No sábado (19/04/2025), a Igreja Católica celebra o Sábado Santo, dia marcado pelo recolhimento, ausência de celebrações e intensa contemplação do Mistério Pascal. Reconhecido como o “dia do grande silêncio”, convida os fiéis a uma pausa espiritual, na qual se revive o luto pela morte de Jesus e se alimenta a esperança da ressurreição. A liturgia convida à fé silenciosa, à espera confiante e à renovação interior.
Um dia de silêncio litúrgico e espiritual
O Sábado Santo é o único dia do calendário litúrgico em que não se celebra a Missa. A Igreja permanece em silêncio diante do túmulo de Cristo, simbolizando a ausência do Esposo. Conforme o Missal Romano, “a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e morte, sua descida à mansão dos mortos, e aguardando em oração e jejum sua ressurreição”.
A reforma litúrgica promovida por Pio XII, por meio do Decreto “Maxima Redemptionis” (1955), restaurou a Vigília Pascal para a noite do Sábado Santo, restituindo-lhe seu caráter de espera e renovação. O pontífice afirmou que “este é o dia em que a Igreja, vigilante, aguarda a aurora da salvação”.
O silêncio como espaço teológico
O silêncio deste dia não é vazio. Segundo a homilia anônima do século IV, lida no Ofício das Leituras, “um grande silêncio reina sobre a terra, um grande silêncio e uma grande solidão, porque o Rei dorme. A terra estremeceu e silenciou, porque Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos”.
O teólogo e liturgista padre Diogo Shishito, em entrevista ao Vatican News, observa:
“O Sábado Santo nos ensina a não fugir do silêncio. É nesse espaço que a ação de Deus se manifesta de forma mais profunda. O Espírito Santo age no intervalo, entre a morte e a ressurreição, preparando o coração humano para acolher a novidade do Reino”.
A descida de Cristo à mansão dos mortos
Na tradição patrística, o Sábado Santo é o momento em que Cristo desce à morada dos mortos (Sheol ou Hades) para libertar os justos do Antigo Testamento. O Catecismo da Igreja Católica ensina no parágrafo 635:
“Jesus desceu à mansão dos mortos. No túmulo, a sua alma unida à sua pessoa divina foi ao encontro das almas dos justos que O haviam precedido. […] ‘Hoje reina grande silêncio na terra, grande silêncio e solidão. […] Ele vai procurar Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Quer visitar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte.’”
A imagem de Cristo resgatando Adão e Eva, recorrente na iconografia pascal oriental, expressa esse momento salvífico. A morte é vencida pela própria morte de Cristo, que abre o caminho da ressurreição a toda a humanidade.
Maria, ícone da espera fiel
Durante o Sábado Santo, a figura de Maria ocupa papel central na espiritualidade da espera. Ela permanece em silêncio, mas cheia de fé, recordando as palavras de seu Filho. Como afirma São João Paulo II na Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae (n. 23):
“No Sábado Santo, a Igreja permanece com Maria, meditando em seu coração as palavras do Senhor, como quem guarda o silêncio à espera do novo amanhecer”.
Maria é, portanto, modelo da esperança cristã, sustentando a fé quando tudo parece perdido. Seu silêncio é ativo, repleto de expectativa, pois “esperar com Maria é esperar com confiança no cumprimento da promessa”.
O silêncio como matriz da comunicação
Em sua obra Introdução ao Espírito da Liturgia, o então cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI) escreve:
“O silêncio é parte essencial da liturgia. Ele cria o espaço no qual a Palavra pode ressoar em nós de forma viva. […] É o silêncio entre as palavras que lhes dá sentido”.
No Sábado Santo, o silêncio não é fuga, mas um espaço teológico. Como nos ensina o monge beneditino Anselm Grün,
“o silêncio é o terreno onde Deus planta a semente da ressurreição”.
O túmulo vazio e a proclamação pascal
A culminância do Sábado Santo é a Vigília Pascal, que tem início após o pôr do sol. Nela, a Igreja proclama a vitória de Cristo sobre a morte com o canto do Exsultet:
“Alegre-se a terra, iluminada com tão esplendorosa claridade, e, sentindo que dissipou as trevas do mundo, rejubile-se com o brilho do Rei eterno”.
É a liturgia mais importante do ano cristão. No rito, os fiéis renovam as promessas do Batismo e celebram a passagem da morte para a vida, recordando que “o túmulo está vazio” e que “Cristo vive e está no meio de nós”.
Esperança diante da morte
A mensagem do Sábado Santo ultrapassa o simbolismo litúrgico. Ela propõe uma teologia da esperança diante das realidades de sofrimento e morte. Como afirma Hans Urs von Balthasar,
“o Sábado Santo é o dia do silêncio de Deus, mas é também o dia da mais profunda solidariedade divina com a condição humana”.
Por isso, ao contemplar o silêncio do túmulo, o fiel é convidado a crer que a última palavra não é da morte, mas da vida, conforme ensina São Paulo:
“Se morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos” (Rm 6, 8).

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