Papa Francisco exorta sacerdotes à conversão e serviço discreto durante Missa do Crisma no Vaticano

Na manhã da Quinta-feira Santa (17/04/2025), a Basílica de São Pedro recebeu aproximadamente 4.300 fiéis, entre os quais se destacam 1.800 sacerdotes, que participaram da tradicional Missa do Crisma, também conhecida como Missa dos Santos Óleos ou Missa da Unidade.

A celebração foi presidida por Dom Domenico Calcagno, cardeal presidente emérito da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, e teve como momento central a renovação das promessas sacerdotais, proferidas pelos presbíteros no dia de sua ordenação, além da bênção dos óleos sagrados que serão utilizados nos sacramentos do Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos ao longo do ano litúrgico.

Homilia do Papa Francisco: chamado à renovação radical do ministério

A homilia da celebração, escrita pelo Papa Francisco e lida por Dom Calcagno, apresentou uma profunda reflexão teológica e pastoral sobre a identidade do sacerdote. O Pontífice destacou que a vida sacerdotal deve seguir as páginas de Jesus Cristo, que evangeliza, cura e liberta.

“Nosso sacerdócio deve tornar-se um ministério jubilar, como o de Cristo, mas sem tocar as trombetas: numa entrega que não é estridente, mas radical e gratuita”, escreveu Francisco.

Segundo o Papa, o Ano Jubilar que se aproxima é oportunidade de conversão, um momento para recomeçar como “peregrinos da esperança”, superando posturas clericalistas e voltando-se ao serviço fiel ao povo de Deus. Ele advertiu que o sacerdócio não pode ser confundido com carreira ou busca de aprovação social.

Centralidade da Palavra de Deus na vida sacerdotal

Francisco resgatou a imagem de Jesus em Nazaré, frequentando a sinagoga e lendo as Escrituras, como exemplo da importância da Palavra de Deus na formação do coração sacerdotal. Segundo o Papa, a Bíblia deve ser a “primeira casa” do sacerdote, fundamento espiritual de sua missão.

“Todos nós temos uma Palavra a cumprir. Colocamo-la ao serviço de todos somente quando a Bíblia continua a ser a nossa primeira casa”, declarou o Papa.

Ao mesmo tempo, Francisco encorajou os presbíteros a auxiliarem os fiéis a descobrirem as páginas do Evangelho que iluminam suas próprias vidas – seja no matrimônio, no luto ou nas dificuldades –, mostrando o papel pastoral do sacerdote como ponte entre a Escritura e a vida cotidiana do povo.

Lista dos principais pontos abordados pelo Papa:

• Renovação do “Sim” sacerdotal como ato de fidelidade a Cristo;

• Ano Jubilar como tempo de conversão e serviço renovado;

• Rejeição ao clericalismo e à busca de prestígio pessoal;

• Serviço silencioso e eficaz, inspirado nas parábolas do Reino;

• Centralidade da Bíblia como fonte espiritual e pastoral;

• Proximidade com o povo, especialmente com os pobres e marginalizados;

• Missão como libertação: curar, consolar, aliviar fardos e evangelizar.

Sacerdócio como ministério silencioso e eficaz

Na parte conclusiva da homilia, o Papa destacou que o verdadeiro sacerdote evangeliza não com gestos ostensivos, mas com ações discretas, consistentes e transformadoras. O serviço presbiteral deve ser vivido como expressão do Reino de Deus silencioso, semelhante ao fermento que transforma a massa ou à semente que germina sem alarde.

“Quantas vezes os pequeninos reconheceram esse Reino em nós? E nós, somos capazes de dizer ‘obrigado’?”, provocou Francisco.

A unidade do presbitério e a missão de servir

A Missa do Crisma expressa também a unidade do presbitério com o bispo e com Cristo, sinal sacramental de uma Igreja que se reconhece como corpo eclesial em comunhão com sua missão evangelizadora. A renovação das promessas sacerdotais é um gesto de reafirmação da vocação, mas também de reconhecimento da fragilidade humana e da necessidade de conversão contínua.

Contexto litúrgico e importância sacramental

A celebração da Missa do Crisma ocorre tradicionalmente na manhã da Quinta-feira Santa, como parte do Tríduo Pascal. Os óleos abençoados nesta ocasião – Óleo dos Catecúmenos, Óleo dos Enfermos e o Santo Crisma – são sinais visíveis da graça divina que age nos sacramentos.

Esta liturgia marca simbolicamente a unidade entre os sacramentos e a missão da Igreja, recordando que o ministério do sacerdote está intrinsecamente ligado à santificação do povo de Deus.