Gilberto Gil e Preta Gil emocionam ao cantar Drão na despedida dos palcos: um hino à transcendência e à continuidade

No sábado (26/04/2025), Gilberto Gil e Preta Gil emocionaram o público no Allianz Parque ao interpretar "Drão" durante o show da turnê Tempo Rei. A apresentação, marcada por profunda carga simbólica, reafirmou os valores de amor, resiliência e tradição, representando a celebração da vida, da continuidade familiar e do legado da música popular brasileira.
Gilberto Gil e Preta Gil emocionam o público no Allianz Parque ao interpretar "Drão" durante a turnê Tempo Rei, em um momento que celebra a força dos laços familiares, a superação das adversidades e a continuidade dos valores tradicionais da música brasileira.

Gilberto Gil e sua filha Preta Gil protagonizaram momento histórico no Allianz Parque, em São Paulo, ao interpretarem “Drão” no encerramento da turnê Tempo Rei, no sábado (26/04/2025), reforçando valores de amor, resiliência e tradição familiar.

Durante o show de despedida da turnê Tempo Rei, Gilberto Gil e Preta Gil interpretaram a emblemática canção “Drão” diante de um público profundamente emocionado no Allianz Parque, em São Paulo. A apresentação transcendeu o campo da música, afirmando-se como um símbolo de continuidade geracional e resiliência.

Dimensões simbólicas do momento

O episódio adquiriu significados que ultrapassam o âmbito artístico:

  • Valor simbólico: Preta Gil, em tratamento contra o câncer desde 2023, simbolizou a força da família diante das adversidades, transmitindo ao público uma mensagem de superação e continuidade.

  • Imagens de arquivo: Fotografias de Preta ainda bebê nos braços do pai foram exibidas nos telões, resgatando a memória afetiva e intensificando o impacto emocional da apresentação.

  • Emoção e resiliência: Gilberto Gil foi às lágrimas enquanto interpretava a canção, em meio a intensos aplausos e aclamações de “Preta! Preta!”, demonstrando a ligação profunda entre arte, vida e tradição.

“Drão”: marco de maturação artística

Composta no início da década de 1980, “Drão” reflete um momento crucial de transição na vida pessoal de Gilberto Gil, inspirado pela separação de sua então esposa, Sandra Gadelha, carinhosamente apelidada de “Drão”. A canção representa uma inflexão no percurso artístico de Gil, afastando-se das experimentações da Tropicália e da psicodelia para adotar uma abordagem mais intimista e melodicamente refinada.

Essa mudança integra um movimento mais amplo na música popular brasileira da época, em que a densidade existencial passou a ocupar espaço central nas composições, refletindo sobre temas universais como relações humanas, perdas, continuidade e transcendência.

Legado que atravessa gerações

O ato de cantar “Drão” ao lado da filha, no marco de uma despedida artística, encapsula o espírito da obra: o amor que resiste ao tempo, a dor que amadurece em sabedoria, e a luz que se projeta nas gerações futuras. Trata-se de um testemunho eloquente de como a tradição, quando fundada no amor e na memória, permanece viva através dos tempos.

Estrutura Musical e Harmônica

“Drão” é construída sobre uma base harmônica sofisticada, típica da tradição da música popular brasileira de excelência — herdeira de nomes como Tom Jobim e João Gilberto. O arranjo é sóbrio, concentrando-se em violão e voz, permitindo que a complexidade harmônica dialogue diretamente com a profundidade da letra.

A progressão de acordes escapa do trivial, empregando dissonâncias suaves (como nonas e sextas), que criam uma atmosfera melancólica e contemplativa, sem resvalar no sentimentalismo barato. O compasso fluido e a interpretação serena de Gilberto Gil reforçam o caráter de aceitação e de sabedoria que permeia a obra.

Análise da Letra

A letra de “Drão” é de rara profundidade filosófica e emocional. Distante do lamento ou da vitimização sentimental comuns a tantas canções de separação, Gil opta por uma reflexão madura sobre a natureza do amor e da perda.

Destacam-se alguns pontos:

  • Superação do egoísmo amoroso: Gil afirma que “o amor da gente é como um grão / uma semente de ilusão”, apontando que toda relação contém em si uma parcela de idealização que, naturalmente, se desfaz no curso do tempo.

  • Transcendência da perda: Ao dizer que “o fim da história é o começo”, ele sugere que a dissolução de uma relação não é o aniquilamento do amor, mas sua metamorfose em uma nova forma de existência — espiritual, amadurecida.

  • Refutação do ressentimento: Não há espaço para mágoa. A separação é vista como parte natural do ciclo da vida, reafirmando uma visão tradicional e sábia de que o sofrimento deve ser aceito com dignidade.

O emprego do vocativo (“Drão!”) logo na abertura da canção confere à música um caráter quase litúrgico, como uma oração pessoal dirigida à memória da amada e à própria vida.

Temas Tradicionais

“Drão” evoca valores tradicionais caros à cultura brasileira:

  • A noção de amor como plantio: A metáfora do grão remete à tradição rural, à ligação com a terra e ao trabalho paciente do agricultor — um símbolo ancestral de sabedoria e resiliência.

  • Aceitação da impermanência: Em consonância com a filosofia cristã e com tradições populares brasileiras, a música ensina que tudo na vida é transitório e que o verdadeiro amor não é posse, mas libertação.

Essa perspectiva, fundamentada na humildade diante do tempo e do destino, reflete uma visão profundamente enraizada nos costumes antigos — hoje muitas vezes desprezada por uma sociedade que cultua a efemeridade e a gratificação instantânea.

A Eternidade de “Drão” e o Legado de Gilberto Gil

“Drão” é uma obra-prima que alia excelência musical, profundidade filosófica e respeito à tradição. A apresentação conjunta de Gilberto Gil e Preta Gil não apenas reitera o valor da música como forma de arte atemporal, mas também celebra a força da vida e da continuidade diante da fragilidade humana.

Em sua despedida dos palcos, Gilberto Gil reafirma, com grandeza e serenidade, aquilo que a boa tradição sempre ensinou: o verdadeiro amor não se extingue — ele se transforma e permanece.


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