EUA impõem tarifa de 10% sobre produtos do Brasil e ampliam sanções contra UE, China, Japão e outros países

O governo dos Estados Unidos anunciou, em 02/04/2025, a imposição de uma tarifa de 10% sobre produtos importados do Brasil, além de sanções mais amplas contra países com superávit comercial com os EUA, como China, União Europeia, Japão e Coreia do Sul. A política visa restabelecer a reciprocidade comercial e fortalecer a indústria norte-americana. O Brasil reagiu com contestação na OMC e aprovação de uma legislação de retaliação comercial.
Nova política tarifária anunciada pelo presidente Donald Trump eleva tensões comerciais e atinge parceiros estratégicos como Brasil, China, União Europeia, Japão e Coreia do Sul.
Na quarta-feira (02/04/2025), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 10% sobre todos os produtos importados do Brasil. A medida faz parte de um pacote mais amplo de reestruturação tarifária com foco em reciprocidade comercial, voltado contra países que, segundo a Casa Branca, mantêm práticas comerciais desbalanceadas em relação aos interesses econômicos dos EUA.

Além do Brasil, a nova política tarifária inclui sanções comerciais contra uma série de países com superávit na balança comercial com os Estados Unidos, como China, Taiwan, Vietnã, Japão, União Europeia, Tailândia e Coreia do Sul. A medida também prevê tarifas punitivas de 25% sobre países que adquirirem petróleo ou gás da Venezuela.

Tarifa ao Brasil: impacto econômico e reação do governo

A tarifa de 10% imposta ao Brasil entrará em vigor no sábado (05/04/2025). Embora considerada uma das menores alíquotas entre os países atingidos, a medida pode afetar significativamente setores estratégicos da economia brasileira. Entre os principais produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos em 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), estão:

  • Petróleo

  • Minério de ferro

  • Aço

  • Aeronaves

  • Café

  • Carne bovina

  • Açúcar

A tarifa de 25% anteriormente imposta sobre aço e alumínio brasileiros continua válida. O governo brasileiro estuda contestar a medida junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que, se não houver reversão da tarifa sobre o aço, o país poderá adotar sanções comerciais recíprocas.

Além disso, o Senado Federal aprovou, nesta semana, um projeto de lei que autoriza o Brasil a aplicar medidas retaliatórias contra países que adotem práticas comerciais unilaterais, incluindo tarifas ambientais e barreiras tarifárias. O projeto, inicialmente concebido para regulamentar respostas a exigências ambientais desproporcionais, foi ampliado para cobrir situações como a atual.

Expansão das tarifas: países e setores estratégicos atingidos

A nova política tarifária norte-americana inclui tarifas individualizadas e setoriais, com valores que poderão ultrapassar os 10% iniciais, dependendo do déficit comercial que os países mantêm com os Estados Unidos. Segundo Trump, a intenção é “restabelecer o equilíbrio e a justiça nas relações comerciais internacionais”.

Países diretamente afetados:

  • China: tradicional alvo da política comercial de Trump, a China será impactada por tarifas adicionais ainda não especificadas, voltadas aos setores de tecnologia e manufatura.

  • União Europeia: os países do bloco europeu enfrentarão sobretaxas sobre produtos farmacêuticos, agrícolas e automotivos.

  • Japão e Coreia do Sul: tarifas serão aplicadas a produtos eletrônicos, semicondutores e veículos.

  • Taiwan e Vietnã: foco em têxteis, eletrônicos e móveis.

  • Tailândia: produtos de borracha, peças automotivas e pescados estão entre os alvos.

  • Singapura, Chile, Colômbia, Austrália e Reino Unido: foram incluídos na lista com tarifas equivalentes à aplicada ao Brasil (10%).

Curiosamente, Canadá e México, integrantes do Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), ficaram de fora desta rodada de sanções, possivelmente devido às obrigações contratuais estabelecidas no tratado trilateral.

A tarifa contra países que compram petróleo da Venezuela

Em paralelo às tarifas de reciprocidade, Trump anunciou uma tarifa punitiva de 25% sobre todos os produtos de países que importarem petróleo ou gás da Venezuela. A medida tem como objetivo aumentar o cerco econômico ao governo de Nicolás Maduro e restringir a circulação de recursos financeiros que, segundo Washington, sustentam um regime “hostil” aos interesses norte-americanos.

Essa sanção entra em vigor na mesma data que o pacote tarifário geral — 02 de abril — e atinge particularmente países latino-americanos e asiáticos que ainda mantêm relações energéticas com Caracas.

Além das tarifas, Trump revogou a licença que permitia à Chevron operar na Venezuela e intensificou as deportações de migrantes venezuelanos, com base em uma antiga legislação de emergência voltada ao tratamento de estrangeiros considerados “inimigos” dos EUA.

Fundamentos e objetivos da nova política comercial

Donald Trump apelidou o 2 de abril de “Dia da Libertação”, reiterando seu discurso protecionista. Segundo o presidente norte-americano, a imposição de tarifas é um instrumento essencial para:

  • Reindustrializar os Estados Unidos

  • Reduzir o déficit comercial e orçamentário

  • Gerar empregos internos

  • Restabelecer a soberania econômica

  • Forçar parceiros comerciais a adotarem práticas mais equilibradas

Trump declarou:

“Por décadas, nosso país foi saqueado por nações próximas e distantes. Isso acabou. A partir de hoje, quem quiser acesso ao nosso mercado terá de pagar por esse privilégio.”

A nova política tarifária passa a ser, portanto, a base da doutrina econômica, comercial e diplomática dos EUA sob a gestão Trump, reforçando uma postura de unilateralismo econômico e contestação às instituições multilaterais.

Implicações geopolíticas e riscos à ordem comercial global

A adoção de medidas unilaterais por parte dos EUA pode acirrar disputas comerciais internacionais, provocar represálias e enfraquecer instituições como a OMC. Há também o risco de desaceleração de cadeias produtivas globais, especialmente em setores como tecnologia, agroindústria, farmacêutica e indústria de base.

Especialistas em comércio internacional alertam que o movimento poderá provocar a fragmentação de acordos multilaterais, fomentar guerras comerciais e afetar o crescimento global, sobretudo em economias emergentes.

*Com informações da RFI.


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