Justiça Tributária: Reforma do Imposto de Renda pode reduzir desigualdade no Brasil

Mudança na tributação propõe isenção para rendas até R$ 5 mil e taxação de altos salários.

O projeto de lei (PL) entregue pelo Governo Lula ao Congresso Nacional propõe isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil mensais e criação de uma nova alíquota para contribuintes com renda superior a R$ 50 mil por mês. Caso seja aprovado, o Brasil poderá se aproximar de países com sistemas tributários mais progressivos, como França e Alemanha.

Na última terça-feira (18/03/2025), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao Congresso o projeto que prevê a isenção total para cerca de 10 milhões de brasileiros e redução parcial para outros contribuintes da faixa entre R$ 5 mil e R$ 7 mil. A contrapartida para a renúncia fiscal de R$ 25,84 bilhões, segundo o Ministério da Fazenda, será a criação de uma nova alíquota para rendas anuais superiores a R$ 600 mil, com a inclusão de rendimentos antes isentos, como dividendos.

Impactos diretos na arrecadação

O Ministério da Fazenda prevê que 141,3 mil brasileiros com altos salários passarão a contribuir mais, enquanto nove em cada dez pagadores de IR terão isenção total ou parcial. A medida poderá aliviar a carga tributária da maioria e aumentar a arrecadação dos mais ricos, que representam 0,13% dos contribuintes.

Comparação com sistemas internacionais

Clara Zanon Brenck, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que a medida alinha o país a práticas comuns em nações desenvolvidas, onde a progressividade tributária é mais evidente.

Países mais igualitários adotam sistemas tributários que cobram mais proporcionalmente de quem ganha mais”, explicou.

No entanto, Brenck observa que a proposta ainda é tímida diante das distorções estruturais brasileiras, sugerindo que uma alíquota de até 15% sobre as altas rendas seria mais eficaz para reduzir a desigualdade.

O papel da justiça tributária

A professora destaca que justiça tributária se refere à cobrança proporcional à renda, evitando que pessoas de baixa renda arquem com a mesma carga tributária percentual que pessoas de alta renda.

“No sistema atual, pessoas com salários distintos acabam pagando proporcionalmente o mesmo em alguns casos”, criticou Brenck, que também integra o Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da USP.

Reforma separada e efeitos limitados

A economista aponta que a recente reforma que unificou tributos indiretos não abordou o peso da tributação sobre o consumo, que afeta mais os consumidores de baixa renda. Para ela, a separação das reformas indireta e sobre a renda “mantém desequilíbrios” na carga tributária total.

Divergências sobre a efetividade da proposta

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, defendeu o projeto afirmando que ele cria uma “avenida para discutir justiça tributária” e ressaltou que a classe média paga uma alíquota efetiva em torno de 10%, enquanto os mais ricos ficam abaixo desse percentual.

Apesar disso, especialistas consideram que o projeto tem potencial limitado. O analista João Leme, da Tendências Consultoria, alertou que há risco de o Congresso suavizar a tributação sobre os mais ricos. “Sem contrapartidas sólidas, a proposta pode agravar a incerteza fiscal”, afirmou.

Desigualdade e responsabilidade social

O Brasil apresenta uma das dez piores distribuições de renda do mundo, segundo dados do IBGE, com uma disparidade em que os 10% mais ricos ganham 14,4 vezes mais que os 40% mais pobres. O ministro Haddad reforça que a luta pela justiça social não é apenas um compromisso político, mas uma necessidade para corrigir essa realidade.

Desafios e tramitação no Congresso

O presidente da Câmara, Hugo Motta, declarou que o Parlamento analisará com sensibilidade o alcance social da medida, mas não descarta mudanças durante a tramitação. A proposta ainda deve passar por votação na Câmara dos Deputados e no Senado.

Perspectivas e pontos críticos

O pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca que a proposta prioriza a classe média e não altera substancialmente a situação dos mais pobres, que dependem de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Hecksher defende que tornar a tributação mais progressiva atende a um dos princípios constitucionais do Brasil, que visa à redução das desigualdades sociais e regionais.

Principais pontos da proposta

  • Isenção total para quem ganha até R$ 5 mil mensais

  • Redução parcial para rendas entre R$ 5 mil e R$ 7 mil

  • Nova alíquota para rendas superiores a R$ 50 mil mensais

  • Inclusão de dividendos na base de cálculo dos mais ricos

  • Estima-se que 10 milhões de brasileiros sejam beneficiados com a isenção

  • 141,3 mil contribuintes de alta renda serão impactados pela nova tributação

  • A proposta busca reduzir a desigualdade tributária e aumentar a arrecadação dos mais ricos


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.