A terceira fase da Operação Overclean, deflagrada nesta quinta-feira (03/04/2025) pela Polícia Federal em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), aprofunda a investigação sobre um esquema de corrupção que teria movimentado aproximadamente R$ 1,4 bilhão em recursos públicos. A ofensiva judicial e policial configura-se metasimbolicamente em uma espécie de “Forquilha”. As apurações apontam para fraudes sistemáticas em processos licitatórios, desvio de verbas oriundas de emendas parlamentares, além de indícios de lavagem de dinheiro e práticas reiteradas de corrupção ativa e passiva.
Embora o ex-prefeito de Salvador e atual vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, não figure entre os formalmente investigados até o momento, a operação atinge diretamente aliados próximos e operadores políticos identificados como integrantes de seu círculo de confiança. Os desdobramentos da investigação lançam dúvidas sobre a evolução patrimonial de Neto e sua possível vinculação indireta aos contratos sob escrutínio, aprofundando a crise reputacional que paira sobre sua trajetória recente.
A metáfora como estrutura narrativa
A metáfora da “forquilha” — galho que se bifurca em ramos menores — é aqui empregada para ilustrar o avanço das investigações, que partem de casos específicos e personagens periféricos até se estreitarem em direção ao centro de comando político. Nesse contexto, o tronco representa o núcleo de poder, e os galhos, os atores que compõem a malha de relações suspeitas. A operação desenha um percurso investigativo que não se limita às pontas do esquema, mas avança para examinar a solidez do tronco institucional onde se sustentam velhas estruturas de mando.
Para além destes aspectos, tradicionalmente utilizada na caça ou contenção de animais, essa estrutura narrativa da forquilha também funciona como armadilha metassimbólica, representando o momento em que um possível alvo ou investigado, confrontado por múltiplas frentes probatórias, encontra-se enredado num cerco jurídico cada vez mais estreito.
Em tese, nesse contexto narrativo, a operação investigativa segue um percurso que se ramifica e converge, e que atua como um dispositivo de imobilização estratégica. Ao seguir os galhos e identificar sua origem comum, as autoridades constroem o cerne da acusação, mirando diretamente na responsabilização do tronco, ou seja, na figura central do poder investigado.
A forquilha opera, assim, como figura-chave da narrativa investigativa. Ela é estrutura e armadilha; é mapa e cela. A metáfora reforça a ideia de que, em tese, o caminho da apuração, embora sinuoso e multifacetado, é guiado por uma lógica estratégica de aproximação ao centro do poder — local onde a força simbólica e prática da operação se revela com maior intensidade e contundência.
Contexto da operação: foco no Dnocs e verbas federais
A Operação Overclean tem como ponto de partida o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), vinculado ao Ministério da Integração Nacional. O órgão teria sido utilizado como canal de repasse de verbas públicas por meio de emendas parlamentares que beneficiaram prefeituras e empresas ligadas a figuras políticas influentes. O esquema teria envolvido:
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Superfaturamento de contratos públicos
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Direcionamento de licitações
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Uso de empresas de fachada
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Distribuição de propinas
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Apoio de agentes públicos para vazamento de informações sigilosas
Operação Overclean revela obstrução de Justiça, destruição de provas e rede criminosa articulada
A 3ª Fase da Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal em 3 de abril de 2025, identificou evidências contundentes de obstrução de Justiça, destruição de provas e manipulação de informações no curso das investigações sobre uma complexa rede criminosa com atuação em Salvador, São Paulo, Aracaju e Belo Horizonte. Segundo a PF, o empresário José Marcos Moura supostamente teria ocultado documentos e influenciado depoimentos para dificultar o avanço das apurações. Em sua residência, foram apreendidas joias e materiais sigilosos que reforçam as suspeitas de interferência deliberada no processo judicial.
A ofensiva da PF também apontou que o grupo criminoso vinha operando com sofisticação e articulação interestadual, empregando táticas para comprometer a integridade das provas e manipular dados oficiais. O empresário Alex Parente foi mencionado como suposto responsável direto por ações de destruição de evidências, enquanto outros investigados atuaram para distorcer informações e blindar integrantes da organização. As diligências realizadas em quatro capitais brasileiras evidenciam a estrutura organizada da rede, que buscava não apenas desviar recursos públicos, mas também sabotar o sistema de Justiça, configurando um dos mais graves episódios de violação institucional já apurados pela operação.
