IFI alerta que controle das contas públicas é “insustentável” mesmo com meta fiscal de 2025

A IFI alerta, em relatório publicado nesta terça-feira (24/06/2025), que o controle das contas públicas brasileiras é insustentável, mesmo com o cumprimento da meta fiscal de 2025. A instituição projeta que a dívida pública poderá alcançar 124,9% do PIB até 2035, exigindo uma reforma profunda das regras fiscais. As projeções oficiais do governo divergem dos números apresentados pela IFI.
Relatório da Instituição Fiscal Independente aponta fragilidade estrutural do arcabouço fiscal e alerta para crescimento insustentável da dívida pública até 2035.

Na terça-feira (24/06/2025), a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal reafirmou, por meio da edição de junho do Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF), que a atual estrutura de controle das contas públicas é insustentável, mesmo diante da expectativa de cumprimento da meta fiscal de 2025, estabelecida em déficit de até R$ 28,1 bilhões, conforme as regras do Novo Arcabouço Fiscal.

Segundo o documento, a trajetória da Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) tende a se agravar nos próximos anos. As projeções indicam que, em 2035, o endividamento público pode atingir 124,9% do PIB, superando em muito a capacidade de geração de riqueza do país naquele ano.

Essa elevação decorre de sucessivos déficits primários, resultantes de uma combinação entre despesas obrigatórias elevadas e arrecadação insuficiente para sustentar os gastos públicos. De acordo com a IFI, mais de 90% do orçamento federal é atualmente comprometido com despesas de execução obrigatória, o que compromete a flexibilidade da gestão orçamentária.

Avaliação institucional e crítica ao arcabouço fiscal

O diretor-executivo da IFI, Marcus Pestana, destacou que a situação fiscal exige uma reforma profunda das regras fiscais, uma vez que o arcabouço vigente não tem sido capaz de conter o avanço da dívida. Segundo ele, a sobrevivência do modelo aprovado em 2023 está “em xeque”.

“Os gargalos são econômicos, as soluções são políticas. Só um amplo diálogo entre Congresso Nacional, governo e sociedade pode arquitetar as saídas para a grave situação do quadro fiscal”, afirma Pestana no relatório.

Diferença entre projeções da IFI e do Executivo

As projeções da IFI sobre a dívida pública divergem significativamente das estimativas do governo federal. Enquanto a instituição projeta 124,9% do PIB para 2035, a estimativa oficial, apresentada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLN 2/2025), indica que o índice será de 81,6% do PIB.

A disparidade revela uma diferença metodológica e de premissas entre os órgãos, principalmente no que tange à expectativa de crescimento da receita e controle de gastos.

Receita, despesa e meta fiscal de 2025

Para o exercício de 2025, a IFI estima que o déficit primário da União será de R$ 83,1 bilhões. No entanto, a exclusão de R$ 54,9 bilhões em precatórios — pagamentos devidos após decisões judiciais — pode reduzir o déficit efetivo para R$ 28,1 bilhões, permitindo que o governo cumpra a meta fiscal estabelecida na Lei 15.080/2024, que considera admissível um desvio de até R$ 30,9 bilhões.

Segundo o relatório, a receita primária líquida deve cair de 18,3% para 17,7% do PIB até 2035, enquanto a despesa primária aumentará de 18,9% para 20,4% do PIB no mesmo período. Tal dinâmica reforça o alerta da IFI sobre a insustentabilidade das contas públicas no médio e longo prazo.

Revisão de indicadores macroeconômicos

A IFI também atualizou suas projeções econômicas para 2025:

Inflação (IPCA):

  • Projeção atual: 5,3%

  • Projeção anterior: 5,5%

Crescimento do PIB:

  • Projeção atual: 2,4%

  • Projeção anterior: 2,0%

Taxa Selic:

  • Projeção atual: 15,3%

  • Projeção anterior: 14,75%

Esses ajustes refletem as expectativas de persistência das pressões inflacionárias, alta dos juros e desempenho moderado da atividade econômica.

Análise crítica e implicações políticas

A posição da IFI reforça o diagnóstico de que o Novo Arcabouço Fiscal, apesar de tecnicamente mais flexível, carece de mecanismos eficazes de controle da trajetória da dívida. O cenário de crescimento contínuo dos gastos obrigatórios, somado à dificuldade de aumento estrutural da arrecadação, impõe restrições severas à capacidade de investimento público.

Além disso, o relatório aponta para a necessidade de engajamento do Congresso Nacional na formulação de soluções duradouras, inclusive no debate sobre reformas tributária e administrativa, como vias para o reequilíbrio das contas públicas.

Principais dados

Projeção da Dívida Pública

  • Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) em 2035 (IFI): 124,9% do PIB

  • Dívida Bruta do Governo Geral em 2035 (Governo Federal): 81,6% do PIB

Meta Fiscal de 2025

  • Déficit previsto pela IFI (sem ajustes): R$ 83,1 bilhões

  • Valor excluído por precatórios: R$ 54,9 bilhões

  • Déficit considerado após ajustes: R$ 28,1 bilhões

  • Meta fiscal da LDO 2025 (Lei 15.080/2024): déficit zero, com margem de tolerância de R$ 30,9 bilhões

Receitas e Despesas Públicas (projeções até 2035)

  • Receita primária líquida: de 18,3% para 17,7% do PIB

  • Despesa primária: de 18,9% para 20,4% do PIB

  • Proporção de despesas obrigatórias no orçamento federal: superior a 90%

Indicadores Macroeconômicos – Projeções para 2025 (IFI)

Indicador Projeção atual Projeção anterior
Inflação (IPCA) 5,3% 5,5%
Crescimento do PIB 2,4% 2,0%
Taxa Selic 15,3% 14,75%

Diagnósticos e Recomendações da IFI

  • Situação fiscal é considerada “insustentável”

  • Sobrevivência do Novo Arcabouço Fiscal está “em xeque”

  • Necessidade de reforma profunda nas regras fiscais

  • Necessidade de diálogo entre Congresso, Executivo e sociedade

  • Reconhecimento de “tomada de consciência fiscal” por meio de aumento de tributos (ex.: IOF) e propostas de corte de gastos

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