A cidade de Feira de Santana, tradicionalmente conhecida por sua cultura sertaneja e por seu cenário urbano interiorano, já foi cenário de um fenômeno que até hoje surpreende aqueles que não vivenciaram aquele período: a existência de uma praia. Embora distante do litoral baiano, a cidade, ao longo da década de 1960, viu surgir um ponto de lazer inusitado que atraiu feirenses e moradores de cidades vizinhas para momentos de recreação e confraternização.
A iniciativa teve início após a intervenção do prefeito Joselito Falcão de Amorim, que, em um momento de crise política, encontrou uma solução não convencional para a falta de espaços recreativos na cidade. Ao sanitizar e adaptar a Lagoa de São José, situada no distrito de Maria Quitéria, a lagoa foi transformada em uma praia artificial. Areia branca foi transportada por caminhões, cajueiros e coqueiros foram plantados ao redor, e a estrutura de quiosques foi montada para garantir o conforto dos visitantes.
O impacto dessa transformação foi imediato, e a “praia de São José” passou a ser um destino comum para famílias e grupos de amigos nos finais de semana. Caravanas chegavam de diferentes partes da cidade e da região, seja de carro, bicicleta, cavalo ou até a pé. O local se tornou sinônimo de diversão e convivência, com música, barracas de comida e um ambiente descontraído.
O fotógrafo José Ângelo Pinto, que frequente o local durante a infância, recorda-se das visitas à praia de São José com seu pai.
“Era ótimo, meu pai me levava sempre, e era uma diversão”, relembra.
Para Jorge Magalhães, fotógrafo e morador da cidade, a experiência também ficou marcada na memória.
“Minha mãe preparava comidas, e era uma festa”, conta ele, ressaltando o aspecto comunitário e familiar do local.
No entanto, a praia de Feira de Santana não duraria por muito tempo. A medida que a popularidade da praia crescia, surgiram também os problemas. Os acidentes, tanto nas águas da lagoa quanto na estrada que dava acesso à praia, começaram a marcar a memória do local. “Havia muitos acidentes, especialmente devido ao consumo de bebidas alcoólicas e à falta de infraestrutura das estradas”, relata Lucrécio Bantim, comerciante que também frequentava a praia na juventude. Em um único dia, ele recorda que ocorreram cinco mortes, fato que contribuiu para o afastamento dos foliões da praia.
A morte do local foi lenta e gradativa. As águas da lagoa começaram a secar, e a praia artificial de São José, que antes atraía multidões, foi gradualmente sendo esquecida. Alguns apontam a ação humana como responsável pela degradação da área, mas o professor e estudioso José Ângelo Pinto acredita que o fenômeno foi mais uma reação natural do ambiente, citando registros históricos que indicavam a propensão à estiagem na região.
Embora a “praia de São José” tenha desaparecido, o legado deixado por ela perdura nas lembranças de quem viveu aquela época. Hoje, passados mais de cinquenta anos, as histórias sobre o local continuam a ser contadas, quase como um conto de fadas da cidade, que, por um breve período, teve o privilégio de possuir uma praia, mesmo sem estar no litoral.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




