O governo da Venezuela concedeu ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a gestão de 180 mil hectares de terra, ampliando uma cooperação iniciada em 2005 durante o mandato do ex-presidente Hugo Chávez. A iniciativa, anunciada em março pelo presidente Nicolás Maduro, consolidou a presença do movimento brasileiro no país sul-americano e reforçou sua atuação no campo da agroecologia e da educação popular.
O reconhecimento do MST pelo governo venezuelano foi discutido por Rosana Fernandes, integrante da coordenação política do movimento, em entrevista ao podcast internacional Mundioka, da Sputnik Brasil. Segundo Fernandes, o MST está presente na Venezuela há duas décadas, com atuação em áreas como produção agrícola, educação, formação política e organização social.
A área cedida ao movimento integra o projeto denominado Pátria Grande do Sul, onde vivem mais de mil famílias, entre indígenas e membros de conselhos comunais. A proposta é impulsionar a produção agroecológica, reduzindo a dependência da Venezuela da importação de alimentos. A produção inclui mandioca, frutas, legumes e pimentas, voltadas para o abastecimento interno.
Apesar dos avanços, Fernandes apontou dificuldades na logística de escoamento da produção para os centros urbanos. Segundo ela, o processo de comercialização ainda precisa ser aprimorado para garantir que os alimentos cheguem aos mercados consumidores.
A representante também comparou o modelo de agricultura camponesa com o do agronegócio, argumentando que cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil provêm da agricultura familiar. Para Fernandes, esse modelo pode ser replicado em outros países como estratégia de soberania alimentar.
A atuação do MST na Venezuela envolve também transferência de conhecimento. Experiências brasileiras em cooperativas de arroz, leite, café e cacau estão sendo compartilhadas com agricultores venezuelanos. Em contrapartida, os militantes brasileiros também buscam aprender com os métodos organizacionais locais, como a capacidade de mobilização popular, evidenciada por marchas semanais em Caracas.
Fernandes destacou ainda a dimensão internacional do movimento, mencionando a articulação com movimentos da China, por meio da rede Via Campesina, como parte de uma estratégia de resistência às pressões externas. A coordenadora apontou que a solidariedade internacional tem sido essencial para a continuidade do MST ao longo dos seus mais de 40 anos de existência.
Segundo a dirigente, o movimento não atua de forma isolada e busca sempre colaboração com os povos locais, respeitando seus saberes e tradições. A permanência do MST em outros territórios, afirmou, depende da construção conjunta de soluções para os desafios do campo.
A parceria entre o MST e o governo venezuelano permanece ativa independentemente das relações diplomáticas entre os chefes de Estado dos dois países. De acordo com João Pedro Stédile, uma das lideranças do movimento, o compromisso com a reforma agrária e a soberania alimentar orienta a atuação do MST além das fronteiras nacionais.
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