Não importa que seja considerada uma organização criminosa nem como uma máfia tipo italiana ou japonesa. O fato é que o Primeiro Comanda da Capital (PCC) é, atualmente, uma organização com ramificações em todo o Brasil e no exterior. Na América do Sul está presente em vários países, com destaque para o Paraguai, Bolívia, Colômbia e Venezuela. Possui cerca de 40 mil membros, sendo 8 mil apenas em São Paulo. Dizem que já está, inclusive, nos Estados Unidos. Seus principais chefes, entre os quais Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, é uma pessoa com preparo intelectual que muitos delegados não têm. Um dos seus últimos cursos foi na área de saúde. Seu irmão, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, conhecido como Marcolinha, fez curso de direitos humanos.
Outro integrante do crime, Patric Velinton Salomão, conhecido como o Forjado, faz especialização em atendimento ao público. Assim como Forjado, Reinaldo Teixeira também optou pelo mesmo curso. Apelidado de Funchal, foi condenado pela morte do juiz Antônio José Machado Dias, em 2003, segundo o Ministério Público de São Paulo. Outros dois chefes, Cláudio Barbará da Silva e Antônio José Müller Júnior, o Granada, também se perfeiçoaram culturalmente, um fez curso de inglês, e o outro se dedica a aprender direito constitucional. De acordo com o Ministério Público de SP, cabia a Granada coordenar o “Conselho Deliberativo” do grupo.
Esse mesmo MPSP, recentemente, deflagrou uma operação tendo como alvo duas empresas de ônibus, que operam linhas municipais de São Paulo, apontadas como intermediárias para lavagem de dinheiro proveniente do grupo. Fundado em 1993, no anexo chamado de “Piranhão”, da Casa de Custódia de Taubaté. Seus primeiros líderes eram oito, posteriormente transferidos para a cidade de São Paulo, onde passaram a ser conhecidos como “Os da capital”. O nome PCC veio de um time de futebol (Primeiro Comando da Capital), também chamado de “Partido do Crime” e de “15.3.3”, por conta da ordem das letras “P” e “C” no alfabeto. Segundo a imprensa, durante uma partida de futebol eles mataram um dos criminosos mais temidos do presídio e se tornaram a gangue dominante do local. O Objetivo da organização era “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista” e “vingar a morte dos 111 presos”, chacinados no “massacre do Carandiru”, quando a Polícia Paulista matou presidiários no pavilhão 9 da extinta Casa de Detenção de São Paulo”.
Para se tornar uma multinacional do crime, o PCC se juntou ao Comando Vermelho (CV), do Rio de janeiro, facção descendente da Falange Vermelha, criada por Rogério Lemgruber, na década de 1970. Uma das primeiras medidas do Comando Vermelho foi instituir uma “caixa comum” da organização, ou seja, um banco, alimentado pelos proventos arrecadados daqueles que estavam em liberdade, o chamado dízimo. O dinheiro assim arrecadado serviria não só para financiar novas tentativas de fuga, mas, igualmente, para amenizar as duras condições de vida dos presos, reforçando a autoridade e o respeito ao Comando Vermelho no seio da população carcerária.
Um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais traz um alerta sobre um possível acordo de cooperação entre o PCC e Comando Vermelho. O documento detalha o que seriam ações coordenadas para tornar menos rígido o tratamento de presos perigosos no sistema penitenciário nacional. Segundo se fala, pelo acordo o CV atuaria nos estados e o PCC no exterior. Seja como for, O PCC já está em 26 países e, agora, se prepara para atuar em Miami, nos Estados Unidos, onde estão investindo em tudo, inclusive em imóveis de luxo.
Com um faturamento de R$ 146 bilhões em produtos explorados somente em 2022, o PCC atua na produção de ouro, fabricação de bebidas e produtos do fumo, extração de minérios de metais preciosos e exploração de combustíveis e lubrificantes, conforme relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). De nada adianta a propagando de combate ao crime organizado. O PCC, hoje, é uma multinacional, pois, segundo Gabriel Feltran, diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês) e professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), “Quando as economias ilegais crescem muito, elas vão funcionar como qualquer outra economia capitalista, vão botar o Estado para ser o seu balcão de negócios”. É justamente isso o que está acontecendo no Brasil. O PCC já é o dono da Amazônia e de muitos outros lugares. Seja como for, o fato é que o PCC é comandado por gente que tem cérebro, ou seja, os “intelectuais” da organização.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.
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