Sábado, 26/04/2025 — A entrada em operação da nova rota marítima direta entre o Porto de Gaolan, na China, e os portos brasileiros de Santana (AP) e Salvador (BA) marca um avanço logístico e comercial entre os dois países. A iniciativa integra os mercados asiático e sul-americano, oferecendo ganhos operacionais para o escoamento de commodities e a importação de insumos. No entanto, especialistas e entidades sindicais alertam para os riscos associados à entrada irrestrita de produtos chineses e ao impacto potencial sobre o mercado de trabalho nacional.
Denominado Canal Dourado, o novo corredor marítimo estabelece uma ligação direta entre o Brasil e o sul da China, reduzindo o tempo de transporte e o custo de frete. Entre os principais produtos beneficiados estão soja, minério de ferro, carne bovina, celulose, frutas, castanhas e granito, além da importação de componentes industriais, eletroeletrônicos e máquinas.
A iniciativa é fruto de acordos bilaterais firmados entre os governos brasileiro e chinês, que buscam fortalecer a presença de ambos os países nas cadeias globais de produção. Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, a rota traz benefícios logísticos e ambientais, ao promover maior eficiência e redução de emissões.
Preocupações com controle de qualidade e inserção laboral
Apesar das vantagens operacionais, há preocupação crescente sobre o controle da qualidade dos produtos chineses importados por meio da nova rota. Analistas da indústria nacional alertam que mercadorias oriundas da China frequentemente não seguem os mesmos padrões de certificação exigidos pela legislação brasileira, especialmente em setores como brinquedos, têxteis, equipamentos eletrônicos e utensílios domésticos.
A falta de fiscalização rigorosa nos pontos de entrada — sobretudo em portos de regiões menos estruturadas — pode facilitar a circulação de itens sem conformidade técnica, prejudicando a indústria nacional e colocando em risco a saúde e a segurança dos consumidores.
Além disso, sindicatos de trabalhadores e entidades da indústria manifestaram preocupação quanto à penetração de mão de obra chinesa em setores logísticos, portuários e industriais. Há receio de que, sob o pretexto de transferência tecnológica ou parcerias operacionais, ocorra substituição de trabalhadores brasileiros por técnicos e operários estrangeiros, sem o devido controle legal ou respeito às normas trabalhistas.
Governança e regulação são apontadas como desafios
Para mitigar os riscos, especialistas defendem que o governo federal reforce os mecanismos de controle aduaneiro, invista em fiscalização portuária e atualize as normas técnicas de certificação de produtos importados. Também se sugere a criação de cláusulas contratuais que resguardem o mercado de trabalho nacional, impedindo a terceirização irrestrita a empresas estrangeiras sem obrigações locais.
Segundo o economista Paulo M. Duarte, especialista em comércio exterior, “o Brasil precisa aproveitar a oportunidade da integração logística sem abrir mão da soberania industrial e do equilíbrio nas relações trabalhistas. A competitividade externa não pode ocorrer à custa da desindustrialização ou da precarização do emprego”.
Impacto regional e perspectivas
Entre janeiro e março de 2025, a Bahia exportou cerca de US$ 1,2 bilhão para a China e importou aproximadamente US$ 800 milhões. A nova rota deve ampliar esse volume, com expectativa de crescimento no comércio bilateral e atração de investimentos em infraestrutura, energia renovável e logística. No entanto, sem uma estrutura normativa adequada, os impactos negativos podem superar os benefícios previstos.
Portos brasileiros e a nova configuração comercial
Com capacidade para receber navios de até 150 mil toneladas, o Porto de Salvador será central no novo modelo logístico. O Porto de Gaolan, único de águas profundas no sul da China, movimenta até 160 milhões de toneladas por ano e oferece infraestrutura para grandes volumes. O Porto do Pecém, no Ceará, também passa a integrar o trajeto, com expectativa de crescimento de até 10% na movimentação, especialmente de frutas, castanhas e equipamentos industriais.
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