Queda no investimento estrangeiro direto pelo segundo ano consecutivo ameaça desenvolvimento do Brasil e da América Latina

Investimento estrangeiro direto cai 8% no Brasil, segundo relatório da Unctad.
Relatório da ONU mostra que retração de fluxos financeiros afeta setores estratégicos e evidencia crise na confiança global.

Segunda-feira, 23/06/2025 – O investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil caiu 8% em 2024, marcando o segundo ano consecutivo de retração. O dado consta no Relatório Mundial de Investimentos de 2025, publicado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Na América Latina e Caribe, a queda foi de 12%, enquanto o índice global registrou recuo de 11% nos fluxos de capital produtivo.

A desaceleração está associada a tensões geopolíticas, aumento de barreiras comerciais e políticas mais rígidas de regulação de investimentos, conforme destacou Rebeca Grynspan, secretária-geral da Unctad. Segundo ela, o cenário é de “volatilidade, seletividade e incerteza”, refletindo uma mudança de paradigma em favor de interesses domésticos e aversão ao risco de curto prazo por parte dos países receptores e investidores.

Quadro global: assimetria de fluxos entre continentes

O relatório evidencia graves desequilíbrios regionais. O IED em economias desenvolvidas sofreu um tombo de 22%, com destaque negativo para a Europa, onde o recuo foi de 58%. A América do Norte, por outro lado, contrariou a tendência ao registrar um aumento de 23%, impulsionado pelos Estados Unidos.

A África teve alta de 75%, porém esse índice foi majoritariamente impactado por um grande projeto no Egito. Excluindo esse investimento isolado, o continente obteve aumento de 12%, favorecido por reformas regulatórias e medidas de facilitação de investimentos.

A Ásia continua sendo a principal receptora global de IED, apesar da queda de 3%. O destaque positivo ficou com os países do Sudeste Asiático, que registraram aumento de 10%, totalizando US$ 225 bilhões — o segundo maior volume da série histórica.

Estagnação em setores críticos para o desenvolvimento

A Unctad alerta que, em diversas economias, os fluxos de capital estão concentrados em setores especulativos, enquanto áreas estratégicas como infraestrutura, energia, tecnologia e indústria sofrem com estagnação ou abandono. Essa dinâmica compromete diretamente a geração de empregos, o avanço da capacidade produtiva e o alcance das metas de desenvolvimento sustentável.

Grynspan declarou que o mundo enfrenta crises simultâneas de conflito, clima e desigualdade, e que os investimentos não acompanham a urgência dessas demandas.

Estamos vendo infraestrutura que não é construída, empregos que não são criados e um atraso perigoso no desenvolvimento sustentável”, afirmou.

Perspectivas e implicações para o Brasil

O Brasil, como maior receptor de IED na América Latina, é diretamente impactado pela retração. A queda de 8% nos investimentos reforça a necessidade de revisão do ambiente regulatório, maior segurança jurídica, previsibilidade institucional e políticas públicas que atraiam capital produtivo para setores estruturantes.

O relatório da Unctad será debatido durante a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, evento que deverá reunir líderes globais com o objetivo de discutir soluções para a crescente lacuna entre financiamento e necessidades de desenvolvimento.

A ausência de uma estratégia coordenada de incentivo ao IED no Brasil pode comprometer não apenas o crescimento econômico de curto prazo, mas também a agenda de modernização tecnológica e infraestrutura, fatores indispensáveis à competitividade internacional.

Confira dados

1. Queda Global no Investimento Estrangeiro Direto (IED)

  • Queda global do IED: –11% em 2024 (segundo ano consecutivo de retração).

  • Fatores causadores:

    • Tensões geopolíticas

    • Barreiras comerciais

    • Regulações mais rígidas

    • Aversão a riscos de curto prazo

  • Cenário descrito pela UNCTAD: “mais volátil, seletivo e incerto”.

2. América Latina e Caribe

  • Queda regional no IED: –12%

  • Queda no Brasil (principal destino da região): –8%

3. Economias Desenvolvidas

  • Queda geral: –22%

  • Europa: –58%

  • América do Norte: +23% (alta puxada pelos Estados Unidos)

4. África

  • Crescimento do IED: +75% (impulsionado por megaprojeto no Egito)

  • Crescimento sem o Egito: +12%

  • Causas da alta: reformas regulatórias e políticas de facilitação de investimentos

5. Ásia

  • Variação geral do IED: –3%

  • Sudeste Asiático: +10% (US$ 225 bilhões, segundo maior nível já registrado)

6. Setores Estratégicos Estagnados

  • Setores com baixa atratividade de capital:

    • Infraestrutura

    • Energia

    • Tecnologia

    • Indústria

  • Consequências diretas:

    • Falta de geração de empregos

    • Infraestruturas não executadas

    • Risco ao desenvolvimento sustentável

7. Perspectivas e Agenda Internacional

  • Evento previsto: 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento

  • Objetivo: Rediscutir o fluxo de capitais em relação às necessidades globais de desenvolvimento

  • Proposta da UNCTAD: Reformar o sistema global de investimentos para apoiar o crescimento inclusivo e sustentável


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