Crescimento da umbanda e do candomblé triplica em dez anos, aponta Censo

Aumento reflete afirmação da identidade afro-brasileira e enfrentamento da intolerância religiosa.
Aumento reflete afirmação da identidade afro-brasileira e enfrentamento da intolerância religiosa.

O número de adeptos das religiões afro-brasileiras, como umbanda e candomblé, mais que triplicou entre 2010 e 2022, segundo dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento aponta que a participação dessas religiões passou de 0,3% para 1% da população brasileira, totalizando 1,849 milhão de pessoas.

Apesar de os católicos ainda representarem 56,7% da população, o aumento proporcional das religiões de matriz africana foi registrado em todas as faixas etárias. Entre jovens de 10 a 24 anos, a participação cresceu de 21,9% para 25,9%, e entre pessoas de 30 a 49 anos, o crescimento foi de 35% para 40%. Para pesquisadores, os dados refletem ações de valorização da cultura afro-brasileira e maior visibilidade na luta contra o racismo religioso.

Segundo o babalaô Ivanir dos Santos, professor doutor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), parte dos religiosos de matriz africana declarava-se anteriormente como católica ou espírita, devido a conexões históricas e culturais entre essas tradições. Essa prática influenciava diretamente os resultados censitários anteriores.

Ivanir aponta que a mudança nos dados de 2022 reflete avanços no enfrentamento à intolerância religiosa, como a realização de festivais, caminhadas públicas e campanhas de conscientização que impulsionaram a visibilidade positiva dessas tradições. “Hoje, muitos jovens se identificam publicamente com as religiões afro, inclusive em seus trajes e práticas visíveis no espaço público”, destacou.

A professora Christina Vital, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), reforça que o crescimento é resultado de campanhas iniciadas há mais de duas décadas, mas que só agora demonstram impacto estatístico. Em 2000 e 2010, os percentuais se mantiveram em 0,3%, sem variação significativa.

A professora também destacou a composição racial dos grupos religiosos. Pardos representam 49,1% dos fiéis entre os evangélicos pentecostais, enquanto pessoas brancas (42,7%) e pardas (26,3%) são maioria entre os adeptos da umbanda e do candomblé. Entre as pessoas autodeclaradas pretas no Brasil, 2,3% seguem religiões de matriz africana, o que, segundo Christina, demonstra o fortalecimento de uma consciência racial associada à identidade religiosa.

De acordo com os especialistas, os dados do Censo 2022 indicam que a autodeclaração de pertencimento religioso e étnico está diretamente ligada ao combate ao preconceito. O resultado reforça a necessidade de políticas públicas de proteção às religiões afro-brasileiras e de garantia do direito à liberdade religiosa.

*Com informações da Agência Brasil.


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