Presidente Volodymyr Zelensky propõe troca de minerais raros da Ucrânia por apoio dos EUA, mas enfrenta obstáculos territoriais

Presidente ucraniano tenta garantir ajuda militar oferecendo reservas minerais, mas maioria dos depósitos está em áreas controladas pela Rússia.
Presidente ucraniano tenta garantir ajuda militar oferecendo reservas minerais, mas maioria dos depósitos está em áreas controladas pela Rússia.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, propôs a negociação de reservas de minerais raros como forma de assegurar a continuidade do apoio militar dos Estados Unidos ao país. No entanto, analistas apontam que grande parte desses depósitos está localizada em territórios controlados pela Rússia, o que torna a proposta inviável. Além disso, há dúvidas sobre o interesse de Donald Trump, que busca encerrar o conflito.

Negociação com entraves geopolíticos

Zelensky afirmou em entrevista à mídia norte-americana que a Ucrânia poderia negociar um acordo com os EUA, oferecendo o acesso a terras raras em troca da continuidade do fornecimento de armas. A proposta surge em um momento de incertezas sobre o futuro da ajuda internacional a Kiev, diante da mudança de postura de Washington com a possível volta de Trump à presidência.

O ex-presidente norte-americano sugeriu condicionar qualquer novo suporte à exploração desses minerais, essenciais para a fabricação de tecnologias como baterias, smartphones e veículos elétricos. A estimativa de Trump era alcançar US$ 500 bilhões com a exploração desses recursos.

No entanto, especialistas apontam que a maior parte dessas reservas se encontra na região de Donbass, território que a Rússia considera anexado e fora do controle de Kiev. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o pesquisador Tito Lívio Barcellos, do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), afirmou que a proposta de Zelensky não altera a situação do conflito.

Implicações do impasse territorial

Durante coletiva de imprensa, Zelensky exibiu um mapa indicando as áreas de extração mineral e sugeriu um leilão das concessões. Entretanto, de acordo com Barcellos, muitos dos moradores de Donbass se opõem à exploração e, além disso, a Ucrânia não tem soberania sobre a região, o que inviabiliza qualquer acordo sem a retomada territorial.

O especialista aponta que o próprio governo ucraniano já reconhece a impossibilidade de restaurar as fronteiras de 1991, o que tornaria a oferta dos minerais apenas um recurso de barganha para garantir a continuidade do fornecimento de armas.

A situação geopolítica coloca Zelensky em uma posição delicada, uma vez que, além de não obter a entrada da Ucrânia na OTAN e na União Europeia, o país perdeu territórios estratégicos e suas reservas minerais associadas.

Relação entre Trump, Putin e a continuidade do conflito

Outro especialista ouvido pelo podcast, Vitor Stuart de Pieri, professor associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), analisou o impacto da possível negociação entre EUA e Ucrânia sob a ótica russa. Ele afirma que Moscou considera a tentativa de barganha como uma ameaça à sua influência na região, além de reforçar uma estratégia de cerco à Eurásia, o que poderia motivar respostas por parte da Rússia.

Pieri destaca ainda que Trump tem uma postura menos intervencionista em conflitos internacionais e que sua política externa pode resultar no encerramento da guerra. Para ele, é improvável que Washington leve adiante um acordo para a exploração de minerais em troca de apoio militar.

A Rússia, por sua vez, detém posições estratégicas no mercado global de terras raras, o que lhe confere uma vantagem em qualquer negociação sobre esses recursos. Segundo Pieri, a perspectiva russa sobre a Ucrânia passa pelo descumprimento dos Acordos de Minsk e pela tentativa de adesão de Kiev à OTAN, elementos que Moscou considera inegociáveis.

Com o impasse territorial e a incerteza sobre a continuidade do apoio dos EUA, a Ucrânia enfrenta dificuldades para sustentar o conflito a longo prazo. Caso Trump seja eleito, a tendência é que Washington busque um desfecho para a guerra, sem novas concessões militares significativas.


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