Uma análise crítica sobre os investimentos da Lei Rouanet entre 2021 e 2024 revela padrões relevantes de alocação de recursos públicos voltados ao setor cultural brasileiro. Através do Painel de Dados da Lei da Rouanet, lançado nesta segunda-feira (07/04/2025), torna-se possível acompanhar com precisão a origem e o destino dos recursos incentivados por meio da legislação federal.
Desenvolvida pela Prosas, com patrocínio do Instituto Equatorial e apoio do Gife (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) e da Comunitas, a plataforma consolida informações públicas extraídas do Salic (Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura), vinculado ao Ministério da Cultura.
O painel permite visualizar quem doa e quem recebe recursos da Lei Rouanet, sistematizando os dados por região, tipo de proponente, setor cultural e empresa patrocinadora. Entre os destaques da plataforma estão:
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Visualização interativa da distribuição geográfica dos recursos;
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Identificação de conglomerados econômicos por meio da consolidação de CNPJs;
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Recorte por região e setor beneficiado;
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Evolução histórica dos investimentos.
Esses dados fornecem subsídios para análises mais qualificadas sobre o financiamento da cultura no Brasil.
Volume de recursos captados cresce em 2024
Projetos culturais captaram quase R$ 3 bilhões em 2024, conforme dados do Painel Rouanet. O valor representa crescimento em relação a 2021 e 2022, quando as captações somaram R$ 2,1 bilhões, e 2023, que registrou R$ 2,3 bilhões.
O crescimento abrangeu diversos indicadores:
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Aumento no número de proponentes;
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Ampliação dos projetos aprovados;
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Maior participação de CNPJs incentivadores;
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Crescimento na doação por pessoas físicas.
Concentração regional e setorial dos recursos
A análise evidencia que a maior parte dos investimentos continua concentrada nas regiões Sudeste e Sul. Segundo o levantamento:
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Empresas do Sudeste destinaram 83,7% dos recursos para projetos na própria região;
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No Sul, o índice foi de 76,4%;
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No Norte, apenas 13,2% dos recursos permaneceram na região.
Apesar da concentração, houve leve descentralização: a fatia do Sudeste caiu de 78% (2021) para 71,9% (2024), sinalizando movimento incipiente em direção à distribuição mais equitativa dos recursos.
Em relação aos setores culturais:
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Artes cênicas lideraram a captação de recursos;
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Seguidas por música e literatura.
Tal distribuição reflete a predominância de segmentos com maior visibilidade pública e retorno institucional, mas levanta questionamentos sobre o equilíbrio no atendimento à diversidade cultural brasileira.
Principais organizações e empresas envolvidas
As três instituições que mais captaram recursos em 2024 foram:
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MASP (Museu de Arte de São Paulo) – R$ 46,7 milhões;
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OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) – R$ 40,9 milhões;
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IDG (Instituto de Desenvolvimento e Gestão) – R$ 36,9 milhões.
Entre os principais investidores, destacam-se:
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Vale – R$ 189,7 milhões;
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Petrobras – R$ 170,4 milhões;
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Grupo Itaú – R$ 122,8 milhões.
Essas cifras demonstram o papel central de grandes empresas na manutenção de políticas públicas de fomento à cultura.
Desafios e caminhos para a política cultural
A sistematização dos dados evidencia a necessidade de revisão na política de distribuição da Lei Rouanet, visando à ampliação do alcance regional e à representatividade de diferentes expressões culturais. Embora a plataforma represente um avanço em transparência, os dados reforçam o caráter ainda centralizado do investimento cultural federal.
A descentralização dos recursos, bem como o incentivo à diversidade de proponentes e segmentos culturais, são elementos fundamentais para o aprimoramento das políticas públicas de cultura no Brasil.
Conheça + sobre
Dados estatísticos da Prosas
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