Número de médicos no Brasil deve ultrapassar 1,15 milhão em 2035, mas desigualdade regional persiste

Estudo da FMUSP, AMB e Ministério da Saúde projeta crescimento na quantidade de médicos, mas alerta para concentração em regiões urbanas e capitais; Anadem cobra políticas de interiorização e qualificação da formação.
Demografia Médica 2025 indica aumento significativo do número de médicos no Brasil, com persistência de desigualdade entre regiões; entidades defendem medidas para interiorização e melhoria da qualidade da formação.

Na terça-feira (07/05/2025), foi divulgado o estudo Demografia Médica no Brasil 2025, produzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Ministério da Saúde. A pesquisa projeta que, até 2035, o Brasil atingirá o patamar de 1,15 milhão de médicos, o que corresponderá a 5,25 médicos por mil habitantes.

Desde 2020, foram incorporados 116,5 mil novos profissionais, totalizando 635,7 mil médicos em atividade no país — equivalente a 2,98 médicos por mil habitantes atualmente. Contudo, a distribuição regional permanece marcadamente desigual, e a tendência é de manutenção desse cenário nos próximos 10 anos.

Destaques regionais

  • São Paulo lidera em números absolutos: 172.721 médicos.

  • Distrito Federal apresenta a maior taxa proporcional: 6,28 médicos por mil habitantes.

  • Para 2035, Maranhão (2,43), Pará (2,56) e Amapá (2,76) devem continuar com as menores taxas.

  • O Distrito Federal manterá a liderança proporcional com 11,83 médicos por mil habitantes, seguido por Rio de Janeiro (8,11) e São Paulo (7,17).

Quando considerada a distribuição fora das capitais, São Paulo permanece na dianteira com 2,70 médicos por mil habitantes no interior, enquanto Amazonas (0,20) e Roraima (0,13) registram as piores taxas.

Anadem propõe interiorização e revisão da expansão de cursos

Para o presidente da Anadem (Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética), Raul Canal, a principal falha está na ausência de políticas públicas efetivas para interiorizar a medicina. Segundo ele, não basta formar mais médicos: é necessário garantir mecanismos de fixação e permanência desses profissionais em regiões remotas.

A solução não passa pela formação indiscriminada de novos médicos, mas por iniciativas que garantam a presença desses profissionais onde há maior carência. Sem isso, o sistema continuará a excluir milhões de brasileiros do atendimento básico e especializado”, afirmou Canal.

Qualidade da formação médica em debate

Outro ponto de atenção destacado por Raul Canal é a qualidade da formação médica. Em abril de 2025, o Ministério da Educação lançou o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), com o objetivo de avaliar competências dos egressos e fornecer indicadores para aprimorar as graduações, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs).

A Anadem defende a suspensão da criação de novos cursos e a melhoria contínua dos já existentes, com currículos adaptados às realidades regionais.

Em abril de 2018, o MEC havia suspendido por cinco anos a abertura de novos cursos por meio da Portaria n.º 328/2018, mas retomou a autorização de novos cursos em julho de 2024, contrariando recomendações anteriores.

Em dezembro de 2022, a Anadem reiterou sua posição contrária à expansão indiscriminada, enfatizando a necessidade de infraestrutura adequada e corpo docente qualificado.

Mulheres ultrapassam homens entre médicos pela primeira vez

O levantamento também aponta uma mudança no perfil demográfico da categoria. Pela primeira vez na história, as mulheres são maioria entre os médicos em atividade no Brasil, representando 50,9% do total. A projeção para 2035 é de que elas cheguem a quase 56% do total de profissionais.

Essa inversão histórica revela uma tendência que se intensificou nas últimas décadas. Em 2009, as mulheres correspondiam a 40,5% da classe médica, enquanto os homens ainda dominavam com 59,5%.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.