Segunda-feira, 30/06/2025 – A região da Tríplice Fronteira, formada pelas cidades de Ciudad del Este (Paraguai), Foz do Iguaçu (Brasil) e Puerto Iguazú (Argentina), tornou-se uma das principais rotas de escoamento de cocaína sul-americana para a Europa. O fluxo de entorpecentes, dinheiro e armas atravessa rios, pontes internacionais e zonas de livre comércio, consolidando o local como um ponto crítico da logística do crime organizado internacional.
Estrutura da Tríplice Fronteira favorece o crime
A região é marcada por alta circulação de mercadorias e pessoas, com três cidades interligadas por pontes e atravessadas por hidrovias. Ciudad del Este, com cerca de US$ 15 bilhões por ano em comércio, figura entre os maiores centros de livre comércio do mundo, ao lado de Hong Kong e Miami. Esse intenso fluxo de bens facilita também a movimentação de produtos falsificados, carros roubados, armas e drogas.
A geografia fluvial, somada à presença de aeroportos clandestinos e falta de fiscalização sistemática, contribui para a penetração de cocaína proveniente do Peru e da Bolívia, que segue por rodovias ou aviões até os pontos de distribuição na Tríplice Fronteira.
Porta de entrada para a Europa
A cocaína embarcada na Tríplice Fronteira é levada por barcaças até os portos do Brasil, Argentina e Uruguai, sendo posteriormente despachada em navios porta-contêners para a Europa. Segundo a ONUDC, essa hidrovia é o principal canal de exportação para o continente europeu, onde a droga alcança preços significativamente mais altos: de US$ 2.000 na Bolívia para até US$ 35.000 na Europa.
Facções brasileiras e alianças internacionais
O Primeiro Comando da Capital (PCC) lidera as operações logísticas na região, mantendo alianças com redes mafiosas da Europa, Ásia e Oriente Médio, como a Ndrangheta calabresa, o Hezbollah e a Black Axe nigeriana. O Comando Vermelho (CV) e a Família do Norte (FDN) também participam do controle da rota boliviana.
As redes criminosas argentinas operam por meio de estruturas familiares, como os clãs Cantero e Castedo. No Paraguai, o PCC tem disputado território com facções locais desde 2019, especialmente na fronteira com o Mato Grosso do Sul.
Sistema de fiscalização insuficiente
O sistema aduaneiro e policial dos três países é considerado incapaz de conter o tráfico, dada a falta de efetivo e recursos materiais. Segundo autoridades argentinas, apenas de 2% a 10% dos contêners que chegam aos portos europeus são verificados. Em resposta, a União Europeia criou a Aliança Portuária Europeia para coordenar as ações de combate.
O assassinato do promotor Marcelo Pecci, no Paraguai, e a morte suspeita de Alberto Nisman, na Argentina, evidenciam os riscos enfrentados por agentes que atuam contra essas organizações.
Crescimento do consumo interno e preocupação global
O Brasil é o principal mercado consumidor de cocaína da América Latina, seguido pela Argentina. O consumo está disseminado em todas as classes sociais. Segundo o pesquisador Michel Gandilhon, a América Latina pode estar entre os maiores mercados de faturamento de cocaína do mundo.
A crescente presença do crime organizado chinês nas rotas da Tríplice Fronteira também chama a atenção de Washington, no contexto da disputa com a China por influência logística e comercial na América do Sul.
Ações regionais e cooperação internacional
Desde o Acordo de Porto Iguaçu (1996), os três países buscam coordenar ações de combate ao tráfico, com apoio dos Estados Unidos desde 2002. O Brasil propôs a criação do Mercopol, uma agência regional de combate ao crime, mas a iniciativa não prosperou.
Em 2024, a ministra argentina Patricia Bullrich inaugurou um centro de inteligência criminal na região. Em seguida, o presidente Javier Milei autorizou a presença de engenheiros do Exército dos EUA na hidrovia Paraná-Paraguai. Argentina e Paraguai retomaram, em 2025, a cooperação bilateral com a Declaração de Clorinda.
*Com informações da RFI.
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