Corte de 84% na PNAB em 2025 gera impasse entre promessa do Governo Lula e execução orçamentária

Protesto contra Governo Lula por corte na PNAB em 2025.

Na quarta-feira (20/03/2025), o Congresso Nacional aprovou a Lei Orçamentária Anual (LOA) com um corte de 84% no orçamento da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), reduzindo os recursos de R$ 3 bilhões para R$ 478 milhões. O ajuste gerou forte reação entre artistas, gestores e trabalhadores da cultura, que alertam para riscos de paralisação de projetos estruturantes em todo o país.

O Ministério da Cultura (MinC) reagiu à crise com declarações públicas afirmando que o presidente Lula garantiu a recomposição dos recursos, mesmo sem haver dotacão efetiva no orçamento. A promessa tem gerado polêmicas e foi comparada a um “contrato de confiança”, com base apenas na palavra empenhada do Executivo.

Divergências entre versões: entre o discurso oficial e as exigências legais

Três narrativas distintas emergiram após o corte:

1. Posição oficial do MinC

Em redes sociais e canais institucionais, o MinC confirmou a redução, mas reforçou que os recursos serão integralmente repassados aos estados e municípios que cumprirem metas de execução. O secretário-executivo do MinC, Márcio Tavares, afirmou que o valor de até R$ 3 bilhões será garantido por meio de suplementação orçamentária.

A lei que instituiu a PNAB previa repasses anuais obrigatórios de R$ 3 bilhões, mas foi modificada para condicionar os recursos ao cumprimento de metas. Um decreto posterior estabeleceu que entes federativos devem comprovar execução de ao menos 60% dos valores recebidos em 2024 para terem direito a novas transferências.

O MinC também solicitou à sociedade civil organização e mobilização junto ao Congresso para viabilizar a recomposição dos valores.

2. Crítica da autora da PNAB

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), autora da Lei Aldir Blanc 2 (PL 1518/2021), contestou a declaração do MinC. Segundo ela, não é possível recompor os R$ 2,5 bilhões cortados apenas por meio de portaria ou decisão administrativa. A recomposição dependeria de um Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN), com aprovação formal pelo Legislativo.

Jandira destacou que a PNAB é uma política pública com despesa obrigatória e afirmou que a redução fere a legislação em vigor. Em suas redes sociais, classificou o corte como “inaceitável” e criticou o relatório aprovado do senador Angelo Coronel (PSD-BA), que reduziu os recursos.

3. Apuração do Observatório da Cultura do Brasil

Relatório do Observatório da Cultura, intitulado “40 anos do MinC”, apresenta uma terceira leitura dos fatos. Segundo o documento, os cortes acumulados na PNAB entre 2024 e 2025 somam R$ 4,22 bilhões, comprometendo a meta de repasses de R$ 15 bilhões em cinco anos.

A análise também aponta para fragilidades estruturais na execução e prestação de contas dos recursos, conforme relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU). O TCU destacou ausência de indicadores, problemas de transparência e falta de sistemas de monitoramento por parte do MinC, o que dificultaria a continuidade da política.

Impacto das mudanças legais e orçamentárias

Em novembro de 2024, o governo federal editou a Medida Provisória nº 1.274, que alterou a lei da PNAB, flexibilizando os repasses e permitindo o contingenciamento dos recursos. A justificativa foi o cumprimento das metas fiscais e do novo teto de gastos.

Com isso, o valor de R$ 3 bilhões previsto para 2024 foi reduzido em R$ 1,7 bilhão, e em 2025, o corte adicional de R$ 2,5 bilhões totaliza uma redução de R$ 4,22 bilhões nos dois anos. A liberação de novos recursos também está condicionada à execução orçamentária dos anos anteriores.

Especialistas destacam que, sem um PLN aprovado pelo Congresso, o governo está juridicamente impedido de executar os valores totais prometidos. Mesmo que haja promessa do presidente, a recomposição depende de aprovação formal no Legislativo, sob pena de descumprimento dos princípios constitucionais da administração pública.

Apesar das garantias públicas oferecidas pelo Ministério da Cultura e pela Presidência da República, a recomposição do orçamento da PNAB está condicionada a aprovação legislativa e ao cumprimento de metas de execução pelos entes federativos. A situação expõe as tensões entre discurso político e a realidade técnico-orçamentária.

Governo Lula reduz verba da PNAB de R$ 3 bilhões para R$ 478 mi; Setor cultural cobra solução concreta.
Governo Lula reduz verba da PNAB de R$ 3 bilhões para R$ 478 mi; Setor cultural cobra solução concreta.

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.