Bruno Barral: elo entre Salvador e Belo Horizonte
Bruno Barral, secretário de Educação de Belo Horizonte até ser afastado por ordem do Supremo Tribunal Federal, é um dos principais alvos da terceira fase da operação. Antes disso, foi titular da mesma pasta em Salvador entre 2017 e 2020, sob a gestão de ACM Neto, indicado politicamente pelo PSDB. Na ação da PF, foram apreendidos US$ 11,5 mil, € 7 mil e R$ 7 mil em espécie. Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que a exoneração foi imediata e que a investigação se refere exclusivamente a sua atuação anterior na capital baiana.
Marcos Moura: o “rei do lixo” e os contratos sob suspeita
Outro personagem-chave é José Marcos de Moura, conhecido como o “rei do lixo”, também alvo da terceira fase. Empresário com forte atuação no setor de limpeza urbana de Salvador durante a gestão de ACM Neto, Moura é apontado como um dos articuladores centrais do esquema. Sua relação com o ex-prefeito é notória nos bastidores políticos e sua prisão na primeira fase da operação reforça a hipótese de que contratos milionários foram direcionados a empresas vinculadas a aliados do ex-prefeito.
Relações entre José Marcos de Moura e a Família de ACM Neto: Sociedade em Aeronave e Implicações na Operação Overclean
A 1ª Fase da Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal, revelou conexões significativas entre o empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, e a família do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. Dentre essas conexões, destaca-se a sociedade na propriedade de uma aeronave e a utilização do avião por ACM Neto durante sua campanha ao governo da Bahia em 2022.
Em maio de 2022, Renata Magalhães Correia, irmã de ACM Neto, adquiriu 16,7% de participação em uma aeronave modelo Hawker 400, pelo valor de R$ 500 mil. Os demais proprietários são José Marcos de Moura (União Brasil)e João Gualberto (PSDB), ex-prefeito de Mata de São João e aliado político de ACM Neto. Essa parceria societária evidencia a proximidade entre o empresário e a família Magalhães
Uso da Aeronave na Campanha de 2022
Durante a campanha eleitoral de 2022, ACM Neto utilizou a referida aeronave para deslocamentos. Contudo, na prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não há registros de despesas relacionadas a essa aeronave específica, apenas contratos com empresas de táxi-aéreo. Essa discrepância levanta questionamentos sobre a transparência na declaração dos gastos de campanha.
A impressionante evolução patrimonial de ACM Neto
Um dos pontos mais sensíveis e reveladores é a evolução patrimonial de ACM Neto. No início de sua carreira política, o então deputado federal declarou cerca de R$ 300 mil em bens. Atualmente, após duas décadas na vida pública, seu patrimônio supera R$ 40 milhões, segundo declarações prestadas à Justiça Eleitoral. Esse salto patrimonial, embora não configure crime por si só, suscita dúvidas sobre as origens dos recursos, especialmente diante da malha de contratos públicos e relações empresariais sob investigação de amigos, aliados e ex-comandados do ex-prefeito de Salvador.
Investigação no STF e sigilo judicial
A operação está sob análise do ministro Kassio Nunes Marques, no Supremo Tribunal Federal. O inquérito foi remetido à Corte após citação ao deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil). Em fevereiro de 2025, o caso foi colocado sob sigilo judicial, o que restringe o acesso a informações detalhadas, mas não impede o avanço das apurações ou as medidas cautelares.
Reações políticas e institucionais
- Prefeitura de Belo Horizonte
A Prefeitura de Belo Horizonte declarou que cumprirá integralmente as decisões judiciais. O prefeito Álvaro Damião (União Brasil) enfatizou:
“Qualquer que seja o secretário, ele terá que responder por seus atos.”
- Prefeituras de Lauro de Freitas e Vitória da Conquista
As prefeituras de Lauro de Freitas e Vitória da Conquista também emitiram notas afirmando colaboração com a Polícia Federal.
- Defesa de Bruno Barral
Até o momento, a defesa de Bruno Barral não se pronunciou publicamente.
