O Museu de Arte da Bahia (MAB), a mais antiga instituição museológica de arte do estado, completa 107 anos de fundação com a inauguração de novos espaços expositivos e a adoção de um novo conceito curatorial, orientado por critérios de representatividade étnica, racial e de gênero. A programação de aniversário inclui a abertura da sala Curta MAB, dedicada a produções audiovisuais como documentários e curtas-metragens.
Vinculado à Secretaria de Cultura da Bahia (SecultBA) e gerido pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), o museu abriga cerca de 20 mil peças em seu acervo, entre pinturas, esculturas, porcelanas, mobiliário, fotografias, documentos e objetos diversos. O MAB passa a operar com um modelo expositivo que abandona a lógica colonial-aristocrática e propõe um diálogo direto com os públicos historicamente excluídos.
Nova abordagem museológica: inclusão e criticidade
A atual gestão do IPAC, sob direção de Marcelo Lemos, celebra o reposicionamento institucional do MAB como espaço de cultura acessível.
“Nosso compromisso é preservar a história e garantir às novas gerações um museu vivo, múltiplo, conectado com seu tempo”, afirmou Lemos.
Sob coordenação do diretor Pola Ribeiro, o museu avança em um projeto de ruptura com a exposição tradicionalista, que privilegiava elementos da elite do século XIX, como a coleção do ex-governador Góes Calmon. A proposta contemporânea enfatiza diversidade, justiça social e pluralidade de vozes.
A reconfiguração curatorial, iniciada após a suspensão das atividades presenciais durante a pandemia da Covid-19, contou com parceria com universidades públicas e com a criação de uma Comissão Curatorial de Acervo. Participam do grupo os professores Dilson Midlej, Alejandra Muñoz, Joseania Freitas, Lysie Reis, além de técnicas do MAB como Isabel Gouveia e Celene Sousa.
Exposições e ações educativas ganham novo protagonismo
Entre os destaques da nova fase, a mostra dedicada a Carybé inaugurou o processo de reaproximação entre o acervo e o público baiano, ao retratar imagens que refletem a identidade popular de Salvador. Em seguida, a exposição “Vitória, um Corredor de Histórias”, acompanhada de documentário, destacou a trajetória de trabalhadores do Corredor da Vitória, onde está localizado o museu.
Segundo a historiadora Camila Guerreiro, integrante da curadoria, o MAB “não pode ser apenas um espaço de contemplação da elite. Ele precisa refletir as múltiplas Bahias que nos constituem”.
Acervo e trajetória institucional
Fundado em 23 de julho de 1918, inicialmente como Museu do Estado, o MAB operava com perfil enciclopédico, reunindo coleções de etnologia, numismática e história. Sob a curadoria de Francisco Borges de Barros, consolidou-se como referência nacional. Em 1931, incorporou a Pinacoteca do Estado, com acervo do médico inglês Jonathas Abbott, incluindo obras da Escola Baiana de Pintura.
A sede atual, no Corredor da Vitória, data de 1982. Antes disso, o museu funcionou em espaços como o Solar Pacífico Pereira e o Palacete Góes Calmon. Hoje, além do acervo de 20 mil itens, o MAB mantém uma biblioteca com mais de 12 mil volumes, promove atividades educativas, exposições temporárias e ações de mediação cultural.
Destaques do acervo e curiosidades
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Porta histórica de 1674, reaproveitada do Solar João de Matos Aguiar, marca a entrada do museu e simboliza a preservação da memória arquitetônica de Salvador.
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A coleção “Riquezas do Brasil”, com cerca de 600 amostras de madeiras nacionais, reúne peças moldadas em formato de livros, organizada pelo médico e colecionador Antonio Berenguer.
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O “mocho de vendedeira”, ou tamborete de baiana, exposto na sala de mobiliário, representa a trajetória das ganhadeiras de Salvador e questiona os processos de musealização da cultura afro-brasileira.
Programação comemorativa
A agenda dos 107 anos do MAB inclui:
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Exposição de obras de Pierre Verger;
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Inauguração da Galeria Jardim, com mostra de Sergio Rabinovitz;
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Lançamento da exposição “Tradição e Invenção”, com ênfase em artistas negros e mulheres, reforçando a representatividade e diversidade do acervo.
O museu como projeto de nação
Para Camila Guerreiro, o MAB nasceu como parte de um esforço de construção simbólica da nação brasileira após a Proclamação da República. Ao reunir arte, documentos e objetos históricos, o museu preserva o que os governantes da época consideraram essencial à identidade nacional.
“Você vem ao MAB para descobrir o seu passado, mas também para pensar o seu projeto de presente e de futuro”, afirma a historiadora.
A nova fase reforça o papel do museu como espaço de memória viva, em constante diálogo com os desafios contemporâneos.
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