Cardeal Parolin defende diálogo como caminho para a paz diante de escalada de conflitos globais

Vaticano alerta para escalada da guerra na Ucrânia e defende papel ativo da diplomacia internacional.
Em entrevista ao jornal La Repubblica, o cardeal Pietro Parolin reitera que a paz deve ser construída com base no diálogo, na justiça e no respeito ao direito internacional, destacando o papel da Santa Sé na mediação de conflitos.

Segunda-feira, 21/04/2025 – O secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Pietro Parolin, declarou que a paz não pode ser imposta, mas sim construída com paciência e diálogo constante entre as nações. A afirmação foi feita durante entrevista concedida ao jornal italiano La Repubblica, na qual o cardeal tratou de temas relevantes da política internacional, incluindo os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, as tensões geopolíticas envolvendo os Estados Unidos, o papel da Europa e a relação com a China.

Conflito na Ucrânia: direito à defesa e apelo pela paz

Parolin demonstrou preocupação com uma possível escalada militar na Ucrânia, enfatizando que isso provocaria “mais sofrimento e novas vítimas”. Ao mesmo tempo, reconheceu o direito dos ucranianos à autodefesa, reiterando que a Santa Sé apoia a soberania e a integridade territorial do país. Segundo ele, “cabe aos próprios ucranianos decidir o que desejam negociar ou eventualmente conceder”.

O cardeal reforçou que uma paz duradoura somente será alcançada se for fundamentada em justiça e no respeito ao direito internacional, afastando soluções impostas e defendendo abordagens legítimas sob os parâmetros do multilateralismo.

Espiral de desconfiança e corrida armamentista

Em sua análise, o cardeal Parolin afirmou que a comunidade internacional vive um clima de crescente desconfiança, no qual “ninguém mais confia em ninguém”. Esse cenário, segundo ele, conduz ao medo, ao rearmamento e à adoção de ações militares preventivas, configurando uma espiral de conflito permanente.

A missão da Santa Sé, nesse contexto, é, segundo o cardeal, “acender pequenas luzes e relançar a mensagem pacificadora dos Papas, que, há mais de um século, dizem não à guerra e à corrida armamentista”.

Multilateralismo em xeque com os EUA de Trump

Indagado sobre a postura dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump, Parolin afirmou que a atual abordagem da Casa Branca difere significativamente da tradição diplomática. Ele destacou que cortes na ajuda humanitária afetam gravemente os mais vulneráveis e ressaltou que a Santa Sé defende uma política internacional baseada em cooperação multilateral e consenso entre os Estados.

Ao tratar da Europa, o cardeal criticou o uso da expressão “rearmamento” para justificar o aumento de investimentos em defesa, avaliando que tal narrativa fomenta novos conflitos em vez de consolidar a paz.

Conflitos armados e manipulação da religião

Sobre os múltiplos conflitos armados no mundo, Parolin refutou a ideia de que o mundo vive um “ano zero” no diálogo inter-religioso. Para ele, as guerras atuais não são motivadas por religião, mas sim por instrumentalização de valores espirituais para fins políticos e materiais.

Gaza: sofrimento da população civil e limites da autodefesa

Comentando o cenário humanitário em Gaza, o cardeal qualificou os dados e imagens como “moralmente inaceitáveis”. Ressaltou que, embora o direito à autodefesa seja legítimo, ele não pode justificar a destruição total ou parcial de um povo, nem a negação do direito de existir em sua própria terra.

Relações com a China e o papel da diplomacia vaticana

Em relação à China, Parolin afirmou que a Santa Sé mantém o desejo de instalar um escritório de ligação em Pequim, o que ainda está no campo das possibilidades, mas seria visto como um passo importante no fortalecimento das relações bilaterais.

O diálogo como missão fundamental

Encerrando a entrevista, Parolin reforçou que a principal contribuição da Santa Sé no cenário internacional é promover o diálogo, mesmo quando ele parece ineficaz ou impopular. Para o cardeal, dialogar é uma exigência moral e política que ultrapassa a lógica imediatista dos resultados, sendo essencial para romper ciclos de violência e exclusão.


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