- ACM Neto
ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e vice-presidente nacional do União Brasil, negou ter indicado Bruno Barral para o cargo em Belo Horizonte, afirmando que a escolha foi prerrogativa do prefeito daquela cidade. Ele também declarou não ter conhecimento de qualquer envolvimento da cúpula do União Brasil na Operação Overclean.
- Deputado Robinson Almeida
O deputado estadual Robinson Almeida (PT) interpretou as declarações de ACM Neto como uma tentativa de desviar o foco das investigações que envolvem aliados próximos do ex-prefeito de Salvador.
- Sind-REDE/BH
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-REDE/BH) destacou que o afastamento de Barral soma-se a denúncias anteriores sobre irregularidades em sua gestão, que precisam ser apuradas.
Implicações institucionais e morais
A Operação Overclean reafirma a necessidade de revisão crítica sobre os mecanismos de fiscalização da gestão pública. O entrelaçamento entre políticos, empresários, agentes públicos e contratos vultosos aponta para a existência de uma estrutura sistêmica de corrupção. A ausência de imputação formal a ACM Neto não o isenta da responsabilidade política, sobretudo diante da quantidade de aliados diretos envolvidos e da convergência de interesses sob sua liderança.
Linha do tempo da Operação Overclean
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Dez/2024 – Primeira Fase:
Prisões preventivas, buscas e apreensões. Detidos empresários e ex-diretores do Dnocs. -
Dez/2024 – Segunda Fase:
Prisões de agentes políticos em Lauro de Freitas e Vitória da Conquista. Ações contra lobistas e operadores financeiros. -
Jan/2025 – STF assume inquérito:
Deputado Elmar Nascimento é citado. Processo vai para o ministro Kassio Nunes Marques. -
Fev/2025 – Sigilo Judicial:
Ministro do STF impõe sigilo às investigações. -
03/Abr/2025 – Terceira Fase:
Afastamento de Bruno Barral e 16 mandados de busca em quatro capitais.
Lista de supostos envolvidos e situação judicial
| Nome | Função | Situação |
|---|---|---|
| Bruno Oitaven Barral | Sec. Educação BH / Ex-Sec. Salvador | Afastado e exonerado |
| José Marcos de Moura | Empresário (“rei do lixo”) | Preso (1ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Alex Rezende Parente | Empresário | Preso (1ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Fábio Rezende Parente | Empresário | Preso (1ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Lucas Maciel Lobão Vieira | Ex-diretor do Dnocs na Bahia | Preso (1ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Vidigal Cafezeiro Neto (Republicanos) | Ex-vice-prefeito de Lauro de Freitas | Preso (2ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Lucas Dias | Ex-secretário de Vitória da Conquista | Preso (2ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Carlos André | Lobista | Preso (2ª fase) e liberado pelo TRF1 |
| Rogério Almeida Medeiros | Policial Federal | Alvo de medidas cautelares |
| Lara Betânia Lélis Oliveira | Servidora em Vitória da Conquista | Afastada |
| Elmar Nascimento | Deputado Federal (União Brasil) | Citado no inquérito; processo no STF |
| Clebson Santo Cruz | Investigado | Nome na lista da PF |
| Pedro Alexandre Parente Junior | Investigado | Nome na lista da PF |
| Leilane Caldas Pinto Ribeiro Parente | Investigada | Nome na lista da PF |
Resumo dos fatos
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A Operação Overclean investiga desvios de recursos públicos federais via Dnocs, por meio de contratos superfaturados e fraudes em licitações.
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Aproximadamente R$ 1,4 bilhão teria sido movimentado irregularmente.
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Vários investigados são ligados politicamente ao ex-prefeito ACM Neto e ao União Brasil.
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A operação ocorre em um contexto de expansão do controle sobre verbas de emendas parlamentares.
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Apesar de não haver acusação formal, a proximidade dos alvos com o ex-prefeito levanta questionamentos políticos e morais.
*Com informações do Polícia Federal, CGU, STF, Jornal Folha de S.Paulo, Metrópoles, Revista Veja.
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Uma resposta
Parabéns. Reportagem perfeita. Cobertura digna de um jornalista do seu gabarito. Sem proteção ou apadrinhamento. Matérias bem elaboradas. Ótima redação, que facilita a compreensão pelo leitor. PARABÉNS