renunciará a litígios judiciais e administrativos contra o Governo Federal, cujos valores ultrapassam R$ 12 bilhões. Em contrapartida, a União pagará à concessionária uma indenização de R$ 681 milhões, referente a investimentos não amortizados ou depreciados.

A secretária Nacional de Transporte Rodoviário, Viviane Esse, destacou a importância da retomada do controle pelo governo, enfatizando que as rodovias são estratégicas para o escoamento de cargas e mobilidade no país.

“Estamos falando da principal ligação rodoviária entre o Nordeste e o Sudeste. A BR-116, por exemplo, é vital para a economia brasileira, conectando diversos estados e facilitando o transporte de mercadorias essenciais. A rescisão do contrato permitirá que o governo acelere as melhorias e reestabeleça padrões adequados de infraestrutura”, afirmou.

Obras Emergenciais e Planejamento para Nova Concessão

A partir de abril de 2025, quando o DNIT assume a administração temporária das rodovias, serão iniciadas obras emergenciais para garantir maior segurança e fluidez no tráfego. Estão previstas ações como:

  • Recuperação da pavimentação nos trechos mais críticos;
  • Reforço da sinalização viária e modernização da iluminação;
  • Manutenção de pontes e viadutos que apresentam desgastes estruturais;
  • Intervenções em pontos de congestionamento, especialmente nos acessos a Salvador e Feira de Santana.

Paralelamente, o Ministério dos Transportes já trabalha na modelagem da nova concessão. O leilão está previsto para dezembro de 2025, e a empresa vencedora deverá assumir a gestão das rodovias no primeiro trimestre de 2026. O novo contrato prevê um investimento superior a R$ 20 bilhões, com foco em:

  • Duplicação de trechos estratégicos, especialmente na BR-116 e BR-324;
  • Ampliação de faixas adicionais para reduzir gargalos e melhorar a fluidez;
  • Instalação de equipamentos modernos para monitoramento e controle de tráfego;
  • Construção de novas passarelas e acostamentos, garantindo mais segurança para pedestres e ciclistas.

O novo modelo de concessão deverá incorporar mecanismos mais rígidos de controle e fiscalização, evitando problemas como os observados na gestão da ViaBahia.

Críticas à ViaBahia e Impacto para Usuários

A saída da ViaBahia ocorre após anos de reclamações sobre a precariedade dos serviços prestados. Usuários frequentemente relataram problemas como buracos na pista, ausência de manutenção, iluminação deficiente e pedágios com valores elevados em relação à qualidade da infraestrutura.

Entidades do setor de transportes, como a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e a Associação Brasileira de Transporte de Carga (ABTC), apontaram que a concessão foi um dos exemplos mais negativos de gestão privada de rodovias no país. Empresas de transporte de cargas relataram prejuízos decorrentes das más condições das vias, que elevavam o risco de acidentes e aumentavam os custos operacionais.

Além disso, diversas prefeituras e governos estaduais pressionaram pela rescisão do contrato, uma vez que a falta de investimentos impactava diretamente o desenvolvimento econômico e a segurança da população.

A indenização milionária à ViaBahia também gerou controvérsias. Críticos argumentam que a concessionária descumpriu reiteradamente suas obrigações e que, portanto, não deveria ser beneficiada financeiramente. O Ministério dos Transportes justificou o pagamento como uma medida para evitar disputas judiciais prolongadas, que poderiam atrasar ainda mais a recuperação das rodovias.

Valor da indenização

O valor da indenização paga à ViaBahia pelo fim do contrato de concessão das rodovias BR-116 e BR-324 foi de R$ 892 milhões. O pagamento foi dividido em três parcelas: 
  • R$ 681 milhões para compensar os investimentos não amortizados e depreciados
  • R$ 80 milhões para cobrir os custos de encerramento da sociedade
  • R$ 131 milhões para quitar o principal, juros e outros custos de encerramento dos contratos de financiamento
A decisão foi aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 5 de fevereiro de 2025. A ViaBahia deve encerrar os processos judiciais e administrativos que possui contra a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). 

Perspectivas para o Futuro da Infraestrutura Rodoviária na Bahia

Com a rescisão da concessão da ViaBahia e a futura relicitação das rodovias, o Governo Federal busca corrigir distorções no modelo de concessões e garantir uma infraestrutura mais eficiente e segura para os motoristas.

A modernização da BR-116 e BR-324 é considerada essencial para o desenvolvimento da Bahia e de estados vizinhos, especialmente no setor de logística. Essas rodovias são fundamentais para a exportação de produtos agrícolas, industriais e para o turismo, conectando grandes centros econômicos do país.

Nos próximos meses, o Ministério dos Transportes deverá apresentar um detalhamento do plano de investimentos e os critérios para a nova concessão. A expectativa é que, com um modelo mais eficiente de fiscalização e gestão, os problemas enfrentados na concessão da ViaBahia não se repitam, proporcionando uma infraestrutura de maior qualidade para os usuários.

Dessa forma, a rescisão do contrato representa um momento de transição, com desafios, mas também com a oportunidade de reverter anos de degradação da malha rodoviária baiana e estabelecer um novo paradigma para concessões rodoviárias no Brasil.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.