Documentos divulgados neste neste mês de março de 2025 pelo Arquivo Nacional dos Estados Unidos revelam que a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA) atuou de forma encoberta em diversos países da América Latina e da Europa durante os anos 1960, inclusive no Brasil, no contexto da Guerra Fria. A ação fazia parte de uma estratégia secreta ligada à Operação Mongoose, cujo objetivo principal era enfraquecer o governo de Fidel Castro em Cuba, mas que se estendeu a outras nações, fomentando instabilidade política e social.
Na última terça-feira (18/03), mais de 80 mil páginas de documentos confidenciais sobre o assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy foram publicadas, cumprindo determinação de uma ordem executiva de 2017, assinada pelo então presidente Donald Trump, para ampliar a transparência histórica. Entre os arquivos, destacam-se relatórios que comprovam que a CIA financiou secretamente eleições e organizou manifestações em países estratégicos da América Latina e da Europa.
O Brasil, que em 1964 vivenciou o golpe militar que instaurou a ditadura, aparece entre os países onde a agência teria atuado com financiamento clandestino e apoio a movimentos sociais e políticos. Além do Brasil, Peru, Grécia, Finlândia e Itália estão entre as nações mencionadas nos memorandos.
Operação Mongoose e a atuação da CIA na América Latina
A Operação Mongoose, lançada no início dos anos 1960 sob o governo Kennedy, visava diretamente à desestabilização de Cuba. No entanto, segundo os documentos recém-revelados, a estratégia envolvia uma ação mais ampla de ingerência nos processos políticos de países latino-americanos e europeus.
Em um relatório de 1962, Richard Helms, então vice-diretor de Planejamento da CIA, admitiu o envolvimento da agência no financiamento oculto de campanhas eleitorais e no apoio a manifestações populares em diversos países da região. Outro documento, assinado pelo general Edward Lansdale, detalhou as ações da CIA na organização de protestos em massa em países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela, além do próprio Brasil.
Censura e novos detalhes revelados
Nas versões anteriores divulgadas em 2023, os nomes dos países e os valores exatos dos recursos financeiros empregados pela agência foram mantidos sob sigilo. Agora, esses dados vieram a público, revelando que a CIA pretendia expandir a Operação Mongoose com um contingente de 600 agentes e um orçamento superior a US$ 100 milhões para os anos de 1963 e 1964, valor que, corrigido para valores atuais, ultrapassa US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões).
Os documentos também revelam que as ações da CIA tinham respaldo do Departamento de Estado dos EUA, que coordenava esforços diplomáticos e propagandísticos paralelos para legitimar as interferências no exterior.
Contexto histórico e impacto no Brasil
As revelações reforçam o entendimento de que a política externa norte-americana no período da Guerra Fria não se restringiu ao combate direto ao regime cubano, mas englobou uma série de ações destinadas a enfraquecer governos e movimentos considerados hostis aos interesses de Washington, incluindo governos democráticos da América Latina.
O envolvimento da CIA em protestos e pleitos eleitorais brasileiros coincide com o contexto político que antecedeu o golpe militar de 1964, que resultou em duas décadas de regime autoritário no Brasil. Embora os documentos não especifiquem o nível de influência direta nos acontecimentos do país, reforçam a tese de que a instabilidade interna foi fomentada por fatores externos.
Debate sobre soberania e transparência histórica
As informações trazidas à tona reacendem o debate sobre a soberania nacional e o papel de potências estrangeiras na configuração dos regimes políticos da América Latina durante a Guerra Fria. Também levantam questões sobre a importância da memória histórica e da transparência documental para a compreensão dos processos que moldaram o cenário político contemporâneo da região.
A revelação ainda pode ter repercussões diplomáticas e acadêmicas, uma vez que amplia o conhecimento sobre a participação de agências de inteligência estrangeiras em processos de desestabilização de governos e movimentos sociais na América Latina.
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