Bahia tem a maior população quilombola urbana do Brasil, com mais de 190 mil pessoas, diz IBGE

População quilombola urbana enfrenta precariedades acentuadas em saneamento e acesso à educação, aponta Censo 2022; Bahia lidera em número absoluto de quilombolas no país.
Censo 2022 revela que 48% dos quilombolas baianos vivem em áreas urbanas, onde as taxas de analfabetismo e falta de saneamento são mais elevadas do que na população geral.

Na quarta-feira (07/05/2024), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados do Censo Demográfico 2022, revelando que a Bahia abriga a maior população quilombola do país, com 397.502 pessoas, das quais 48,0% (190.677) residem em áreas urbanas. Esse número posiciona o estado como o de maior concentração de quilombolas em contexto urbano no Brasil.

Apesar da imagem tradicionalmente associada à vida rural, a população quilombola baiana se distribui quase igualmente entre zonas urbanas e rurais. Em 2022, 52,0% (206.825) viviam em áreas rurais, o que representa uma proporção inferior à média nacional (61,7%).

Proporção de quilombolas rurais na Bahia é inferior à média nacional

Enquanto o Brasil registrou 61,7% dos quilombolas em áreas rurais, na Bahia esse índice foi de 52,0%, ocupando apenas a 17ª posição entre 25 estados e o Distrito Federal. A liderança em proporção de quilombolas rurais coube ao Piauí (87,9%), seguido do Amazonas (84,9%) e do Maranhão (79,7%).

Juventude e composição etária: população quilombola é mais jovem

O índice de envelhecimento entre os quilombolas baianos é menor do que na população geral. Há 60,8 pessoas idosas para cada 100 jovens de até 14 anos entre os quilombolas, enquanto na população total do estado esse número é de 75,4. Em áreas rurais, esse índice entre os quilombolas cai para 59,9 idosos por 100 jovens.

Além disso, a idade mediana dos quilombolas na Bahia é mais baixa que a média estadual:

  • 32 anos entre os quilombolas em geral,

  • 33 anos nas áreas urbanas,

  • 31 anos nas áreas rurais,

  • contra 35 anos da população total do estado.

Taxa de analfabetismo é mais alta entre quilombolas, especialmente nas áreas rurais

A taxa de analfabetismo entre quilombolas baianos de 15 anos ou mais é de 18,3%, valor superior aos 12,6% da população geral. No meio urbano, 13,7% dos quilombolas não sabem ler nem escrever, número que sobe para 22,6% na zona rural, embora ainda abaixo da média de analfabetismo da população rural como um todo (24,5%).

Esse dado reforça que as desigualdades educacionais são mais agudas no recorte quilombola, sobretudo em zonas urbanas onde o acesso aos serviços públicos deveria ser mais eficiente.

Quase metade dos domicílios quilombolas urbanos não têm saneamento adequado

Na Bahia, 47,5% dos domicílios quilombolas urbanos não possuem acesso simultâneo a abastecimento de água, coleta de esgoto e destinação adequada do lixo, o que representa quase o dobro da média urbana estadual (25,4%).

Nas áreas rurais, a situação é ainda mais crítica: 94,4% dos domicílios quilombolas convivem com algum tipo de inadequação nos serviços básicos de saneamento — índice próximo ao da população rural total (93,4%).

Dados revelam cenário de exclusão estrutural persistente

Os resultados do Censo 2022 indicam que, embora a presença quilombola urbana tenha crescido, a inclusão social e o acesso a direitos básicos permanecem desiguais. A concentração de analfabetismo, juventude marginalizada e falta de saneamento adequado aponta para um modelo urbano excludente, que reproduz os mesmos padrões de desigualdade histórica vividos no campo.

Principais dados

Distribuição Populacional

  • Total de quilombolas na Bahia: 397.502 pessoas

  • Zona rural: 206.825 pessoas (52,0%)

  • Zona urbana: 190.677 pessoas (48,0%) — maior população quilombola urbana do país

  • Proporção de quilombolas rurais na Bahia: 52,0%

  • Proporção nacional de quilombolas rurais: 61,7%

  • Bahia é 17ª entre 25 unidades da Federação com quilombolas em proporção rural

Composição Etária e Envelhecimento

  • Índice de envelhecimento total (idosos por 100 jovens ≤ 14 anos):

    • Quilombolas BA: 60,8

    • População geral BA: 75,4

  • Zona rural:

    • Quilombolas: 59,9

    • População geral: 85,5

  • Zona urbana:

    • Quilombolas: 61,9

    • População geral: 72,3

  • Idade mediana:

    • Quilombolas gerais: 32 anos

    • Quilombolas urbanos: 33 anos

    • Quilombolas rurais: 31 anos

    • População geral BA: 35 anos

Distribuição por Sexo

  • Razão de sexo (homens por 100 mulheres):

    • Quilombolas totais: 97,9

    • População geral: 93,6

  • Zona rural:

    • Quilombolas: 103,1

    • População geral: 108,4

  • Zona urbana:

    • Quilombolas: 92,6

    • População geral: 89,5

Educação (Taxa de Analfabetismo – pessoas com 15 anos ou mais)

  • Quilombolas BA (total): 18,3%

  • População geral BA: 12,6%

  • Zona urbana:

    • Quilombolas: 13,7% (20.719 pessoas)

    • População geral: 9,0%

  • Zona rural:

    • Quilombolas: 22,6% (35.893 pessoas)

    • População geral: 24,5%

Saneamento Básico (acesso simultâneo a água, esgoto e coleta de lixo)

  • Domicílios quilombolas urbanos sem acesso adequado: 47,5% (37.537 domicílios)

  • Domicílios urbanos totais sem acesso adequado: 25,4%

  • Domicílios quilombolas rurais sem acesso adequado: 94,4% (66.388 domicílios)

  • Domicílios rurais totais sem acesso adequado: 93,4%


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