Gilberto Gil entre o tempo e a eternidade: Reflexões sobre vida, morte, legado e sua última turnê

Gilberto Gil e sua última turnê: um ciclo que se encerra sem despedidas definitivas. O músico Gilberto Gil, em sua última turnê, compartilha reflexões sobre longevidade, arte e espiritualidade.
Gilberto Gil inicia sua última turnê, reflete sobre longevidade, espiritualidade e o impacto da inteligência artificial na música. O cantor analisa política, cultura afro-brasileira e sua visão sobre a morte.

Em entrevista a Maria Fortuna — publicada nesta sábado (15/01/2025) no O GloboGilberto Gil comenta sobre o início da última turnê que realiza, “Tempo Rei”, na Arena Fonte Nova, em Salvador, destacando que essa fase representa uma transição, e não um encerramento de sua trajetória.

“Tenho expectativa de viver mais alguns anos. 83 é idade avançada, mas não é um limite como já foi”, diz o artista.

O espetáculo tem direção artística de Rafael Dragaud e direção musical de Bem e José Gil. O show passará por dez cidades brasileiras e contará com um grupo de 16 músicos, revisitando diversas fases da carreira do cantor.

Com uma carreira que soma 43 anos de estrada e mais de 60 álbuns lançados, ele reflete sobre longevidade, espiritualidade e arte, ressaltando a importância da música como legado. Apesar das mudanças físicas, mantém uma preparação rigorosa para os shows e segue explorando novos projetos, como a ópera Ijuca Pirama.

Sem temer a morte, Gil encara a finitude com respeito e vê na tecnologia um meio de preservar sua obra. Além disso, aborda política, cultura afro-brasileira e acompanha de perto a luta de sua filha, Preta Gil, contra o câncer. Para ele, a vida segue adiante:

“A seta do tempo é para a frente.”

Confira os principais aspectos do pensamento de Gilberto Gil

A longevidade e a arte como missão

Gilberto Gil reflete sobre a expectativa de vida e o impacto da medicina na longevidade. “A longevidade aumentou. Hoje a média mundial é 75 anos, mas podemos almejar ir além dessa média”, analisa. Ele cita a presença ativa de nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque e Milton Nascimento como exemplos desse novo cenário.

Mesmo com tantos anos de trajetória, Gil continua explorando novas expressões artísticas. Recentemente, lançou a ópera “Amor Azul”, em parceria com Aldo Bruzzi, e já desenvolve outra, “Ijuca Pirama”, com libreto de Paulo Coelho.

“A ópera contemporânea está crescendo no mundo, complementando o repertório clássico”, comenta.

Preparação para a turnê e mudanças com a idade

A preparação física e vocal se tornou mais rigorosa ao longo dos anos. O cantor reconhece que os cuidados com a voz são essenciais, especialmente após uma cirurgia nas cordas vocais. “Hoje há regras mais básicas para manter a condição física e preservar a voz”, afirma. Antes dos shows, ele opta por uma alimentação leve e energética, evitando excessos.

Reflexões sobre a morte e espiritualidade

A temática da morte sempre esteve presente na obra de Gilberto Gil. Ele diz não temer a morte em si, mas sim o ato de morrer. “Morrer ainda é um ato humano, mas depois vai ser o que Deus quiser”, afirma. O falecimento do filho Pedro Gil, em 1990, e de amigos próximos influenciaram sua visão sobre a finitude.

“A morte faz parte da vida. É preciso respeitar o fim”, reflete.

A espiritualidade sempre desempenhou um papel central em sua filosofia de vida. Ele menciona influências de diversas tradições religiosas e filosóficas, desde os ensinamentos do candomblé até os pensadores da filosofia ocidental e oriental.

“Falar com Deus é um exercício consciente e permanente”, diz.

Inteligência artificial e a permanência da obra

O avanço da inteligência artificial e sua aplicação na música não preocupam o artista. Ele acredita que a tecnologia apenas amplia o registro e a preservação das obras. “A perenidade do que fazemos sempre foi garantida pelos registros, e a IA apenas intensifica esse processo”, comenta. Sobre o risco de abusos no uso de sua voz ou imagem, Gil é pragmático: “Os abusos sempre existirão. Minha obra estará inserida nesse contexto, e isso não me preocupa”.

O cenário político e as mudanças globais

Com uma trajetória marcada pela resistência política, Gilberto Gil observa os desafios do mundo contemporâneo, como a ascensão da extrema-direita e a crise climática. “O mundo sempre esteve para acabar, mas hoje as ameaças são mais tangíveis por causa das armas e do uso irresponsável da tecnologia”, analisa. Apesar das preocupações, ele acredita na capacidade humana de reagir às emergências e se adaptar às novas realidades.

Sobre o Brasil, ele avalia o governo de Lula e os desafios políticos enfrentados. “A sociedade precisa decidir que tipo de democracia quer construir e como deseja compartilhar o poder”, pondera.

A cultura brasileira e a valorização das raízes africanas

A cultura afro-brasileira tem ganhado mais reconhecimento, um movimento que Gil vê como essencial para a identidade do país. “O horizonte é mestiço, mas é importante reconhecer as especificidades raciais e culturais. O respeito às origens é fundamental”, destaca. Ele também defende a valorização das expressões artísticas e da diversidade como formas de fortalecer a sociedade.

A luta de Preta Gil pela saúde

Gilberto Gil acompanha de perto o tratamento da filha, a cantora Preta Gil, que enfrenta um diagnóstico de câncer. Ele destaca a resiliência e a coragem da artista, que tem compartilhado sua jornada com o público. “Ela escolheu criar uma solidariedade coletiva, dividindo sua experiência e recebendo apoio de milhares de pessoas”, afirma. Para Gil, esse processo representa não apenas uma batalha individual, mas um exemplo de como a força da comunidade pode ser essencial em momentos difíceis. “O afeto e a conexão com as pessoas são fundamentais para superar desafios”, diz.

Legado e futuro

Com oito filhos, doze netos e duas bisnetas, Gilberto Gil se sente realizado. “Dentro da possibilidade de felicidade que discutimos, estou satisfeito”, diz. Ele reforça que a vida segue, e que o tempo não para. “A seta do tempo é para a frente”, conclui.

Gilberto Gil, em frases

“A morte faz parte da vida. É preciso respeitar o fim.”

“Falar com Deus é um exercício consciente e permanente.”

“A inteligência artificial não me preocupa. Minha obra permanecerá registrada de qualquer forma.”

“O mundo sempre esteve para acabar, mas hoje as ameaças são mais tangíveis.”

“A cultura afro-brasileira precisa ser respeitada e valorizada.”

“A seta do tempo é para a frente.”

“A felicidade é uma idealização que utilizamos para criar saúde mental, espiritual e física.”

“A natureza hoje reclama mais em uníssono conosco. Estamos começando a refletir seu discurso.”

“O ser humano é ágil quando instado por emergências. Espero que agora faça o melhor uso dessa capacidade.”

“A música é um elo entre o passado e o futuro. Enquanto houver som, haverá memória.”


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