Sexta-feira Santa: silêncio, cruz e esperança na liturgia da Paixão de Cristo

Celebração litúrgica convida fiéis a contemplar a morte de Jesus com jejum, silêncio e veneração da cruz como símbolo de salvação.

Sexta-feira, 18/04/2025 – A Sexta-feira Santa representa um dos momentos mais solenes do calendário cristão. Segundo dia do Tríduo Pascal, é uma jornada de silêncio, jejum e contemplação, marcada pela memória litúrgica da Paixão e Morte de Jesus Cristo. A Igreja Católica não celebra a Eucaristia nesta data, mas convida os fiéis à adoração da Santa Cruz, à meditação sobre o sofrimento de Cristo e à solidariedade com todos os que padecem no mundo.

Na tradição cristã, esta data é celebrada com a Liturgia da Paixão do Senhor, composta por três partes: a Liturgia da Palavra, a Oração Universal e a Adoração da Cruz. O rito é envolto por um clima de sobriedade, em que o silêncio substitui o canto e a cruz ocupa o centro da celebração, apresentada à comunidade como sinal de redenção.

Reflexão teológica: o mistério da esperança silenciada

O padre Maicon A. Malacarne, pároco da Paróquia São Cristóvão e professor na Itepa Faculdades, vinculado à Diocese de Erexim/RS, aprofundou os significados litúrgicos e espirituais deste dia. Em suas palavras, a Sexta-feira Santa é marcada por uma “esperança silenciada” que brota do alto da cruz.

“O mistério não é Pascal se não passar pela dor, por essa esperança silenciada que nasce do alto da cruz. Amor e morte caminham pelas mesmas estradas. A celebração desse dia fala com o vazio, a nudez, o silêncio, o absurdo da vida capturada do inocente.”

Inspirando-se no filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard e no poeta francês Charles Péguy, o sacerdote propõe uma releitura da dor à luz da fé, sugerindo que o sofrimento do Crucificado é também o solo onde floresce uma esperança frágil, porém perseverante.

Papa Francisco e o símbolo da âncora: fé como estabilidade

Em sintonia com o espírito do Ano Jubilar, cujo lema é “Peregrinar na esperança”, padre Maicon retoma a imagem da âncora utilizada pelo Papa Francisco na exortação Spes non confundit (n. 25). A âncora representa a firmeza espiritual frente às incertezas da existência, reafirmando a confiança dos fiéis no amor redentor de Cristo.

“As tempestades nunca poderão prevalecer, porque estamos ancorados na esperança da graça, capaz de nos fazer viver em Cristo, superando o pecado, o medo e a morte.”

Peregrinos da adoração diante da cruz

Na celebração da Sexta-feira Santa, o gesto de adoração da cruz se apresenta como um rito de reencontro com o sagrado. A cruz deixa de ser símbolo de fim e passa a ser ícone da fé que atravessa a dor e a morte.

“A cruz, hoje, parece o fim! A esperança vilependiada. Quando tudo parece não fazer mais sentido, novamente a cruz aparece: ‘Vinde, adoremos!’”.

Neste contexto, a esperança, segundo o sacerdote, assume um caráter humilde e solidário. É peregrina, caminha ao lado da dor, acolhe o absurdo e aponta para além da morte. Esta esperança, embora frágil, não desiste de crer.

A solidariedade com os crucificados do mundo

O mistério da Paixão de Cristo é também um chamado à solidariedade com os que sofrem. A Sexta-feira Santa se transforma, assim, em uma denúncia do mal e um compromisso com a justiça.

“Hoje é o dia de olhar a tragédia de frente, e fazer de novo e de novo com a solidariedade a tantos crucificados!”

Diante das violências que atingem pessoas e comunidades inteiras, a liturgia convida os cristãos a encarar a dor humana com responsabilidade ética, fé renovada e compaixão ativa.

Conclusão: entre o silêncio e a ressurreição

A Sexta-feira Santa não é fim, mas passagem. Na cruz está inscrita a esperança cristã, sustentada pela fé no amor de Deus e pelo compromisso de seguir o Cristo crucificado. Silenciar neste dia não é renunciar, mas escutar a dor do mundo e preparar o coração para o anúncio da Ressurreição no Domingo de Páscoa.


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